Na era digital, redes sociais deixaram de ser apenas espaços de socialização para se tornarem arenas políticas, palcos de campanhas, disputas ideológicas e, cada vez mais, de manipulação em massa. Essa transformação impacta diretamente a democracia e o funcionamento das instituições. No Brasil, vivemos um fenômeno preocupante: o surgimento dos políticos tik-tokers, figuras que, longe de apresentarem propostas concretas ou discutirem projetos de país, preferem viralizar com vídeos curtos, apelativos e muitas vezes desinformativos.
Essa nova lógica de comunicação política não é trivial. Estudos em neurociência e psicologia social mostram que a rapidez com que consumimos conteúdos influencia nossa capacidade crítica. A cultura da viralização, impulsionada por algoritmos que premiam o grotesco e o sensacionalista, favorece justamente o oposto do que a política precisa: reflexão, debate e profundidade.
O problema se agrava porque os vídeos mais populares são exatamente os menos informativos. Pesquisas indicam que conteúdos breves, com forte apelo emocional e estético, são mais propensos a viralizar — mesmo que estejam carregados de desinformação. É assim que fake news ganham tração e moldam a opinião pública, muitas vezes mais que os fatos e dados concretos.
Nesse ambiente, políticos perceberam que é mais vantajoso manter um canal ativo nas redes sociais do que propor reformas estruturantes. Falar sobre desigualdade, sistema tributário, saúde pública ou reforma administrativa não rende curtidas. Já uma dancinha debochada ou uma provocação barata ao adversário garante engajamento imediato. É a lógica da monetização do caos — quanto mais extremo, melhor.
Essa dinâmica contribuiu, inclusive, para o surgimento e fortalecimento de movimentos extremistas ao redor do mundo. As redes sociais, como apontam estudos foram determinantes para a ascensão de discursos populistas e autoritários em diferentes países. No Brasil, a tática foi incorporada com entusiasmo: influencers e youtubers políticos conseguiram transformar entretenimento em capital eleitoral.
O custo disso é altíssimo. O debate público se empobrece, as instituições perdem credibilidade e a democracia se fragiliza. Enquanto isso, o país corre contra o tempo, enfrentando crises econômicas, colapsos na saúde e na educação, e um Estado sem capacidade de investimento. Mas o que domina o feed são vídeos vazios de conteúdo, mas cheios de performance — política como espetáculo.
Não se trata de condenar o uso das redes sociais em si, mas de reconhecer que a lógica que impera nelas é incompatível com os princípios de uma democracia saudável. A política não pode ser reduzida a um vídeo de 15 segundos. Ela exige planejamento, escuta, negociação e compromisso com o bem comum.
É preciso retomar a seriedade do debate público. Política é a construção coletiva de um projeto de nação. É a busca pela justiça social, por mais equidade, por reformas que melhorem a vida da população — e nada disso cabe num reel ou numa trend. Enquanto políticos se contentam em surfar na onda da viralização, o povo afunda nas ondas da desigualdade.