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“Deputado do chapéu”, Amauri Ribeiro coleciona polêmicas e representações no Conselho de Ética

Episódio envolvendo a deputada Bia de Lima elevou a tensão interna na Casa e trouxe à tona o histórico de condutas polêmicas protagonizadas por Amauri desde o início de seu primeiro mandato, em 2019


Domingos Ketelbey Por Domingos Ketelbey em 02/06/2025 - 14:00

Amauri Ribeiro protagonizou mais uma polêmica na Assembleia Legislativa, com ataques à colega Bia de Lima (Foto: Alego)

A mais recente crise no plenário da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) teve como protagonista um nome já conhecido pelos embates públicos e falas polêmicas: o deputado estadual Amauri Ribeiro (União Brasil). Durante a sessão da última quarta-feira (21), o parlamentar insinuou, da Mesa Diretora, que a deputada Bia de Lima (PT) estaria fazendo apologia à pedofilia, ao comentar uma entrevista concedida por ela a uma rádio.

“Você gosta de novinho; cuidado pra não pegar novinho demais”, disparou ele do alto da mesa que conduzia os trabalhos na Alego e foi recebida como ofensiva pela petista, que pediu a retirada de Amauri da função de secretário da sessão e, no dia seguinte, protocolou representação por quebra de decoro no Conselho de Ética da Casa. “Pesquisei e vi que pedófilos usam essa expressão”, explicou o deputado que não larga seu chapéu.

A reação institucional não demorou. O presidente da Alego, Bruno Peixoto (União Brasil), anunciou que todas as falas ofensivas ou com teor pessoal passarão a ser cortadas do áudio e da transmissão da TV Alego. Amauri, por sua vez, contra-atacou: apresentou representação contra Bia e disse se sentir ofendido por declarações anteriores da deputada, inclusive durante sabatinas da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O caso elevou a tensão interna na Casa e trouxe à tona o histórico de condutas polêmicas protagonizadas por Amauri desde o início de seu primeiro mandato, em 2019.

Representações, bate-bocas e ameaças em plenário
Amauri Ribeiro chegou à Alego defendendo o que chamava de “fala sem filtro”. Não demorou para que os discursos inflamados se transformassem em alvo de representações por quebra de decoro. Em 2021, durante uma sessão ordinária, o parlamentar afirmou que “quem invade propriedade merece um tiro na cara”. A declaração, dada da tribuna, causou protestos de movimentos sociais e gerou nota de repúdio assinada por entidades de direitos humanos. À época, o deputado disse não se retratar.

Suas discussões não se limitam aos que pensam diferente de forma ideológica. Com seu chapéu, ele já enfrentou aqueles que defendem ideais parecidos com os seus. Ainda em 2021, Amauri protagonizou uma discussão acalorada com o deputado estadual bolsonarista Major Araújo (então no PSL).

Durante um bate-boca em plenário, precisou ser contido por colegas e seguranças. Amauri, entre outras expressões que quebraram qualquer decoro, chamou o militar de “bosta”. Araújo respondeu chamando-o de “boneca”. A sessão foi suspensa para evitar confronto físico. O caso não teve consequências formais no Conselho de Ética, mas consolidou sua fama de pavio curto nos bastidores da Casa.

Antes disso, logo no início do primeiro mandato, o parlamentar se envolveu em outra polêmica ao afirmar, em entrevista, que “tem mulher bonita demais circulando por aqui, parece até que tem modelo desfilando nos gabinetes”. A frase gerou protestos de servidoras da Assembleia, que exigiram retratação. Amauri se recusou, dizendo que não ia “pedir desculpas por mimimi”.

Fora da Assembleia: guerra civil, racismo e bolsonarismo radical
As polêmicas não ficaram restritas aos microfones do plenário. Em junho de 2022, durante um ato político no interior de Goiás, Amauri declarou que, se Lula fosse eleito presidente da República, haveria uma guerra civil. “Se eu for convocado, empunharei uma arma”, afirmou. A fala gerou repercussão nacional, mas ele manteve o tom em entrevistas posteriores.

Meses depois, já após o segundo turno das eleições, o parlamentar voltou à tribuna da Alego para afirmar que ajudou a bancar financeiramente os acampamentos de manifestantes que pediam intervenção militar em frente a quartéis. “Levei comida, água e dinheiro. E se for crime, me prendam”, disse. As declarações o colocaram entre os alvos de investigação da Polícia Federal no contexto da Operação Lesa Pátria, que apura a organização dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

No mesmo período, Amauri também se tornou réu por injúria racial. Em abril de 2022, publicou nas redes sociais uma imagem considerada ofensiva por movimentos negros. A montagem, que mostrava uma mão branca fechando um punho negro com a frase “na minha família não”, motivou denúncia do Ministério Público de Goiás. O deputado alegou que se tratava de uma “brincadeira”, mas a Justiça aceitou a denúncia.
Chapéu e confronto

Amauri Ribeiro é natural de São Miguel do Passa Quatro e chegou à política como vereador e prefeito da cidade. No primeiro mandato como deputado estadual, foi eleito pelo PRP. Com a fusão da legenda, ingressou no Patriota e depois migrou para o União Brasil. Em 2022, foi reeleito com 45.046 votos.

Em 2015, enquanto ainda era prefeito de Piracanjuba, trocou o noticiário político pelas páginas policiais após dar uma “surra” na filha adolescente. Denunciado pelo Conselho Tutelar, tanto a Polícia Civil como o Ministério Público de Goiás chegaram a investigar o caso. Não deu nada. Amauri até hoje orgulha-se do que fez e classifica o episódio como um “corretivo”.

Ao longo da trajetória na Alego, além do uso inseparável de seu chapéu, o deputado tem adotado um discurso voltado ao eleitorado conservador, com ênfase em pautas ligadas ao agronegócio, armamento civil, valores religiosos e apoio irrestrito ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O estilo combativo o aproxima da base mais radical da direita goiana. Em um evento do Partido Liberal, chegou a dizer que estava no União Brasil, mas o “coração estava no PL”.

Sua postura, o aproxima do bolsonarismo radical, mas também o afasta de setores moderados. Mesmo parlamentares do União Brasil, seu partido, já manifestaram desconforto com o comportamento reiterado de Amauri. No Conselho de Ética, ele figura tanto como alvo quanto como autor de representações. De acordo com fontes da Casa, já foram protocoladas mais de dez ações contra ele ao longo de dois mandatos: algumas arquivadas, outras em andamento.

Que desfecho esperar?
O caso envolvendo Bia de Lima e Amauri Ribeiro ainda será analisado pelo Conselho de Ética da Alego, que pode decidir pela abertura de processo disciplinar. A depender da conclusão, o colegiado pode aplicar desde uma advertência verbal até a suspensão temporária do mandato. Até lá, a presidência da Assembleia busca conter novos episódios com reforço de medidas regimentais, como corte de microfones e controle da pauta.
Amauri, por sua vez, mantém o tom. Na tribuna, disse que não retira nenhuma palavra. Disse ainda que a entrevista da deputada petista “teve conotação indevida” e que continuará recorrendo às comissões da Casa para questionar a conduta de Bia. A petista, contudo, promete não recuar.

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