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Centro da cidade convive com monumentos e abandono


Avatar Por Redação em 05/10/2021 - 00:00

Prédio em construção abandonado há anos no Centro: urbanista defende mudanças na Lei do Uso do Solo|Pedro Henrique diz que é preciso identificar os usuários do Centro|O urbanista Luís Fernando defende a flexibilização da lei de uso do solo|

Maísa Lima

Centro de Goiânia é conhecido pelos prédios com fachada em estilo art-déco e também pelo abandono. Há pelo menos duas décadas a cidade convive com promessas de minimizar a deterioração e o vandalismo na região central – que conta ainda com museus, mercados e outros espaços culturais importantes –, mas poucas intervenções foram feitas pelo poder público.

O urbanista Luís Fernando defende a flexibilização da lei de uso do solo

No Centro situam-se o Palácio das Esmeraldas –sede do Governo do Estado e residência oficial do governador –, o Centro de Cultura e Con­venções, o Teatro Goiânia, a Vila Cultural Cora Coralina, o Parque de Diversões Mutirama e os Mercados Popular e Central, sem falar nas inúmeras repartições públicas federais, estaduais e municipais. Mas mesmo abrigando prédios importantes, o bairro mais antigo da capital continua carecendo de um olhar mais cuidadoso por parte dos gestores.

“Mudou muito pouco. A Praça Cívica felizmente deixou de ser um estacionamento, mas nada foi feito quanto à mobilidade e não se fortaleceu a habitação, que é o principal. Pode-se criar qualquer projeto. Se não tiver gente, morre de noite e o Centro tem que funcionar 24 horas”, assinala o arquiteto e urbanista Luiz Fernando Cruvinel Teixeira. Foi para ele que o então prefeito Nion Albernaz, ainda em 1988, encomendou a primeira revitalização.

Esvaziamento

Durante o dia o que não falta é gente circulando pelo Centro. Mas após às 18h30 o espaço se esvazia. “Para recuperar a visibilidade e o apreço pela região central é preciso revalorizar o bairro como espaço de moradia, lazer e cultura. O centro urbano é um território da história, onde acontecem as manifestações públicas, o cotidiano do comércio diurno, o mercado do sexo noturno, enfim, práticas que organizam a vida social e garantem a identidade de centro”, pontua o arquiteto Pedro Henrique Máximo Pereira.

Pedro Henrique diz que é preciso identificar os usuários do Centro

Para Pedro Henrique, o problema do Centro não é a falta de moradores. “O bairro passou por um processo de esvaziamento nos anos 1980, quando aconteceu uma migração interurbana: a classe média alta mudou-se para setores como Bueno e Oeste. Permaneceu morando na região central a classe média baixa. Quando o século 20 findou, viviam na região cerca de 23 mil pessoas. Hoje, conforme dados da Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo (Seplam), são 25 mil habitantes”.

Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (UnB), Pedro Henrique afirma que o Centro passou por uma mudança funcional. “Os lojistas também foram atrás da classe média alta. Ficou a população mais idosa, mudou o padrão dos moradores. As intervenções que foram feitas focaram em cultura e serviços, não privilegiou as habitações, o que é uma incongruência”, avalia.

Intervenções precisam garantir vida noturna

O Centro de Goiânia já teve cinemas, restaurantes e danceterias. Hoje, praticamente apenas os cursinhos garantem a vida noturna do bairro. “A noite da região central mudou. Hoje, há muita prostituição e aumentou consideravelmente a população em situação de rua e o preconceito. Qualquer requalificação da região deve passar pela identificação dos usuários e o acolhimento das pessoas”, acredita o arquiteto Pedro Henrique Máximo Pereira.

Considerando a idade mais avançada da população da região, o pesquisador defende acessibilidade em todas as calçadas e a manutenção de equipamentos como praças, edifícios e museus. “Não é somente a art-déco que está presente no Centro de Goiânia. Seu acervo modernista é muito rico também e tudo isso está sendo negligenciado. Todos os centros de grandes cidades que passaram por uma intervenção eficiente hoje atraem turistas e geram emprego e renda”, assinala.

O arquiteto e urbanista Luiz Fernando Cruvinel Teixeira, que já trabalhou na Inglaterra e nos Estados Unidos e é um dos autores do projeto urbano de Palmas, capital do Tocantins, acredita que a deterioração do Centro só será contida se a densidade residencial aumentar. “As discussões são muito ideológicas. O que precisa acontecer de fato é a flexibilização do uso do solo. É um instrumento de política pública que precisa ser utilizado”. Para Luiz Fernando, o melhor exemplo de Centro vivo é o do Rio de Janeiro. “O uso misto das habitações – comércio embaixo e moradia em cima – garante gente dia e noite. Tem vida.”

Se o incentivo para a permanência da população durante à noite é precário, até porque existe carência na iluminação e na segurança, no núcleo pioneiro da capital goiana, projetado pelo urbanista Atílio Corrêa Lima em 1938 e com área total de cerca de 3,5 milhões de metros quadrados, também não vingou a tentativa do ex-prefeito Iris Rezende, que pretendia convencer os comerciantes a conservarem seus imóveis mediante isenção ou descontos no valor do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). A chamada Lei das Fachadas não atraiu comerciantes e nem proprietários de imóveis no bairro.

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