A prisão de dois funcionários da Maternidade Célia Câmara, em Goiânia, durante uma confusão envolvendo o atendimento de uma gestante, tem ganhado repercussão nacional. O caso ocorreu na última sexta-feira (6), quando uma enfermeira e um maqueiro foram detidos pela Polícia Militar de Goiás (PM-GO) por desobediência e resistência. Vídeos gravados por testemunhas mostram o momento da abordagem policial, que incluiu o uso de força, gerando indignação entre profissionais da saúde e entidades representativas.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde-GO), o incidente começou após o marido de uma gestante, classificada como caso de menor gravidade, exigir atendimento prioritário. A Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), responsável pela gestão da unidade, confirmou que os profissionais seguiram os protocolos de triagem de risco. No entanto, a situação escalou, culminando na prisão da enfermeira Fabiana Ribeiro e do maqueiro Valteir Santos. Fabiana assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por desobediência, enquanto Valteir pagou fiança de R$ 1.412 para ser liberado.
A repercussão do caso levou o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) a emitir uma nota de repúdio, classificando a abordagem policial como desproporcional e anunciando medidas jurídicas em defesa dos profissionais. A Polícia Militar justificou a ação alegando resistência por parte dos trabalhadores e uma suposta omissão de socorro. Enquanto isso, as imagens e os desdobramentos do episódio continuam gerando debates sobre o respeito aos protocolos de saúde e os limites da atuação policial em unidades hospitalares.
Nota da PM-GO na íntegra
A Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO) informa que, na última sexta-feira (6), foi acionada para atender uma ocorrência no Hospital Municipal da Mulher e Maternidade Célia Câmara, em Goiânia, relacionada a um possível caso de omissão de socorro envolvendo uma gestante que apresentava sinais de mal-estar.
Durante o atendimento, a equipe policial enfrentou resistência de alguns servidores do hospital, que se recusaram a fornecer informações essenciais para o registro dos fatos, comprometendo o andamento regular da ocorrência. Tal conduta exigiu medidas adicionais por parte dos policiais para assegurar o cumprimento das determinações legais e o restabelecimento da ordem.
Diante da recusa reiterada, dois servidores foram detidos pelos crimes de desobediência e resistência, sendo conduzidos à Central Geral de Flagrantes. O transporte foi realizado em veículo institucional do hospital, sob a supervisão da equipe policial. Na delegacia, a autoridade competente analisou os depoimentos das testemunhas e os fatos apresentados, culminando na lavratura de um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e em uma prisão em flagrante, com o devido encaminhamento às medidas legais cabíveis.
Ressalta-se que a gestante foi prontamente conduzida à sala de cirurgia, onde outro médico da unidade realizou o parto, resultando no nascimento de uma menina em segurança, garantindo a integridade da mãe e da criança.
A Polícia Militar reafirma seu compromisso com a transparência, a legalidade e a eficiência de suas ações. Para tanto, foi instaurado um procedimento apuratório que buscará esclarecer todas as circunstâncias relacionadas aos fatos ocorridos.
Íntegra da nota da Fundahc/UFG
O Hospital Municipal da Mulher e Maternidade Célia Câmara (HMMCC) esclarece que segue rigoroso protocolo de Classificação de Risco, prestando assistência às pacientes de acordo com a urgência que cada caso exige.
A paciente citada tentou ser atendida em desacordo com o protocolo, exigindo passar à frente de outras mulheres, situação que não foi permitida pela equipe.
O HMMCC lamenta a conduta ofensiva da Polícia Militar com os profissionais que seguiam as diretrizes da assistência eficaz, respeitosa e segura, e informa que a Fundahc/UFG, gestora da unidade, acionou uma advogada criminalista para conduzir a situação.
Mesmo com a triste circunstância, o hospital mantém o atendimento às pacientes que procuram a Emergência da unidade. O cuidado com a saúde da população não pode parar.
Íntegra da nota do Sindsaúde-GO
O Sindsaúde-GO manifesta sua perplexidade e indignação diante das cenas de violência e abuso de autoridade registradas nesta sexta-feira (6), na Maternidade Célia Câmara, em Goiânia, onde dois trabalhadores da saúde foram presos de forma truculenta durante a troca de plantão. As imagens chocantes retratam uma situação inadmissível e inaceitável, especialmente em um contexto no qual os profissionais da saúde já enfrentam sobrecarga de trabalho, atrasos salariais, condições precárias de atendimento e a constante falta de insumos e segurança.