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“Fui candidata por indignação por Mineiros estar há 21 anos sem representante na Alego”


Avatar Por Redação Tribuna do Planalto em 13/03/2023 - 16:50

Rosângela Rezende (Agir), eleita para o seu primeiro mandato como deputada estadual, é filha de políticos tradicionais de Mineiros, do ex-governador Agenor Rezende e de Laci Machado, que foi prefeita da cidade. Antes dela, o pai exerceu dois mandatos como deputado estadual e também foi prefeito de Mineiros. Formada em odontologia, Rosângela foi secretária de Saúde do município por 12 anos durante as gestões do pai e da mãe na prefeitura; teve cargos no Conselho Municipal de Secretarias Municipais de Saúde e no Conselho Nacional de Secretarias de Saúde, do Ministério da Saúde. Em 2018, disputou pela primeira vez a eleição para deputada estadual, ficando como primeira suplente. Saiu candidata "obrigada" porque não havia outro nome para a disputa na região. Agora, em 2022, ela mesma decidiu sair candidata e foi eleita. Apesar de ser da área da saúde, definiu como suas prioridades na Assembleia Legislativa as áreas de Infraestrutura e Meio Ambiente.

TRIBUNA DO PLANALTO – O que levou a senhora a disputar uma vaga de deputada estadual?

Rosângela Rezende – Na verdade, foi um pouco por indignação por Mineiros estar há 21 anos sem representação no parlamento do estadual. Minha trajetória política foi sempre ligada ao meu pai, ele é o político nato da casa. Eu tenho uma vivência de 40 anos na política, mas jamais pretendi  concorrer a cargos eletivos. Meu pai foi deputado em um momento em que Mineiros era uma cidade pequena e havia, além dele, a deputada Cleuzita Assis. Depois, a cidade elegeu suplentes.Como uma cidade que cresceu bastante, como Mineiros, fica sem representação parlamentar, considerando especialmente que Mineiros é muito distante da região metropolitana.Em razão disso, a condição da infraestrutura e logística da nossa região fica esquecida pelo estado. Porque se não tem alguém cobrando, vai deixando para depois e “acudindo” aquilo que está pegando fogo. Para falar a  verdade, isso me deu raiva e eu fui candidata por estarmos há tanto tempo sem representação e homens e mulheres que gostam de política não terem se lançado. Em 2018, eu praticamente fui obrigada a sair candidata. Eu jamais pensei em mexer com política eleitoral na minha vida, até por questões familiares. A política desgasta bastante a família. Agora, em  2022, eu que quis, motivada com esse gás de contrariedade. Quando eu cheguei na Alego, eu fiquei mais contrariada: por que não estávamos aqui há tanto tempo? É  uma instância de representação muito forte, que oferece muitas oportunidades e informações para que a gente possa desenvolver a nossa região. Eu falo região porque meu foco realmente é a região por causa desse interstício de 21 anos. Sou uma deputada do Estado de Goiás, tem várias causas nossas que vão impactar todo o estado. Sou presidente da Comissão do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, o que está me motivando muito porque é um grande desafio, já que eu sou da área da saúde e atuo na área da logística, das estradas. Mas espero colher muitos frutos, contribuir bastante. 

A cidade de Mineiros fica no Sudoeste goiano, uma região predominantemente agrícola, e a questão ambiental mantém uma contradição muito grande com o nosso modelo de produção agrícola. Como que a senhora vai conciliar as demandas da sua região, voltadas para atender o agronegócio, e as exigências ambientais?

Nossa atuação vai ser no sentido de buscar um desenvolvimento sustentável de forma educativa. Eu acredito muito que qualquer empreendedor da nossa região pode até errar, mas por desconhecimento. Por meio das grandes feiras de agronegócio realizadas podemos levar conhecimento. Agora em abril, por exemplo, vamos levar o delegado do Meio Ambiente da Polícia Federal de Goiás, Sandro Paes, para que ele possa explicar o que é crime ambiental: não preservar a mata ciliar, por exemplo. Porque uma das situações mais graves é a questão das nascentes e das matas ciliares. Ele vai sinalizar os principais crimes ambientais da região para os produtores dentro de uma feira de agronegócio e uma outra pessoa vai apresentar um painel sobre a fragilidade do cerrado. Vamos tentar implementar políticas e incentivar, motivar e capacitar secretários de Meio Ambiente municipais e também vereadores das comissões de Meio Ambiente – é obrigatório ter Comissão de Meio Ambiente em todo o município – de forma continuada para sensibilizar os prefeitos. Pretendo apresentar uma proposta parlamentar sobre o tratamento do resíduo sólido para impedir que esse lixo vá parar na zona rural. Vamos promover, educar e intervir. Intervir não indo contra o produtor, de maneira alguma, porque isso é função de polícia ambiental, não da comissão. Além de participar de projetos, como a  Virada Ambiental, de plantio de árvores. Mas nossa maior preocupação é a questão das águas porque o cerrado é a caixa d’água do país, por ser esponjoso, e esse  aquífero é o pulmão das nascentes. Se não preservarmos o cerrado, um ecossistema tão vulnerável, vamos comprometer todo o país mesmo, as nascentes dos grandes rios, como o rio Araguaia, que nasce em Mineiros. Na parte baixa do Araguaia, o rio já está bastante assoreado, mas não é a mata ciliar do Araguaia, são os afluentes que deságuam no Araguaia, fazendo todo esse assoreamento, levando areia que saíram das grandes plantações, de lavouras que não têm um trabalho de manejo correto. Eu estou muito empenhada, animada e motivada a buscar parcerias e fazer um trabalho para preservar o cerrado. Estive na Secretaria de Meio Ambiente, onde falei com a secretária Andrea Vulcanis, e acredito que vamos construir bastantes parcerias através da Secretaria Estadual de Meio Ambiente porque ela já tem um desenho dos principais problemas.

A senhora esteve em Brasília em uma audiência com o ministro dos Transportes, Renan Filho, para falar sobre o projeto de duplicação da BR-364, no trecho de Jataí (GO) a Rondonópolis (MT). Esse é o principal gargalo logístico da região?

Precisamos implantar um sistema que tem uma palavra muito chique, intermodalidade, que envolve os terminais multimodais da Ferronorte, em Rondonópolis, e a Ferrovia Norte-Sul, em Rio Verde, que já está recebendo produção. Como pode uma região extremamente produtiva não ter rodovia estadual asfaltada e uma rodovia federal que não está duplicada? É um subdesenvolvimento entre Rondonópolis e Jataí. Aquela produção não consegue chegar de forma adequada e em tempo hábil, sem destruir, sem óbito, sem atrapalhar o desenvolvimento para ser escoada por meio dessa intermodalidade entre ferrovia e rodovia. Criamos, então, uma frente parlamentar para buscar, a partir de um trabalho suprapartidário, tentar  mudar a política pública de desenvolvimento daquela região. Anteriormente, havia o projeto de duplicação, que foi interrompido por um outro governo. Tem essas mudanças de governo, mudança de planejamento por questões políticas e financeiras, mas isso é passado não nos cabe agora analisar. Mas para o futuro, o que a região deseja, os políticos, os empresários e os moradores desejam é a duplicação. Não queremos uma terceira faixa. Nessa audiência com o ministro conseguimos demonstrar bem e sensibilizá-lo. É lógico que é uma obra cara, sair de uma terceirização para uma duplicação impacta financeiramente, mas é o que as associações comerciais e industriais, os empresários querem. Vamos tratar desse assunto com o Fórum Empresarial porque em Mineiros tem três indústrias, a demanda não é só do produtor agrícola, de soja, mas de toda uma cadeia de comércio, de indústria, de serviços de saúde e de educação. Mineiros tem duas faculdades com curso de Medicina que não conseguem professores por causa da rodovia, que é muito perigosa em razão do volume de tráfego e do traçado da via. Tem mais movimento de Mineiros a Jataí do que de Jataí a Rio Verde, porque quando chega a Jataí o fluxo segue para o porto de São Simão. E passa por Mineiros a do Mato Grosso. As rodovias representam um subdesenvolvimento numa região extremamente desenvolvida na agricultura e na pecuária. Dentro dessa intermodalidade, o governo está lançando um projeto de Ferrovias Shortline, linhas de menor distância que servem para conectar pontos próximos mas importantes dentro da linha férrea, que serão ofertados à iniciativa privada. Até hoje, quem fazia ferrovia era apenas o governo federal, e esses pequenos terminais vão ser construídos pela iniciativa privada. Em Rondonópolis, por exemplo, tem a Ferronorte e em Rio Verde tem a Norte-Sul, sendo que uma vai para o Porto de Santos e outra para o de Itaqui, no Maranhão. Se houver uma empresa que faça uma shortline  entre Mineiros e Rio Verde – Mineiros está naquela tríplice fronteira de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul – toda aquela produção poderia ir para Mineiros, porque as rodovias do Mato Grosso estão boas, só não está duplicado até Rondonópolis, entra nesse pequeno terminal e já chega em Rio Verde. Mas acredito que esse projeto das shortlines vai depender do volume e de investidores, mas com a  Caramuru em Mineiros acredito que tenha muitas chances de acontecer.

Um dos projetos que a senhora defendeu durante a campanha foi o e-sport, ou esporte eletrônico, que o governo federal não considera esporte. Como está esse projeto?

Eu acho que, de uma forma ou de outra, precisamos estar ligados nesse assunto porque quem vai determinar o futuro são esses jovens. Mesmo nas cidades pequenas tem crescido muito e está dentro das nossas casas, nas ruas, consumindo um tempo muito grande do jovem. É um entretenimento, uma manifestação cultural, e gera um terço do recurso que gera futebol. precisamos no mínimo acompanhar. Vou tentar aprender mais sobre esse assunto, individualmente eu já incentivei na minha cidade, durante a campanha eu já incentivei, não com essa forma de preconceito porque acredito que eles vão se aprimorar através daquilo. Eu já tenho visto os jogos eletrônicos há algum tempo e isso não vai mudar. Precisamos aprender a usar os jogos de forma produtiva para que esses jovens cresçam. Hoje temos um recurso muito limitado para o desenvolvimento dos recursos humanos na área de tecnologia e eu dou como exemplo a própria Assembleia Legislativa, quase não tem profissional e eles vão surgir a partir desses jogos.

Seu partido apoiou a candidatura ao governo de Gustavo Mendanha, mas a senhora é uma aliada do governador Ronaldo Caiado. Como é a relação da senhora com Mendanha e como é sua participação na base de apoio do governo?

Eu fiz uma pré-campanha de sete meses com o governador Ronaldo Caiado e Daniel Vilela. Mas eu fui me tornando muito pouco competitiva porque a chapa foi atraindo políticos muito grandes para candidatos a deputado e, com certeza, eu não conseguiria ser eleita por causa da densidade populacional da minha região. Em 2018 eu fiquei como primeira suplente e só havia um deputado da minha região, agora, havia vários. Quando chegou o meio da campanha eu pensei: não vai dar certo. Eu conversei com Daniel Vilela e fui para outro partido, mesmo assim eu ia seguir junto com a base do governador. Aí, em razão do jogo político, começou esse atrito e eu passei a não ser mais  bem quista. Agora, após eleita, eu conversei com o Gustavo – ele é uma pessoa extremamente aberta, republicana, que entende que não temos que ser adversários do governo porque temos que construir a nossa região e quem executa não é o Legislativo. Conversei com ele e foi tranquilo. A questão do trabalho, na realidade, foi de forma muito natural.

 

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