Os dados da primeira etapa do Censo Escolar 2024, divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), revelam um cenário de contrastes para a educação básica no Brasil. Enquanto há avanços na ampliação do tempo integral e estabilidade em algumas redes estaduais, o país enfrenta retração no número total de matrículas, estagnação na educação infantil e desafios na aprendizagem. Goiás se destaca em alguns indicadores, mas também reflete fragilidades que se repetem em todo o território nacional.
O estado mantém 83,1% das matrículas do ensino médio sob responsabilidade da rede estadual, exatamente o mesmo índice da média nacional. Nos anos finais do ensino fundamental, esse percentual sobe para 86,8% em Goiás, superando a média do país, que é de 61,1%. Esse arranjo institucional, em que o estado concentra o atendimento das etapas finais da educação básica, permite maior clareza na divisão de responsabilidades entre os entes federados, ainda que não elimine os problemas estruturais da rede pública.
Durante coletiva em Brasília, o ministro da Educação, Camilo Santana, destacou a importância do Censo como ferramenta de gestão. “O Censo Escolar já dá sinalizações da importância do programa [Pé-de-Meia]. Ele permite cruzar dados com o CadÚnico e outras plataformas, o que nos ajuda a direcionar políticas com mais eficácia”, afirmou.
O presidente do Inep, Manuel Palacios, também frisou a conquista da universalização do ensino fundamental, mas alertou para a necessidade de aprimorar a qualidade e a permanência. “O país, há poucas décadas, não conhecia essa experiência de escolarização. Hoje, temos mais de 90% dos jovens e crianças até os 18 anos frequentando a escola básica”, disse.
Na contramão da retração nacional, Goiás manteve relativa estabilidade no número total de matrículas, com 1,3 milhão de alunos na educação básica. A maior parte está na rede municipal (45,4%), seguida pela estadual (35,1%) e privada (18,9%). O Brasil, por outro lado, perdeu mais de 216 mil estudantes em 2024, com retração de 0,4% — queda concentrada nas redes públicas.
Tempo integral cresce, mas ainda está longe de atingir meta
Um dos destaques do Censo 2024 foi o crescimento das matrículas em tempo integral. Nacionalmente, 1,4 milhão de estudantes passaram a estudar em jornada ampliada nos últimos dois anos, elevando a taxa de 15,5% para 22,9% no ensino médio. No ensino fundamental, esse índice chegou a 17,8%. Goiás se mantém próximo da média nacional, com 20,9% dos estudantes da rede pública em tempo integral.
O avanço ainda é insuficiente para alcançar a meta do Plano Nacional de Educação, que previa ao menos 25% das matrículas em tempo integral até 2024. O ministro da Educação, Camilo Santana, reconheceu que os números melhoraram, mas defendeu um novo plano com metas mais ousadas.
Educação infantil segue como ponto de alerta
A maior fragilidade revelada pelo Censo 2024 está na educação infantil. O número de matrículas em creches cresceu timidamente e ainda atinge apenas 38,7% das crianças de até 3 anos — bem abaixo da meta de 50% estabelecida no PNE. A pré-escola, obrigatória para crianças de 4 e 5 anos, também segue estagnada, com taxa de atendimento de 92,9%.
Goiás avançou após a pandemia, com crescimento de 16,8% nas creches públicas entre 2021 e 2024. Ainda assim, o estado segue abaixo da cobertura ideal, em linha com os desafios enfrentados em todo o país. A expansão da educação infantil segue comprometida por limitações financeiras dos municípios, que são os principais responsáveis por essa etapa.
Rede pública concentra maioria das matrículas
A maior parte das matrículas da educação básica no Brasil ainda está na rede pública: 79,2%, sendo 47,4% em escolas municipais e 31,8% em escolas estaduais. No entanto, essa composição tem mudado. Entre 2023 e 2024, as redes municipais perderam mais de 340 mil alunos, enquanto a rede privada ganhou 134 mil, representando 20,8% do total de estudantes.
Em Goiás, essa tendência foi menos acentuada, com a rede municipal mantendo 45,4% das matrículas e a estadual, 35,1%. O equilíbrio entre as redes contribui para melhor organização da oferta, mas não resolve os gargalos de financiamento e qualidade, sobretudo em áreas rurais e pequenas cidades.
Meta da creche não será alcançada em 2025, aponta Censo
O PNE estabelece que ao menos 50% das crianças de 0 a 3 anos estejam em creches até 2025. No entanto, o Censo Escolar 2024 mostra que esse índice está em apenas 38,7%. Em 10 anos, a expansão foi de apenas 12,5 pontos percentuais. Atualmente, são 4,38 milhões de crianças matriculadas em creches no país, sendo 66,9% na rede pública.
O avanço tem sido mais expressivo nas redes conveniadas e privadas, que hoje atendem quase metade das crianças em algumas regiões metropolitanas. O cenário evidencia as limitações dos municípios para expandir a oferta pública com infraestrutura adequada e pessoal qualificado.
Curiosidades do Censo Escolar 2024 📌 Educação em assentamentos: Goiás ocupa o 18º lugar em número de escolas localizadas em áreas de reforma agrária, com 4.483 estudantes. 📌 Educação quilombola: O estado figura entre os cinco primeiros do Brasil, com 12.795 alunos matriculados em escolas quilombolas. 📌 Educação indígena: Goiás está entre os últimos no ranking nacional, com 208 escolas ofertando educação indígena, ocupando a 26ª posição. 📌 Turno predominante: No ensino fundamental e médio, mais de 99% dos alunos frequentam o turno diurno em Goiás, semelhante à média nacional. 📌 Escolas pequenas: Mais de 22% das escolas que oferecem anos iniciais têm até 50 alunos no Brasil, revelando a predominância de unidades de pequeno porte.
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