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Mabel aponta R$ 705 milhões em caixa com discurso de calamidade

Mesmo com redução de despesas e receitas em alta, prefeito mantém narrativa de crise, contrariando dados oficiais e órgãos de controle


Lucas de Godoi Por Lucas de Godoi em 29/05/2025 - 09:11

Mabel apresenta R$ 705 milhões em caixa, mas mantém discurso de calamidade; oposição contesta
Prefeito repete dívidas deixadas pela gestão anterior e diz que vai continuar governando com "espírito de calamidade"

A Prefeitura de Goiânia encerrou o primeiro quadrimestre de 2025 com mais de R$ 705 milhões em caixa, segundo dados oficiais que são detalhados na prestação de contas do prefeito Sandro Mabel (UB), nesta quinta-feira (29). O resultado primário do exercício até abril foi de R$ 705.548.582, o que contrasta com o discurso do prefeito, que voltou a defender a existência de um cenário de calamidade financeira na capital.

A posição de Mabel confronta diretamente o entendimento do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO), que já se manifestou de forma contrária ao reconhecimento de estado de calamidade. Ainda assim, o prefeito insistiu:

“A questão da calamidade financeira, para nós, se a Assembleia vai dar ou não, se o Tribunal de Contas vai dar ou não, não importa. A gente toca a cidade com calamidade — o espírito de calamidade”, disse, ao mencionar corte de gastos. Ele deu como exemplo de redução de R$ 8 milhões para a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) que, segundo ele, eram usados em fraudes com fornecedores.

“Nós pegamos uma cidade com quatro bilhões de reais em dívida. É praticamente impossível você assumir uma cidade desse jeito.”, afirmou para sustentar cenário de calamidade. “A calamidade é um instrumento para demonstrar para o fornecedor, para a cidade, para fazer negociações de dívidas que ficaram para trás, para ter acesso a alguns recursos dentro do Sistema Único de Saúde”, defendeu ao mencionar recursos angariados em Brasília.

Receita em alta

A receita total arrecadada no primeiro quadrimestre de 2025 foi de R$ 3,49 bilhões, o que representa um crescimento nominal de 14,25% em relação ao mesmo período de 2024. Descontada a inflação acumulada no período (IPCA de 5,53%), o aumento real foi de 8,27%.

Além do superávit primário, os números revelam crescimento nas receitas com impostos e taxas, mesmo com a inflação projetada de 5,53% (IPCA) para 2025. Destaque para arrecadações relevantes como IPTU, que colocou no Tesouro R$ 662 milhões, seguido pelo ISS que bateu R$ 483 milhões. A fatia do IRRF ficou em R$ 243 milhões e a arrecadação de ITBI foi de R$ 115 milhões, além de R$ 69 milhões de taxas diversas.

Na área dos investimentos obrigatórios, a aplicação em Educação ficou em 15,23%, abaixo do mínimo consitucional a ser investido, de 25%. Já na área da Saúde, foram investidos 19,02%, diante do limite de 15%.

Segundo o prefeito, houve redução de despesas na ordem de R$ 600 milhões. Nos dados oficiais, a redução total nas despesas é de 7,47%, com destaque para a queda de investimentos de R$ 62,68%. No caso das despesas correntes, a economia foi mais tímida, de 4,31%.

Economia com pessoal

Outro dado apresentado foi a redução no comprometimento da Receita Corrente Líquida com gastos de pessoal, que caiu para 44,48% no primeiro quadrimestre deste ano. No terceiro trimestre de 2024, o percentual era de 48,55%, ainda abaixo do limite prudencial estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Cortar investimento com pessoal faz parte da estratégia da administração em diminuir índices fiscais para aumentar indicadores de saúde financeira. Além disso, a gestão também tem mudado a classificação de despesas para investimentos, por meio de decretos e até aprovação legislativa para criação de rubrica de capital.

Discurso fica

Apesar dos dados positivos, o discurso do “espírito de calamidade” foi rejeitado pelo presidente da Comissão Mista da Câmara, vereador Cabo Senna (PRD). “Na gestão passada, tínhamos R$ 8 bilhões e alguma coisa. Este ano, a arrecadação chega a R$ 10,6 bilhões. Isso mostra um crescimento. Com os dados em mãos, repito o que disse na tribuna: não existe calamidade financeira em Goiânia”, afirmou em entrevista nesta manhã.

Vereadores de oposição também repercutiram, durante a semana, negativa do Tribunal de Contas de reconhecer que haja calamidade financeira e devem contestar o prefeito durante a prestação de contas, que deve terminar só após o meio-dia.

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