A maternidade deixou de ser um entrave definitivo na carreira científica para mães pesquisadoras. Com novas políticas públicas voltadas à equidade de gênero, o Governo de Goiás tem promovido ações concretas para garantir que pesquisadoras possam conciliar cuidado com os filhos e atuação profissional de forma digna e sustentável.
Desde 2024, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), o Estado investiu mais de R$ 2,5 milhões em projetos científicos e empreendimentos liderados por mulheres nas áreas de Ciências Exatas, Engenharias, Computação e Matemática (STEM). O apoio chegou a 31 pesquisas, 30 negócios inovadores e 57 iniciativas de transformação de ideias em empresas reais.
Editais como o Goianas na Ciência e Inovação – Mulheres em STEM têm ampliado a presença feminina em áreas historicamente dominadas por homens. As iniciativas contempladas envolvem desde turbinas eólicas otimizadas até o uso de inteligência artificial na produção de mudas e tecnologias para detecção de bactérias resistentes a antibióticos — soluções com forte impacto científico e social.
Licença-maternidade: avanço inédito no apoio às cientistas
Um marco importante é a resolução da Fapeg que garante licença-maternidade para bolsistas. A medida permite a prorrogação de até 120 dias nos prazos de bolsas de formação (graduação, mestrado e doutorado) e de projetos de pesquisa, extensão e inovação com duração mínima de 12 meses.
A bióloga Amanda Alves de Melo Ximenes, doutoranda em genética na Universidade Federal de Goiás (UFG), foi uma das primeiras beneficiadas. “A licença permite que a mulher viva esse momento especial sem pressão por produção acadêmica imediata, o que faz toda a diferença”, afirma Amanda, que pôde se dedicar com tranquilidade à filha Marina nos primeiros meses de vida.
Desafios persistem
Apesar dos avanços, o sistema acadêmico ainda apresenta barreiras. A pesquisadora Karla Maria Longo, vencedora do Prêmio Goiano de Ciência, Tecnologia e Inovação, relata que a ausência de políticas estruturadas no passado levou muitas colegas a adiarem ou desistirem da maternidade. “Conciliar produção científica com a criação de filhos exigia uma resiliência quase sobre-humana. Isso cobrava um preço alto: saúde mental, vida pessoal, equilíbrio familiar.”
Para Karla, as novas políticas sinalizam um caminho mais justo e possível para futuras gerações de cientistas. “O apoio institucional muda tudo. Dá às mulheres a chance de não precisarem escolher entre a ciência e a maternidade”, destaca.
Ambiente de acolhimento
A gerente de Inovação da Fapeg, Polyana Borges Mendonça, reforça a importância de uma cultura organizacional empática. Mãe e profissional, ela reconhece o impacto de um ambiente institucional acolhedor. “Conciliar reuniões e demandas com noites mal dormidas e a rotina com uma criança pequena é difícil, mas se torna viável quando há apoio e compreensão.”
O fortalecimento de políticas públicas voltadas à equidade de gênero, segundo ela, transforma não apenas o cenário científico, mas também a estrutura social, ao reconhecer o papel das mulheres como protagonistas da inovação sem abrir mão da maternidade.