A entrevista desta semana é com o vereador Luan Alves, do MDB, filho do deputado estadual Clécio Alves (Republicanos), que está em seu primeiro mandato eletivo e já preside a comissão mais importante da Câmara de Goiânia, a CCJ. Ele faz parte da grande base do prefeito Sandro Mabel (UB), mas não o apoiou no primeiro turno da eleição, contrariando a orientação do seu partido. Ao que tudo indica, Luan pretende trazer pelo menos um pouco dessa autonomia para o mandato e já começa criticando medidas que a direção da Comurg vem tomando e cobrando clareza dos dirigentes.
O senhor participou da gestão passada e, agora como vereador, vem cobrando informações acerca das contas da Comurg. Na época que o senhor compunha a gestão da prefeitura, não tinha conhecimento sobre a situação da empresa pública?
Eu participei, sim, da gestão passada, como presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente, mas me descompatibilizei em abril de 2024, e de abril até o final do exercício, muita coisa se alterou e no início desta gestão também. Houve desligamentos e remanejamento de pessoal. A informação é a título dessas questões das quais eu não tenho conhecimento.
As irregularidades que estão vindo à tona os integrantes da gestão passada não tinham conhecimento?
O que acontece, e é uma das questões levantadas pelo prefeito Sandro Mabel: antigamente a Comurg media 3 milhões de metros de poda de grama e hoje se mede 1 milhão de metros com a mesma estrutura e com a mesma equipe. Os dados são incoerentes e o responsável por essas medições, o diretor Operacional Alzirio (Francisco Barbosa) continua na gestão do prefeito Sandro Mabel. Se houve irregularidades, foi cometida por uma pessoa que ainda continua. Ele pode não estar cometendo mais as irregularidades, mas é a mesma pessoa. Foi apontada a questão dos acordos (a Comurg afastou 31 empregados públicos efetivos e instaurou um processo para investigar acordos trabalhistas que resultaram no pagamento de valores desproporcionais a supostas diferenças salariais), que eu não tinha conhecimento e acho que poucas pessoas tiveram acesso a essas informações por ser uma questão muito interna. Mas ele (Alzirio) também teve um acordo homologado, recebeu cerca de R$ 100 mil, se não me engano, da mesma forma que os acordos que estão sendo questionados. Alguns servidores foram afastados e esse diretor não foi afastado, foi promovido.
Esses questionamentos do senhor já tiveram resposta por parte da prefeitura?
Não, inclusive é uma coisa complexa de se explicar. Por que se afasta 30 pessoas se são 60 acordos? E os demais? O que aconteceu? Qual foi a punição? Por que selecionaram alguns para afastamento? Eu não sei te falar.
Na sua opinião, qual a melhor solução para a Comurg? A reestruturação proposta pelo prefeito resolveria o problema?
Os ajustes que ele fez, a diminuição de cargos, isso eu vejo com bons olhos. Eu só cobro muito é a questão da transparência nessas atitudes. É justamente essas questões que foram elencadas. Apontam erros nos acordos, só que não investigam todos. Está tendo erro duas vezes, houve erro na hora de ser feito e está tendo erro agora na forma de apuração, porque vai ter que esperar uma próxima gestão para apurar os outros que não foram apurados. Essa falta de clareza na forma como está sendo operado que eu não concordo. Eu creio que deveria ser unânime; se está investigando uma irregularidade, por que os demais não estão sendo apurados também? Esse é meu questionamento.
O senhor teme que as mesmas práticas que levaram a Comurg à situação em que ela se encontra estejam sendo mantidas?
Não é isso. Mas na questão dos acordos, eles não estão sendo apurados em sua totalidade. São 60 acordos feitos da mesma forma, nos mesmos moldes, com os mesmos servidores, e só 30 acordos estão sendo investigados e apurados. Os outros estão corretos? Não sei. E ninguém pode responder se não forem apurados juntos também. Falam dos diretores e de pessoas que têm altos salários, inclusive essa pessoa que eu apontei (Alzirio) se encontra em todos os relatórios de altos salários. Falam dos aposentados que têm que ser demitidos, e a lista dos aposentados também inclui o nome desse diretor. São várias possíveis irregularidades apontadas por um servidor que está sendo mantido pela gestão.
O prefeito Sandro Mabel conta com o apoio de 27, podendo chegar a 29 vereadores. Isso não faz com que a Câmara seja uma espécie de extensão da prefeitura?
É complexo falar de uma base com esse número, foram levantados 29 e hoje se fala em 27, mas é preciso avaliar isso na tramitação de um projeto de grande repercussão, de grande discussão para dimensionar qual seria o número real. Eu mesmo tenho simpatia, ajudei o prefeito Sandro no segundo turno, faço parte do governo, me identifico como base, mas não sou base cega de tudo que será mandado, não será discutido, não será avaliado, nem será votado de qualquer forma. Como eu, creio que vários vereadores têm o mesmo entendimento. É difícil falar sobre outras pessoas, mas creio que um número grande não vai votar a favor só por ser base. Porque vários vereadores representam algum tipo de segmento da nossa cidade, e alguns projetos vão de encontro aos interesses de várias pessoas desse setor. O vereador Lucas Vergílio, por exemplo, faz parte do segmento dos seguros e as mudanças do código tributário ele vai querer discutir com uma atenção redobrada. São exemplos para você entender como é a dinâmica da Câmara. Tem fatores externos que influenciam a posição do vereador. Têm vereadores que são ligados ao mercado imobiliário e aquilo que interferir neste mercado vai ter questionamentos.
Desta reunião para apresentação do plano de reestruturação, apenas vereadores que apoiam Mabel participaram, além disso, a apresentação se deu no Paço, não na Câmara. Já não é uma demonstração de que a Câmara pode vir a assumir um papel de legitimador das ações de Mabel?
Não. O prefeito fez um convite para irmos ao Paço e eu não vejo assim. Eu sempre frequentei o Paço, independentemente de ser vereador ou não, tem 25 anos que frequento a estrutura, desde a época do Pedro Wilson. O vereador está em sintonia com o Paço a todo momento; toda hora nós temos demandas, e ali é uma extensão do nosso trabalho, a participação no Paço. Não vejo dificuldade em ir ao Paço ouvir, eu mesmo estive lá, ouvi e fui embora.
Não era um assunto para ser discutido na Câmara com todos os vereadores?
Seria um assunto para ser discutido na Câmara se fosse um projeto de lei. Mas uma apresentação de dados pode ser feita por uma ligação ou em qualquer local.
Depois desta reunião, Mabel admitiu que está tendo problemas com vereadores em razão da demora em atender pedido por cargos. Esse modelo de relação, baseada na troca de apoio por cargos, e que sempre se deu entre legislativo e executivo, não compromete a independência da câmara, na sua opinião?
Isso é muito relativo. Há vereadores que já têm indicações no Paço e vereadores que não; eu, por exemplo, não tenho nenhuma indicação no Paço, e nada me impede de ajudar. O projeto do Refis, por exemplo. Fiz a convocação da Comissão de Constituição e Justiça de maneira extraordinária, justamente para dar celeridade e ajudar; votei no Refis sem dificuldade, mesmo não tendo nenhuma indicação no Paço.
Vai buscar ter espaço na Prefeitura?
Hoje eu não tenho interesse.
Para se manter independente?
Não, porque não vejo uma participação no governo que eu iria contribuir. E indicação por indicação eu tenho o meu gabinete, que já tem uma estrutura onde consigo agasalhar as pessoas importantes.
Como avalia a relação da Câmara com o Executivo?
Está muito no início, mas é uma relação amistosa e de confiança com o prefeito; uma relação que eu vejo com bons olhos. Eu ainda não vi nenhum tipo de atrito que possa atrapalhar essa relação Câmara e prefeitura para que ela se torne turbulenta ou não amistosa. Vejo uma relação de confiança de ambos os lados.
Sobre a eventual presença ou ausência do prefeito na prestação de contas, qual a sua opinião?
Não teve ausência ainda, porque não teve a prestação de contas. Eu acho que o prefeito Sandro vai reavaliar isso, conversando com os seus auxiliares e as pessoas vão aconselhá-lo a ir. Eu não vejo dificuldade nenhuma dele participar de uma apresentação de contas da qual ele não é o responsável, só vai é transmitir informação, e qualquer questionamento sobre aquele dado ele não tem responsabilidade. Não vejo dificuldade dele ir à Câmara e acho que ele que ele irá, sim.
Além do Refis, que foi aprovado, quais os projetos do executivo a CCJ analisa no momento?
Do Paço não tem nenhum. O único projeto que chegou na Câmara, não é nem na CCJ, foi o Refis. Estão falando, nos bastidores, de alguns projetos, mas ainda não fui informado de nenhum. O prefeito tem falado que vai buscar isso no segundo semestre.
Como avalia a articulação da secretária de Governo, Sabrina Garcez?
Eu tenho uma boa relação com a Sabrina, é uma pessoa que tem conhecimento da Casa, foi vereadora por dois mandatos. É uma pessoa com quem eu tenho uma relação de amizade também. Eu vejo que ela tem aprendido muito como secretária de Governo, uma função que ela não tinha a experiência, mas creio que ela está conduzindo bem.
O senhor é considerado um político ligado ao meio ambiente, mas tem trabalhado para reduzir o tempo para liberação de licenças ambientais. Isso não é contraditório?
Não, porque o tempo que queremos que seja reduzido é justamente de projetos de pequenos eventos que causam pequenos impactos. E não é reduzir o tempo do licenciamento, é dar celeridade para aquela pessoa que vai fazer um evento de aniversário, por exemplo, e que não tiraria a licença devido à burocracia. A prefeitura passaria a arrecadar e ter informações sobre o que acontece na cidade. Eventos assim acontecem de todo jeito, mas sem arrecadar e sem a prefeitura ficar sabendo.
Qual seria a função do Departamento Municipal de Estudo, Monitoramento e Licenciamento dos Impactos da Urbanização sobre a Fauna, que o senhor propõe criar?
O que acontece hoje: nós temos várias áreas remanescentes na cidade nas quais são construídas empresas de grande porte, como também loteamentos, e não há um estudo complexo sobre a fauna, e nós temos uma fauna densa na nossa cidade. O estudo é justamente para poder entender essa questão, entender os impactos e mitigá-los da melhor forma possível. Nós temos muitos macaquinhos, muitos pássaros, nos parques nós convivemos com vários tipos de animais, e só é possível ter esses levantamentos, ter esses dados, fazendo esse monitoramento.
Seu pai, o deputado Clécio Alves, participa de seu mandato, dá opinião, te orienta?
Meu pai é o maior conselheiro que eu tenho, tem uma experiência muito grande, inclusive no parlamento goianiense, foi vereador por seis mandatos seguidos, desde o ano 2000. Saiu há três anos para assumir o mandato de deputado estadual e tem um conhecimento vasto sobre a Câmara. Eu sempre reporto a ele, peço conselhos e orientações. É um dos meus espelhos políticos.
Quais são suas prioridades para o mandato?
São duas coisas em que eu me pauto muito: o meio ambiente, é um sonho meu poder contribuir com essa legislação ambiental, que Goiânia hoje não tem; e contribuir com a região que represento, que é a região Oeste, com trabalho, obras e emendas impositivas.
Que legado você gostaria de deixar ao final do seu mandato como vereador?
Se eu conseguir realizar a aprovação do nosso Código Ambiental, vai ser um legado para deixar para nossa cidade, porque Goiânia não possui uma legislação ambiental específica.
O senhor já pensa em disputar outro cargo político no futuro?
Não. Eu vou terminar o meu mandato de quatro anos e, podendo, ter uma reeleição, se a população achar pertinente, eu quero disputar mais uma vez o mandato de vereador, mas não planejo nenhum cargo em 2026. Em 2026, o meu projeto é eleger o deputado Clécio Alves, meu pai, deputado estadual, e o meu presidente estadual, Daniel Vilela, governador do nosso estado.
O MDB se tornou o maior partido da casa, tem o líder do governo e preside a comissão mais importante. A que o senhor atribui esse momento de fortalecimento do MDB?
E a primeira vice-presidência também, com o vereador Anselmo Pereira. Ocupa os maiores espaços de destaque na Câmara Municipal de Goiânia, a Vice-Governadoria e tem uma bancada muito grande na Assembleia. Esse desenvolvimento é uma construção que nosso presidente já faz ao longo dos anos, e creio que a partir do ano que vem esse fortalecimento será maior, quando Daniel se tornar governador, em abril.
Mas qual foi a virada de chave que levou a esse fortalecimento?
Na Câmara, o MDB sempre foi muito forte, mas o partido se fortaleceu com duas pessoas, o Iris Rezende, que sempre trabalhou muito pelo fortalecimento do MDB, e agora com Daniel Vilela, que tem feito esse trabalho com maestria, junto com o ex-presidente Agenor Mariano, que soube fazer uma chapa sensacional e teve um sucesso muito grande nas eleições municipais.
No passado, o senhor foi envolvido em uma operação policial que investigava irregularidades na Amma e foram encontradas armas em sua casa. O senhor coleciona armas? Tem licença de colecionador?
Eu sou colecionador, tenho vários tipos de armas em casa, todas devidamente licenciadas e autorizadas pelo Exército brasileiro e pela Polícia Federal. Eu gosto de praticar tiro esportivo há muitos anos, desde 2018. Sou um atirador esportivo e faço essa prática, tudo devidamente autorizado pelos órgãos competentes.