As recentes interdições de bares no Setor Marista transformaram um problema urbano e jurídico em um teste político delicado para o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil). Conhecido por sua relação histórica com o setor produtivo, Mabel agora enfrenta críticas públicas de entidades que estiveram ao seu lado durante a campanha eleitoral, como o Sindibares e a Abrasel-GO.
A operação que interditou três estabelecimentos na última sexta-feira (21), com base na revogação de uma liminar judicial, reacendeu tensões entre o Paço Municipal e representantes da cadeia de bares e restaurantes. A reação foi imediata. Em nota dura, o Sindicato dos Bares e Restaurantes de Goiânia acusou a Prefeitura de promover ações com “caráter pirotécnico e midiático”, e alertou para os riscos de um ambiente de insegurança jurídica para quem gera empregos na cidade.
O presidente da Abrasel-GO, Danilo Ramos, foi na mesma linha e alertou para o impacto direto das ações sobre o mercado de trabalho. “A cada cinco mesas recolhidas temos, no mínimo, uma oportunidade de emprego fechada”, declarou, apontando que a morosidade da própria Prefeitura na liberação de alvarás agrava o cenário.
A fricção chama atenção porque Mabel é, ele próprio, construiu uma trajetória respeitada no setor empresarial. Ex-presidente da Fieg, ele teve assento garantido nas reuniões mensais do Fórum de Entidades Empresariais (FEE), que trabalhou abertamente por sua eleição no pleito de 2024.
A defesa do empreendedorismo, da desburocratização e da valorização de quem “acorda cedo e gera emprego” foi uma constante nos discursos do então candidato. No entanto, já nos primeiros meses de gestão, a intensificação das fiscalizações contra bares e restaurantes parece que começa a criar um desgaste, especialmente diante do tom adotado pelas ações — realizadas em horários de pico e com forte repercussão nas redes sociais.
Para aliados próximos do prefeito, a determinação em organizar o uso do espaço público, atender a decisões judiciais e responder às queixas de moradores sobre barulho e ocupação irregular precisa ser compatibilizada com o diálogo que historicamente marcou a atuação de Mabel junto ao setor. O desafio, agora, é reequilibrar essa balança.
Embora a Prefeitura não tenha recuado nas ações — e conte com respaldo do Ministério Público e decisões favoráveis na Justiça —, a tensão com entidades tradicionalmente alinhadas com Mabel pode custar capital político importante. A crise, ainda que localizada, serve como sinal de alerta para o prefeito, que precisará articular com habilidade se quiser preservar uma importante base de apoio que o ajudou a sair vitorioso das últimas eleições.