Para entender a dinâmica que já impulsiona articulações para 2026, é preciso recuar e observar o terreno que levou à polarização atual em Goiás. A disputa de 2024 refletiu o alinhamento e as rupturas de forças políticas que se intensificaram nas eleições de 2022, quando a aliança entre o governador Ronaldo Caiado e Daniel Vilela — então líder do MDB e representante de uma tradição política moderada — fortaleceu uma coalizão com apelo à centro-direita.
A aproximação entre Caiado e Vilela contrastava com o avanço da direita bolsonarista, que, apesar de ter encontrado espaço no estado, com a eleição do deputado federal Gustavo Gayer (PL) e do senador Wilder Morais (PL), gradativamente foram afastando-se do núcleo caiadista, centrado em uma política mais que busca discutir resolução de problemas, ideologicamente conservadora, mas com nuances de independência em relação a Bolsonaro.
Bolsonaro, ainda inelegível e em tese fora da disputa em 2026, e os bolsonaristas goianos como Wilder Morais, articularam intensamente para ampliar seu alcance na capital. Foram quatro agendas entre a pré-campanha e a campanha que levaram Fred Rodrigues, que começou em quarto lugar nas pesquisas ao segundo turno.
No entanto, a vitória do presidente licenciado da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), Sandro Mabel (UB), apoiado por Caiado, e a derrota de Fred Rodrigues (PL), sustentado diretamente por Bolsonaro, trouxeram um baque. Durante as visitas de Bolsonaro a capital, o ex-presidente não poupou críticas, acusando Caiado de ter “traído” o agronegócio com a taxa da Fundeinfra e chamando-o de “rosnador”. Neste domingo (27), minimizou a força nacional do governador Ronaldo Caiado afirmando que se o bolsonarismo tem alcance nacional, o “caiadismo é só em Goiás”.
A eleição de Mabel, que agora deixa a Fieg para assumir a Prefeitura de Goiânia, fortalece o projeto político de Caiado, que já vislumbra a presidência em 2026 e conta com uma estrutura coesa no estado. Nessa esteira, ele abrirá caminho para o vice-governador Daniel Vilela, assumir o governo em abril de 2026 e assim emergir como nome natural para a sucessão no Palácio das Esmeraldas. Apoiá-lo, no entanto, é apenas uma parte da estratégia, pois Mabel também precisará atender demandas de uma base ampla e heterogênea. A primeira delas é manter uma boa sustentação na Câmara dos Vereadores, sem grandes interferências dos parlamentares na gestão, algo que o atual prefeito Rogério Cruz (SD), não soube fazer.
Enquanto isso, o senador Wilder Morais (PL) surge como o principal adversário de Vilela, uma vez que o PL já declarou a intenção de lançar candidatura própria ao governo estadual e até à presidência, buscando manter o legado de Bolsonaro e consolidar uma direita unificada entre os bolsonaristas. Wilder mantém um tom cauteloso em relação a uma eventual candidatura própria, mas garante que o PL terá nome ao Palácio das Esmeraldas.
Em 2026, essa oposição se desdobrará numa batalha de forças entre a base caiadista, que representa uma continuidade mais equilibrada, e o bolsonarismo, que ambiciona uma presença mais marcante no cenário estadual. Quiça, o retorno dos liberais a presidência da República.
Assim, o fim das eleições de 2024 inaugura uma corrida acelerada por 2026, com a centro-direita e a direita goiana cada vez mais fragmentadas. A vitória de Mabel e a reorganização do PL apontam para um jogo de alianças que moldará os próximos anos e determinará quem será capaz de unificar os eleitores de Goiás em um cenário cada vez mais competitivo. Enquanto isso, as esquerdas acabam vendo as direitas e centro-direitas deitarem e rolarem na articulação política, com chances diminutas de fazerem candidaturas competitivas na disputa estadual. É ver o que virá… 2026 já está aí.