Em 2022, Lissauer Vieira tinha todas as condições de se reeleger ou se eleger deputado federal, mas decidiu não disputar o pleito em razão do falecimento de seu pai, que o levou a assumir as atividades da família naquele momento de transição. “Eu tive que dar um passo atrás e recuar e são poucas pessoas públicas que fazem isso, mas eu entendi que precisava cuidar da minha família e do que meu pai deixou”, diz. Agora, Lissauer se prepara para voltar ao campo político, disputando a Prefeitura de Rio Verde. Ele não é o único pré-candidato da base do prefeito Paulo do Vale, mas cobra dele reciprocidade em razão do apoio à reeleição do prefeito em 2018 e à eleição do deputado Lucas do Vale. Lissauer larga com a vantagem de ser o candidato de Jair Bolsonaro em um município bolsonarista. Por Andréia Bahia
Tribuna do Planalto – Qual a avaliação que o senhor faz desses primeiros meses do governo Lula em relação ao agronegócio? Foi pior ou melhor do que esperavam?
Lissauer Vieira – O setor agropecuário do país está passando por um momento de muita dificuldade, de incertezas, não só jurídicas, mas políticas também, além da insegurança em relação ao clima. No Centro-Norte do país estamos tendo excesso de calor e uma diminuição nos volumes pluviométricos este ano por conta do El Nino, e o setor agropecuário, a sua grande maioria, entende que as políticas públicas adotadas pelo atual governo não vem ao encontro das necessidades do produtor rural, das pessoas que trabalham na produção primária do país. É vista com muita preocupação, com muita apreensão toda essa situação. Sabemos que temos mais de quatro anos pela frente, todos veem com muita preocupação, não só a situação do setor agropecuário, da dificuldade de diálogos que o setor tem com o governo federal, mas também com a linha ideológica e de gestão que o governo implanta no país, que não vem ao encontro às ideias, aos ideais, à ideologia do setor agropecuário.
Em relação ao diálogo com o governo federal, quais são os principais pontos de tensão? A questão ambiental e a liberação de armas são as principais divergências?
Em relação à questão ambiental, o produtor rural, se analisar friamente, trabalha com sustentabilidade e respeitando as leis ambientais do nosso país. O que acontece hoje? Às vezes, há um excesso de força na fiscalização, mas o principal é a burocracia muito grande que se exige para poder empreender no país: uma licença ambiental, uma legislação que trava, as dificuldades burocráticas que temos em nível não só federal, mas também de estado, que dificultam para o produtor empreender, gerar emprego, gerar renda e crescer a sua atividade. Em relação às armas, isso é pacificado dentro do setor e da maioria dos brasileiros que o produtor rural, as pessoas que vivem no campo precisam ter a sua proteção. Nessa questão divergimos muito do governo federal. É claro que temos vários outros pontos, como por exemplo, a taxa de juros, que é inviável para qualquer setor fazer investimentos, principalmente em máquinas agrícolas, em melhorias na condição de trabalho, como por exemplo em armazéns gerais dentro da propriedade. Não tem como pagar uma taxa de juro de 12%, 13% ao ano ao ano e estamos vivendo essa realidade hoje. Isso dificulta muito os investimentos do produtor rural e temos visto que o governo federal não conseguiu adotar ainda uma política pública para baixar essas taxas de juro e dar mais competitividade ao setor.
A destinação de recursos para o Plano Safra foi acima dos patamares do governo anterior, ao que o deputado federal Evair de Melo (PP) afirmou que o agro não estaria à venda. Mas a destinação de mais recursos pode melhorar a relação do governo federal com o setor do agronegócio?
Não é só a questão de não estar à venda; a verdade é que o agro é um dos setores que mais geram emprego, renda e divisas no país. Qualquer governo tem que ter a responsabilidade de entender que o agro é uma mola propulsora da economia do país. Nos maiores momentos de crise que o país atravessou, o agro estava lá e ajudou o país a sair da crise. Não só agora na pandemia, mas também em outros períodos de crise. Tem que haver uma política pública de incentivo ao agro e esse governo não está fazendo mais do que a obrigação dele em destinar esses recursos. Mas os juros estão muito altos, são juros impagáveis, e não existe um setor da economia que consiga pagar juros de financiamentos nos patamares que estão hoje. Acho que o governo federal precisa focar nisso e trabalhar para poder reduzir essas taxas de juros para podermos ter competitividade e condição de buscar esse recurso.
O senhor sempre apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro e é um dos setores considerados bolsonaristas. Em quê o agro se identifica com o bolsonarismo?
Em todas as situações. O agro, mas não só o agro. A linha ideológica do ex-presidente Bolsonaro atinge uma grande parcela da população, como por exemplo os militares, o agro e também o meio evangélico, o tripé principal da força do ex-presidente Bolsonaro no nosso país. O agro se identifica muito com a linha ideológica, com a conduta, com a gestão que o ex-presidente Bolsonaro plantou no país. Infelizmente, por motivos que não estamos aqui para discutir, aconteceu o que aconteceu nas eleições do ano passado. Nós estávamos, no ano passado, em uma linha de desenvolvimento do país, de progresso, de liberdade, de defesa de quem trabalha e produz, defesa da propriedade privada; e hoje, o agro entende – e de minha parte também – que a linha de trabalho e a ideologia do ex-presidente Bolsonaro vêm ao encontro do que todos nós do setor agropecuário, pessoas que que geram emprego e renda no país, defendemos para um país livre.
O setor rural já superou a crise com o governador Ronaldo Caiado que foi fomentada pela criação da Taxa do Agro?
Isso é uma situação extremamente polêmica que eu fui contra, como todos acompanharam, e continuo sendo contra. Não concordo com essa taxação, o setor já contribui muito com o desenvolvimento de Goiás, um estado extremamente desenvolvido e forte, continua crescendo, e isso se deve muito ao setor agropecuário. Vejo que ainda temos muitas arestas a serem aparadas, muitas crises a serem ajustadas, principalmente agora. E volto a falar: o setor agropecuário está vivendo um momento muito difícil, alto custo de produção, baixa no preço das commodities, insegurança climática, insegurança econômica e jurídica. Temos muitos desafios pela frente. É um problema, uma crise que foi feita pelo governador há um ano atrás, e que na minha visão ainda não foi superado.
Ronaldo Caiado ainda é um dos principais representantes do agronegócio em Goiás?
Eu creio que sim. O governador sempre defendeu o setor agropecuário desde a UDR, depois como parlamentar, deputado federal e senador, e não é por conta de uma ação que eu não concordei que toda essa história que ele teve com o setor agropecuário vai se apagar. A história que o governador construiu com o setor produtivo do país, como representante desse setor, teve muitos frutos, bons frutos colhidos lá naquela época. A liderança dele continua grande, continua forte e ele é um líder nacional que sempre defendeu o setor produtivo do país.
Há informações de que o agro estaria forjando o próprio candidato para disputar a eleição de 2026. Isso procede?
Eu tenho acompanhado muitas conversas com o setor agropecuário e o que o setor entende é que precisa se fortalecer cada vez mais politicamente com representatividade, mas o foco agora está nas eleições de 2024, claro que pensando já em 2026, e com foco principalmente na eleição federal de presidente da República. Hoje temos vários nomes que representam bem a direita, inclusive o governador Ronaldo Caiado, que pretende ser candidato a presidente da República, busca o apoio do ex-presidente Bolsonaro, caso ele de fato não tenha condições jurídicas de ser candidato. O senador Wilder (Morais), que é do PL, que é do meu partido e da linha bolsonarista, está fazendo um trabalho muito bem feito de representatividade do setor no estado de Goiás e também de levantar a bandeira da direita. Mas eu acho que ainda é muito cedo para discutir essa situação, porque passa primeiramente pela eleição de 2024.
Qual a importância da eleição de 2024 para o agro e, além de Rio Verde, quais são as cidades estratégicas para o projeto político do setor?
A região Sudoeste é a mais forte do setor produtivo do Estado, mas estamos vendo a expansão da atividade agrícola em todas as regiões, principalmente no Norte e no Entorno de Brasília, e no Nordeste com menos velocidade, mas lá também vai expandir o setor agropecuário. Quando se fala em política, é o que falei anteriormente, as pessoas que pensam e fazem política estão entendendo que precisamos fazer bases para poder fortalecer para 2026. Essas bases serão construídas e serão tratadas como prioridade em todo o Estado. Em um município ou outro talvez não consiga lançar candidatura a prefeito e precise fazer uma composição aqui ou ali, porque cada município tem sua história e sua conjuntura política. Mas o esforço do PL, esforço nosso e do senador Wilder, é para buscar candidaturas competitivas em todo o estado de Goiás, em todas as regiões do Estado para o fortalecimento dessa base.
A estratégia eleitoral do agronegócio ultrapassa a questão partidária?
O PL é o partido que mais se identifica com o setor agropecuário, até pelo ex-presidente Bolsonaro ser filiado, e se identifica com os ideais das pessoas que representam esse setor. Mas isso não significa que apenas o PL terá candidatura. O nosso partido vai trabalhar para ter candidaturas viáveis onde for possível no Estado todo. Agora, um município ou outro pode fazer uma composição sem problema algum.
Há uma interlocução do agronegócio em âmbito nacional em prol de um único projeto para o país? Ou essa organização é regional?
Eu não tenho essa informação concreta, até porque tenho participado pouco de conversas em nível nacional, uma ou outra que eu fico sabendo, mas o que eu sempre defendi é que quem quer ver o país melhor, quem trabalha e enxerga que o país precisa cada vez mais desenvolver e que precisamos recuperar o nosso país precisa se preparar para ter uma política e propostas boas para o nosso país lá em 2026. Precisamos de fato fazer as bases e as bases são os municípios.
O ato de filiação ao PL em Rio Verde já tem data marcada?
Ainda vai ser marcada uma data e estamos trabalhando para ter a presença do ex-presidente Bolsonaro, estamos aguardando uma disponibilidade de agenda dele.
Em Rio Verde, três nomes se sobressaem para a eleição a prefeito: além do seu, o do médico Osvaldo Fonseca e Wellington Carrijo, do MDB. Como está a construção da candidatura do senhor?
O pré-candidato Osvaldo Fonseca é de oposição ao prefeito. Todo mundo tem o direito de disputar, de pleitear e tentar viabilizar a sua candidatura, e eu estou trabalhando para isso.O prefeito Paulo do Valle fez uma gestão de referência aqui na cidade, mas ele não pode mais ser candidato. E nessa sucessão eu me considero apto e tenho trabalhado no sentido de mostrar o caminho que percorri, a experiência que adquiri ao longo da minha caminhada como deputado e presidente da Assembleia, a respeitabilidade, o relacionamento administrativo e político, a capacidade administrativa que foi referência na minha gestão na Presidência da Assembleia Legislativa. Além disso, lá atrás, na reeleição do prefeito Paulo do Vale, fui procurado por ele e, naquela oportunidade, ele me pediu apoio a sua reeleição e eu lhe estendi a mão por entender que Rio Verde estava no caminho certo. E não errei; de fato, na pandemia, o prefeito fez uma boa gestão, um médico, uma pessoa que tem capacidade administrativa, mas agora vivemos outro momento e vamos viver outros desafios na cidade, que não para de crescer e não vai parar de crescer. Rio Verde precisa de um gestor preparado, que tenha capacidade administrativa, com um bom relacionamento em nível do estado e federal, que tenha portas abertas para buscar recursos e trazer bons projetos para a cidade encarar todos esses desafios. A realidade é que Rio Verde não tem problemas de um município interior; mas de uma grande metrópole e esses problemas têm que ser encarados de frente por um prefeito do tamanho e peso da cadeira de prefeito de Rio Verde. Eu estou preparado para poder administrar a cidade nos próximos anos.
O senhor conta com o apoio do prefeito Paulo do Vale? Ele já se manifestou?
Não se manifestou e eu respeito o momento dele e vou respeitar qualquer decisão que tomar em relação à escolha de uma candidatura. Agora, minha pré-candidatura independe disso, vamos trabalhar a pré-candidatura levando propostas, levando o que conseguimos avançar no Estado de Goiás e a experiência administrativa que eu tenho para poder administrar Rio Verde.
Pode haver uma composição com Osvaldo Fonseca?
Eu não fecho porta com ninguém, porque sempre falei e entendo que política é diálogo, é sentar, conversar, ajustar as coisas. Eu me considero parte da base da do prefeito Paulo e se ele não não entender assim eu vou respeitar, mas sabendo que eu o ajudei, ajudei o filho dele (Lucas do Vale) a ser deputado estadual também, abri as portas da nossa estrutura política naquela oportunidade, ajudei o vice-prefeito (Dannillo Pereira) na candidatura a deputado federal, ele ficou como primeiro suplente. Fiz tudo que foi possível para fazer uma composição política em Rio Verde que fosse boa para a sociedade, e foi boa. Os avanços que a gestão teve também teve a minha participação e ajuda como parlamentar e presidente da Assembleia Legislativa. Agora, vivemos um outro momento. Acho que temos que ter a responsabilidade de entender que o que está em jogo é o futuro da nossa cidade. Temos que nos desprender de vaidades pessoais, as validades têm que ficar abaixo dos interesses coletivos e é assim que vou conduzir essa pré-campanha. E quem quiser conversar com a gente vamos estar sempre de portas abertas. O PL só não vai se alinhar com o partidos de esquerda e que não sejam da mesma ideologia partidária e da mesma linha de pensamento.