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Beija-flor que se diz agora


Por em 09/09/2024 - 06:30

beija-flor
Beija-flor e uma flor. Foto: Freepik

Reconhecido o propósito de viver a realidade depois das agruras e da dor, falta o amor. Falta? Vem com aquela vontade de beijar, esmagar, tocar os cabelos, amassar as bochechas, huuummm… com a vontade de dar um cheirinho no pescoço, a alegria de fechar os olhos pra ver lá no fundo do que só sou capaz de ver, com sua história contada de fadas, parábolas e mirabolante realidade.

Quando a vida chega mais rápido que sua fonte de juventude ao destino, que sou eu, e digo “pare, olhe em volta, escute o que você está dizendo”, o que há para ser dito é uma coisa só, e sem aspas: não represe o rio, admire as horas se espreguiçando e se sobrepondo e se espalhando ao som dos segundos quietos, idílicos, sem pressa de morrer no mar, aquele mar que leva além, se levar.

Essa correria dos dias não combina com as noites em que me deleito sonhando com a força das pálpebras inabaláveis. Essa ansiedade que se arvora, meu Deus do céu! não tem nada dos jardins que me aguardam, que me guardam, que me afagam com sua utopia, que existem como alicerces de quem sou. Onde está a incontinência dos olhos diante de tudo? Espera pra ver o mundo: vai a lugar nenhum em que eu não esteja.

O amor que me falta na verdade não me falta. Me espera. Espero. O amor faz parte de um propósito ainda maior: a felicidade que me define. Tenho o peito arfante para o encontro. Tenho o suspiro pronto para o instante. Tenho o meu tempo todo. Gostosa a véspera da paixão. Tão íntima de meu gozo. Apesar. Eu me divirto com a tristeza porque ela jamais anda sozinha.

Sei com quem andam as lágrimas, e não é com o lenço ou o dorso das mãos. As lágrimas rolam de rir só de me pressentirem. Eu sinto tudo já antes de sua chegada. Fico acordado porque quero. Eu poderia muito bem estar voando neste momento. Como um beija-flor, tão leve, que se diz inteira em canto agora no balanço da flor. Não há sabor maior que o encontro da metáfora com a sua fatalidade. Ela chega, sem falta, meu beijo-amor.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).