Chamou atenção do mundo, documento divulgado no mês de outubro pelo Fundo Malala. A organização criada em 2012, inspirada na menina paquistanesa Malala Yousafzai, luta pela educação e inclusão de mulheres na sociedade. O documento alerta para o fato de que cerca de 1 bilhão de meninas e mulheres de até 24 anos não tem acesso ao aprendizado de habilidades básicas para o mercado profissional. O percentual chega a 65% deste público.
O relatório listou quatro habilidades necessárias para que a jovem consiga se inserir no mercado de trabalho. São elas as habilidades digitais básicas, as digitais genéricas, as do século 21 e as de alto nível. São orientações que vão desde atividades simples como acessar a internet, saber interagir no mundo digital, se comunicar, criar páginas até o empoderamento por meio do empreendedorismo e da transformação social. São orientações básicas que faltam a quem pretende ocupar um posto no mercado de trabalho.
No Brasil, já são mais de 3,5 milhões de jovens sem emprego, o que representa 28% no panorama de desempregados do país, o percentual é ainda maior na faixa-etária de 14 a 17 anos. O número é alarmante, uma vez que além da dificuldade de se colocar no mercado de trabalho, a juventude sofre, como mostra o relatório, também com escassez de investimentos em políticas públicas de educação e capacitação.
Trata-se de uma realidade que nós temos trabalhado dia-a-dia à frente da superintendência da Rede Pró-Aprendiz no Brasil e da Liga Íbero-Americana de Organizações da Sociedade Civil, que agrupa 31 organizações representantes de 18 países Ibero-americanos.
A Rede Pró-Aprendiz tem trabalhado arduamente para ajudar jovens a chegarem ao mercado de trabalho com o mínimo desses conhecimentos. E temos conseguido. Já atendemos cerca de 200 mil jovens, a maioria meninas, em parceria com mais de 1300 empresas brasileiras. Mas o caminho é longo. Precisamos avançar na ampliação de programas como o Jovem Cidadão, em Goiás, Jovem Candango, no DF e demais programas em outros estados brasileiros.
O programa de aprendizagem Rede Pró-Aprendiz, liderado pela Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi) traz uma alternativa inovadora de fortalecimento e desenvolvimento socioeconômico, por meio da inserção de jovens no mercado de trabalho a partir de programas de aprendizagem e qualificação. As parcerias com o poder público e organizações sociais potencializam as ações que compõe a política pública para a juventude no Brasil e ajudam a suprir às demandas de inclusão social entre os mais jovens.
Em seu relatório, o Fundo Malala enfatiza que não investir na educação deste público é impedir o progresso econômico global e o desenvolvimento sustentável e fez recomendações ao G20, grupo de países mais ricos do mundo. Foram sugeridas ações como aumentar o orçamento para a educação em países em desenvolvimento e lançar iniciativas novas. O G-20 se reunirá em Buenos Aires, na Argentina de 19 a 23 de novembro.
Enquanto integrante do C-20, espaço no qual as organizações da sociedade civil estão contribuindo com G20, tenho acompanhado, debatido e até moderado discussões para esse próximo encontro mundial. O C-20 é um importante espaço de discussão criado para garantir que os líderes mundiais escutem nossas propostas e demandas para a juventude dos países em desenvolvimento, especialmente da América Latina.
A capacitação e atualização profissional e contínua, desenvolvimento local sustentável para a promoção do trabalho, fortalecimento da seguridade social, acesso inclusão e permanência na escola, acompanhamento da trajetória educativa, financiamento à educação de qualidade e justiça educativa são temas que vem sendo tratados nestes encontros pelo mundo e precisam ser, de fato, inseridos nas políticas públicas governamentais para tirar os nossos jovens da zona de perigo.
É preciso que os líderes mundiais não apenas ouçam e acolham as propostas deliberadas nestes nobres espaços de discussão. É urgente que saiam da retórica e coloquem em prática, por exemplo, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que já completa quase duas décadas de espera. O investimento nas políticas públicas para a juventude é uma questão de sobrevivência não apenas para os jovens, mas para o mundo todo.
Valdinei Valério é mestre em Ciências Sociais, superintendente da Rede Pró-Aprendiz e coordenador do Grupo de Trabalho para o G-20-2018