Vivemos um tempo em que as metáforas apocalípticas deixaram de ser apenas figuras antigas — elas se materializam nos céus em chamas, nas cidades destruídas, no clamor de inocentes soterrados sob escombros. Em Apocalipse 20:9, há uma imagem perturbadora: “Mas desceu fogo do céu e os devorou.” O texto bíblico fala de juízo, de um fogo que consome as forças do mal. Mas hoje, paradoxalmente, é o próprio ser humano quem convoca esse fogo à Terra — através da guerra.
O conflito no Oriente Médio é uma das expressões mais dolorosas da tragédia humana. A escalada recente teve como ponto de partida um ataque covarde do grupo Hamas a uma festa com jovens em Israel — civis indefesos, muitos dos quais, ironicamente, eram justamente pessoas que poderiam defender a causa palestina e criticar o governo de Israel. O Hamas agiu de forma irresponsável, cruel e inconsequente, jogando combustível em uma fogueira já acesa por décadas de dor, ocupação, injustiça e violência.
Mas esse ataque, tão brutal quanto condenável, não justifica — nem de longe — o genocídio em curso na Faixa de Gaza. O governo de Israel, em resposta, não mirou apenas os responsáveis: dizimou bairros inteiros, destruiu hospitais, assassinou famílias inteiras. As maiores vítimas não foram combatentes — foram crianças, mulheres e idosos. Gaza virou um cemitério a céu aberto, onde a dignidade humana é enterrada junto com os corpos.
É importante reconhecer: não é fácil avaliar o conflito no Oriente Médio. Trata-se de um emaranhado histórico, cultural, econômico e religioso — ou seja, toda a complexidade humana em sua forma mais crua. Mas há algo que transcende qualquer análise: a guerra é a maior materialização da ganância, da estupidez e da covardia humanas.
Sim, covardia. Porque quem promove a guerra não é corajoso. É covarde por essência. É incapaz de dialogar, de ceder, de enxergar o outro como humano. A coragem verdadeira está em construir a paz — não em destruir vidas.
Enquanto líderes inflados de ego e moralmente falidos trocam ameaças e lançam mísseis, quem paga o preço são sempre os civis — as crianças, as mulheres, os idosos, as famílias inteiras que veem suas casas virarem ruínas e seus sonhos se dissolverem em cinzas.
E mais: se os recursos — tempo, dinheiro, energia, inteligência — que a humanidade despeja em armamentos fossem investidos em educação, saúde e alimentação, nenhuma criança neste planeta passaria fome. Nenhuma. Mas o que se prioriza é a destruição, e não a construção. Aviões de guerra bilionários cruzam os céus em direção ao Irã, enquanto aqui na Terra, crianças morrem de inanição. Isso não é defesa. Isso é derrota moral.
Não é possível assistir a essas cenas de devastação como se fossem parte natural do noticiário. Cada bomba lançada é um retrocesso civilizatório. Cada tanque em marcha é um grito contra a paz. Cada criança enterrada é um testemunho do nosso fracasso como espécie.
Ser pacifista não é ingenuidade — é responsabilidade. A paz não é uma utopia romântica: é uma escolha diária, ética, política e moral. Defender a paz, neste momento, é defender a própria humanidade.
É urgente que líderes mundiais, instituições internacionais, movimentos sociais e cidadãos comuns digam um basta. Não em nome de uma ideologia, de um povo ou de uma fé apenas — mas em nome da vida, da dignidade e do futuro de todos nós.
O fogo do céu não precisa cair sobre nós. Somos nós que precisamos apagar o fogo do ódio antes que ele consuma tudo o que ainda resta de humano em nós.
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