Vocês não estão entendendo: o povo torce, distorce e dá nó nos sentidos. Quando quer, nada segura. Quando não quer, apaga vulcão. Povo não tem razão nenhuma. Por isso, não tem nenhuma razão que o segure. Na emoção ele ainda morde isca. Mas a isca precisa ser guloseima de vó, iguaria cozida no terço.
Vejo campanhas entrarem em desespero porque de uma hora pra outra o povo começa a achar defeito onde nunca viu. Se um administrador vai bem e tem imagem sólida, não adianta adversário botar defeito porque vira virtude. Uma coisa de louco. Lula roubou? Roubou meu coração. Maluf rouba? Rouba mas faz.
Perceber o comportamento é fator de corte para tentar mudar o comportamento do eleitor. Estratégia bem montada tem isso: sabe o que está fazendo e onde quer chegar. A chance de errar e não dar certo cai. Isso é a campanha fazendo a sua parte pra Deus poder operar o milagre. É o cidadão jogando na loteria e pedindo a unção dos números sorteados.
Quer dizer muito, isso. Não tudo porque povo pode encasquetar que o prefeito ou o governador que tem 80% de aprovação cometeu crime contra sua confiança ao apoiar Lula e não Bolsonaro, ou vice-versa. Aquela viagem à Grécia no meio da campanha não muda nada? Sim. Ou não. O povo sempre surpreende quando pende pra um lado.
As justificativas e explicações vem e vão sem a menor cerimônia. Eu quero votar em Fulano porque ele é daqui. Ponto. Eu não voto de jeito nenhum em gente daqui porque todos roubam. Quem não viu isso no interior, principalmente? Um prefeito vira problema porque é paraquedista. Isso numa cidade onde raro é um prefeito que nasceu no lugar. Não tem lógica. Tem povo.
Lembro de uma eleição em um município pequeno próximo a Goiânia. No sábado da véspera da votação, uma carreata amarrou a cidade de ponta a ponta. Todo mundo foi. Todo mundo viu que ninguém faltou. Domingo à noite, o resultado: derrota. Do dia pra noite, o mesmo povo decidido, desdecidiu, por convencimento argumentativo ou por persuasão pecuniária. Ou porque quis. Voto é de quem?
E pergunte ao povo do lugar: o fato só mostrou que quem perdeu era fraco, não deu conta nem de comprar voto. Povo satisfeito. A gestão? Outra história. Povo não é bobo, povo não é burro, povo dá asas a cobras. Povo não dá satisfação, voto não é povo satisfeito. Voto é povo iludido e povo decidido, não necessariamente nesta ordem, nem na mesma eleição. O povo é engraçado. Político corre atrás, povo corre atrás de político, e quem sabe das coisas, vai levando.
Mais iludidos são aqueles que acreditam saber como conduzir o povo. Iris Rezende é exemplo de quem sempre soube ouvir as pessoas individualmente ou em grupo. Nem assim foi infalível. Mas foi a atenção ao que o povo queria dizer que o fez voltar ao jogo quando tudo parecia ter acabado, após derrotas de 1998 e 2002. Ele nunca culpou o povo. Nem a si próprio. Guiou-se. Povo não tem solução. Povo não é solução. Povo é a política nas urnas. Nas duas.