Recém empossado no comando do Detran, o presidente do Podemos, Eduardo Machado, ainda está tomando pé da situação do órgão, mas já adianta que sua prioridade será resolver os problemas das vistorias veiculares. Sua indicação se deu em meio ao acordo feito pelo partido para apoiar a reeleição do governador Ronaldo Caiado (UB) depois de o Podemos abandonar a candidatura de Gustavo Mendanha (Patriota). No cenário federal o Podemos também sofreu uma mudança de rota com a saída de Sérgio Moro, que deixou o partido depois de a legenda investir cerca de R$ 3milhões na pré-campanha do ex-juiz, como divulgado pela imprensa. Eduardo Machado afirma que Moro traiu o Podemos.
TRIBUNA DO PLANALTO – O senhor acaba de assumir o comando do Detran. Já tem planos para o órgão?
EDUARDO MACHADO – Em primeiro lugar, pretendemos continuar o trabalho que foi feito e ampliar a abrangência social do Detran. Foi criado um programa muito bom, que é a CNH Social, que distribuiu, só na semana passada, 11 mil carteiras de habilitação para pessoas que não tinham condição financeira de tirar, e vamos dobrar essa capacidade, e entregar 22 mil CNHs Social. Inauguraremos agora o Ciretran de Jataí e queremos chegar aos 246 municípios goianos. E vamos planejar um concurso público, pois o último concurso foi realizado em 1983. Temos um exército de comissionados e pouquíssimos efetivos, e os nossos efetivos têm na faixa de 30, 40 anos de casa e a maioria está se aposentando. Daqui a pouco só teremos servidores comissionados, o que o Ministério Público não aceita, pois entendem que o comissionado tem que ser uma exceção e não a regra dentro de uma empresa pública. Além dos projetos, temos desafios como o problema gravíssimo das vistorias. A Justiça declarou inconstitucional a lei que a Assembleia Legislativa criou que possibilitava que uma empresa monopolizasse o serviço de vistoria veicular em Goiás. O governador Ronaldo Caiado determinou e quase 300 empresas se cadastraram para se tornar credenciadas a fazer vistorias. Porém, elas ainda não têm tecnologia e expertise para prestar o serviço.
A imprensa noticiou que as pessoas faziam agendamento no site do Detran e, quando chegavam ao local, não estavam agendadas.
Exatamente. Nós vamos corrigir e essa é a minha prioridade para o momento: corrigir esse problema das vistorias.
O Podemos foi o primeiro partido a empenhar apoio à candidatura do ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha e, semana passada, mudou totalmente a rota e passou a apoiar a reeleição de Ronaldo Caiado. Acordo que rendeu a indicação do senhor para o Detran. Como se deu essa mudança? Em primeiro lugar: por que o Gustavo?
Quando começamos a caminhar com o Gustavo ele fez uma proposta de ajudar o partido, trazendo candidatos a deputado federal. A coisa mais importante para um partido político hoje é ter deputados federais. Isso é fundamental.
Importante para o Podemos ou para qualquer partido político?
Para todos os partidos. É do deputado federal que vem a força que o partido tem junto ao governo federal, o tempo de televisão nas propagandas eleitorais, o fundo partidário e o fundo eleitoral. Ter deputados federais é tudo que nos preocupa, e pedimos para o Gustavo nos ajudar. Muitos meses se passaram e ele não filiou ninguém ao partido. Ele prometeu três vezes para nossa executiva nacional, reunida em São Paulo, que se filiaria ao Podemos e esse dia nunca chegou. Mas a gota d’água foi ele ir ao Bolsonaro declarar apoio a ele. Nós somos radicalmente, cem por cento, contra Bolsonaro. Contra Lula também. Tanto que apoiamos a candidatura de Sérgio Moro. Agora, estaremos independentes, mas jamais Bolsonaro. Essa questão de se posicionar a favor de Bolsonaro foi a gota d’água para não caminharmos com ele. Nós nos afastamos de Gustavo e, por consequência natural, aquele cidadão que desquita da esposa e fica solteiro, aparece outra. Não é isso? Foi o nosso caso.
Além da indicação do senhor para o Detran há outros pontos na negociação de apoio do Podemos a Ronaldo Caiado? Participação na chapa majoritária?
Nosso projeto é apoiar Ronaldo Caiado para governador e apoiar para senador quem for o candidato dele. E nas proporcionais não existe mais coligação. Nesse ínterim entre Mendanha e Caiado, quanto eu assumi o comando do partido, em tempo recorde fizemos dezenas de filiações e já temos chapa completa para deputado estadual e federal.
Quais os principais nomes do Podemos para a disputa da eleição proporcional e qual a perspectiva de resultado?
Eu acredito que vamos eleger dois deputados federais e quatro estaduais, porque pouquíssimos partidos têm chapa completa. Os grandes partidos, o partido do governador, o MDB, o PL, não têm chapa completa, têm no máximo sete nomes, oito nomes. O PSD divulgou a lista de nove candidatos. O Podemos tem 25 candidatos e vamos ter que cortar 7 nomes.
Quais são os nomes de peso, os puxadores de votos?
Daniel Messac, Ênio Tatico, Carlos Antônio, os três já foram deputados; mulher, temos a professora Edna, que foi prefeita de Luziânia, Cida do Gelo, ex-prefeita de Alexânia, a pastora apóstola Dária Cristina, que teve 10 mil votos para deputada estadual; o professor Dalson, que já teve 14 mil votos para deputado estadual, acabou de se filiar. São vários nomes.
Como vai ficar o comando do partido depois da possibilidade, inclusive, de uma intervenção?
O termo correto não seria intervenção porque era uma comissão provisória.
O deputado José Nelto era o presidente.
Mas quando fechamos com Gustavo Mendanha, há cerca de quatro meses, colocamos Vilmar Mariano na presidência, agora prefeito de Aparecida de Goiânia. Semana passada, quando terminamos de costurar o acordo com Caiado, Vilmar anunciou que não ia ficar no partido. Eu não quis tirá-lo, ele disse que não se sentia confortável, e eu respeito, e assumi a presidência. O deputado José Nelto tinha interesse em retomar a presidência. Ele deve voltar ao comando do partido? Talvez eu até passe a presidência para outra pessoa, porque meu tempo agora está muito complicado. Já era complicado antes do Detran, porque eu ficava percorrendo o Brasil inteiro. Esse trabalho que eu fiz aqui eu faço há três anos no Podemos e, antes, no PHS. Mas aqui, para ter ideia, na agenda tem mais de 20 solenidades que vou participar e o próprio expediente interno é muito grande.
O deputado José Nelto tinha interesse em retomar a presidência. Ele deve voltar ao comando do partido?
Talvez eu até passe a presidência para outra pessoa, porque meu tempo agora está muito complicado. Já era complicado antes do Detran, porque eu ficava percorrendo o Brasil inteiro. Esse trabalho que eu fiz aqui eu faço há três anos no Podemos e, antes, no PHS. Mas aqui, para ter ideia, na agenda tem mais de 20 solenidades que vou participar e o próprio expediente interno é muito grande.
O senhor esteve à frente da Metrobus. É uma função parecida?
Eu diria o seguinte: na Metrobus seria como ser dirigente do Goiás e, aqui no Detran, do Flamengo. São coisas parecidas, porém aqui é inúmeras vezes superior à Metrobus. Nem se compara em termos de estrutura, de número de funcionários, de operações. A Metrobus dava muito trabalho, mas é uma coisa muito simples porque mexe com uma coisa só: o ônibus ir e voltar o dia inteiro. Aqui, emite carteira, documento de carro, conferindo carro, ensinando, exercendo o poder de polícia nas blitzen e outras dezenas de coisas.
Como está a situação do vereador Ronilson Reis, que quer deixar o Podemos?
Foi resolvida. Eu entrei em jogo porque estava tendo uma disputa interna entre ele e o Felipe Cortez, presidente municipal. Partiram para o lado pessoal, e o Felipe não queria liberar a saída do Ronilson, mas a atribuição de liberar é do diretório nacional. Ai, eu entrei em campo, fiz a carta e entreguei pra ele há cerca de quatro dias.
O senhor é o primeiro vice-presidente do Podemos nacional e, da mesma forma que ocorreu em âmbito estadual, houve uma reviravolta nos planos do partido com a saída de Sérgio Moro. Como o partido viu a movimentação de Moro?
Foi chocante porque, nos últimos 12 meses, abraçamos a candidatura de Moro, começamos a exigir de todas as estaduais o apoio a ele, começamos a percorrer o Brasil ao lado dele, gastamos muito dinheiro na estruturação da pré-campanha dele.
Qual o salário que ele recebia do Podemos?
R$ 20 mil. Mas isso não é nada em relação ao que foi gastona estrutura.
Mas Moro reclamou do apoio que o partido vinha dando à sua pré-campanha.
Isso não é verdade, mas ainda que fosse verdade, sair sem avisar ninguém e ficarmos sabendo pela imprensa. Eu odeio ter que concordar com Bolsonaro, mas quando a turma do Bolsonaro fala que Moro é um traidor, agora, eu sou obrigado a abaixar a cabeça.
Para onde o eleitor que o Podemos conquistou para Moro deve migrar, caso ele não seja mais candidato a presidente da República?
Eu sei que pode parecer conversa de marido traído, mas é o seguinte: eu acho que Sérgio Moro não acrescentou nada ao Podemos, pelo contrário; nós perdemos muito com Moro. O Brasil está polarizado entre Lula e Bolsonaro. A minha mãe é bolsonarista daquela fanática. Se Bolsonaro falar que a cloroquina cura o câncer, ela acredita, põe cloroquina no café, toma banho com sabonete de cloroquina e tudo. Ela odeia o Moro porque ele traiu o Bolsonaro. Eu não acredito que traiu, mas minha mãe acredita porque o Bolsonaro disse. Já meu enteado é Lula fanático e ele odeia o Moro porque ele prendeu o santo Lula. Ou seja, os dois lados da moeda odeiam o Moro.
Por que Moro não conseguiu se consolidar como terceira via?
Eu, particularmente, sempre fui contra Sérgio Moro e, na verdade, era o único voto contra em todas as reuniões da Executiva Nacional. Exatamente porque achava que as pessoas que votaram em Bolsonaro – grande parte – não voltaram por causa do Bolsonaro, do conteúdo mental dele. Votou porque queria votar contra Lula. Esse eleitor, que é a maioria, votaria em uma terceira vez que não fosse Moro. Por exemplo, se Eduardo Leite, que renunciou ao governo do Rio Grande do Sul, eu acho um excepcional nome. Inclusive, antes de Moro, nós o convidamos para ser o nosso candidato. Ele é um excelente nome que não desagrada ninguém, não tem esse problema do Moro de desagradar todo mundo.
O senhor concorda que Moro estaria buscando foro privilegiado ao trocar de partido?
Exatamente. Com o Supremo tornando nula todas as sentenças de Moro – vamos analisar que ele, direta ou indiretamente, quebrou várias entre as maiores empresas construtoras do Brasil e do mundo, Odebrecht, Camargo Corrêa, gerando milhares de desemprego e prejuízos bilionários – essas empresas não vão deixar barato. No momento em que essas ações transitarem em julgado e ficar claro que Moro agiu erroneamente em todas as decisões dele, elas vão vir para trás judicialmente contra Moro. Aí ele vai precisar de foro privilegiado. Mas acho que ele vai ser eleito deputado federal por São Paulo. Nas pesquisas que fazíamos para presidente, ele pontuava melhor em São Paulo do que no Paraná.
Como o Podemos vê a possibilidade de uma terceira via?
O Podemos não tem possibilidade nenhuma de apoiar nem Lula nem Bolsonaro. Com João Dória a nossa relação é boa, mas não é ótima. Se Eduardo Leite se viabilizar como candidato de um grande partido, a possibilidade de apoiá-lo é muito grande, porque temos admiração por ele. Com Simone Tebet não temos uma relação formal, e Ciro Gomes é muito definido à esquerda. Não é uma esquerda esquerdíssima, mas é centro-esquerda e o Podemos é mais centro.