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Artigo | A crise afetiva


Por Redação em 09/10/2018 - 00:00

Jorge Antônio Monteiro de Lima

“…Quem já passou por essa vida e não viveu/

Pode ser mais, mas sabe menos do que eu

Porque a vida só se dá pra quem se deu/

Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem

sofreu”…

Vinícius de Moraes

Crise afetiva é um termo que coloquialmente utilizamos para delimitar uma área distinta de nossa psique. Filosoficamente vivemos em crise: dos amores que não vivemos ao futuro inexato que não nos pertence. Na tentativa eterna de ter segurança diante dos segredos do sentimento alheio. Ter dúvidas, pensamento de fracasso, medo de perder, certa dose de ciúmes, carência… tudo em boa dose faz parte do trato psicológico do ser humano, que, quando reflete, questiona seus rumos.

As crises afetivas em grau patológico, por sua, vez são bem mais complexas e destrutivas. Potencializam tudo descrito anteriormente gerando inúmeros problemas psicológicos, psiquiátricos, como a depressão. Potencializam patologias físicas, como alergias ou gastrite.

Os problemas psicológicos e físicos de uma crise afetiva mal elaborada podem comprometer o potencial labor ativo, a vontade de crescer, o autocuidado. Quantas pessoas você já não viu se largando, vivenciando revolta, mágoa, passando o resto da vida praguejando outra pessoa com quem teve uma história?

“Os problemas psicológicos e físicos de uma crise afetiva mal elaborada podem comprometer o potencial labor ativo, a vontade de crescer, o autocuidado”

As crises afetivas são democráticas em nossa existência. Por vezes não há como evitar que ocorram. Porém, como administramos sua consequência é o que podemos desenvolver. Aprender a entrar e a sair de relacionamentos. Muitas pessoas, após um problema afetivo, abandonam a existência; outros jamais se permitem viver novamente, para não falar dos que cometem os mesmos erros sucessivamente, apenas trocando o nome e o endereço da encrenca escolhida.

Nestes anos, em minha prática profissional, o fator que mais impressiona é a capacidade autodestrutiva, o autoboicote presente em algumas pessoas, que persistem em relacionamentos fracassados e destrutivos, que não têm respeito, companheirismo. Relacionamentos que são agressão e covardia, competição e raiva.

Há quem ame a pancada… sentindo falta quando o xingo não ocorre.

Jorge A. Monteiro de Lima é analista, pesquisador
em saúde mental, psicólogo
clínico e mestre em Antropologia
pela UFG.
Foto: Divulgação

Por outro lado, o desânimo, apatia, falta de interesse, ficar fechado demais, parar de sair, parar de se cuidar são alguns componentes presentes nas crises afetivas. Várias pessoas, alegando que não têm mais tempo, nem disposição para tentar encontrar um relacionamento sadio.

Hoje várias crises existentes derivam do egoísmo no qual compartilhar inexiste. E a vida afetiva não permanece em solidão. Falta companheirismo e diálogo. Paciência e doação. Reflexão e autoconhecimento são vitais para a construção de uma boa vida afetiva, aprendendo a administrar conflitos e as crises que ocorrem.

Aprender a viver as crises inevitáveis sem se destruir e seguir a jornada…

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