Vereador de primeiro mandato, Edward Madureira percebe que, apesar de o prefeito Sandro Mabel ter maioria na Câmara Municipal, há um grupo de vereadores que estão insatisfeitos com o prefeito, alguns por não terem atendidas suas demandas nos bairros e outros porque não tiveram suas indicações contempladas. Há também uma preocupação generalizada, que atinge tanto oposição quanto situação, em razão da intenção do prefeito de interferir na destinação das emendas.
ANDRÉIA BAHIA – O prefeito Sandro Mabel tem ampla maioria na Câmara dos Vereadores. Como é fazer oposição nessa condição?
EDWARD MADUREIRA – Primeiro, quero me posicionar um pouco, do ponto de vista mais pessoal do que partidário. Claro que o PT é um partido de oposição, eu sou um vereador de oposição, mas tenho repetido sempre: é uma oposição responsável. Aquilo que for de interesse da sociedade, de Goiânia, e que não fira os princípios do partido, não há dificuldade nenhuma em votar com o prefeito em determinadas situações. Acho que há um ambiente na Câmara, de forma geral, apesar dessa maioria, de um certo descontentamento. Conversando com os vereadores individualmente, dá para ver que tem uma turma sólida com o prefeito, mas também há alguns vereadores – e não acredito que seja um movimento de partido – mas posições individuais de insatisfação em relação a algumas situações. Não diria que é um movimento de partido, mas sim de posições individuais. É claro que é muito difícil fazer oposição em uma conjuntura dessas. Por exemplo, já prevejo discussões em torno de um projeto de lei que o prefeito enviou sobre a escolha dos dirigentes das unidades de educação. Sou frontalmente contra esse projeto. Vou argumentar e tentar convencer os colegas de que aquilo é um retrocesso. O único jeito é trazer conteúdo e argumentos fortes, principalmente para sensibilizar os que têm posturas mais independentes. O problema é quando há uma postura acrítica, de votar sempre com o prefeito — isso é ruim. Mesmo sendo da base, não vejo por que não avançar em algumas discussões.
O senhor consegue perceber o que tem provocado essa insatisfação? São questões pontuais ou se trata do comportamento geral da gestão?
Vejo que a principal questão é o atendimento das demandas dos vereadores nos bairros. Vários vereadores dizem que enviaram ofícios e requerimentos para intervenções nas suas bases eleitorais e não estão sendo atendidos. Há uma preocupação generalizada, que atinge tanto oposição quanto situação, que são algumas declarações do prefeito sobre interferir na destinação das emendas. O Legislativo é muito sensível a qualquer interferência nesse aspecto. Preciso fazer um parêntese: acredito que as emendas precisam ter transparência absoluta na prestação de contas e destinação adequada. É fato que a prestação de contas é falha, e o prefeito usa isso como argumento para interferir, dizendo também que as emendas precisam atender às demandas da prefeitura. Mas, por lei, a emenda é impositiva, e quem define a destinação é o vereador. Se a emenda está sendo aplicada em Goiânia e beneficiando a população, sem desvios, isso é uma prerrogativa do vereador. O prefeito interferir não é adequado. Além disso, ouvimos comentários sobre a demora no atendimento das indicações feitas pelos vereadores da base para nomeações em cargos. Como não faço parte desse grupo, não posso afirmar com certeza, mas escuto isso na Câmara.
Tudo está muito mal explicado. Falar de uma dívida astronômica para assustar a população e gerar essa situação de ‘terra arrasada’, isso não interessa ao povo. Esses números precisam ser esclarecidos”, destaca o vereador.
Um dos projeto mais polêmico, a taxa do lixo, foi sancionada na gestão passada, mas a pedido de Mabel. O vereador Fabrício Rosa (PT) entregou ao prefeito Sandro Mabel (União Brasil) aproximadamente 10 mil assinaturas de goianienses que são contra a criação da Taxa do Lixo. Como vê a taxa de lixo?
Não tenho uma opinião bem definida e não me sinto completamente à vontade para dizer que sou contra a taxa de lixo em si, mas da forma como ela foi proposta, considero um retrocesso. É uma taxa muito pouco inteligente. A lei não traz nenhum avanço na destinação correta dos resíduos. A pessoa paga conforme critérios para definir a faixa, mas não há estímulo para quem separa o lixo ou gera menos resíduos. Na minha opinião, a taxa deveria ser educativa e beneficiar quem cuida bem do seu lixo. Quem gera menos deveria pagar menos — ou não pagar. Mas ainda me falta um dado essencial: será que, sem a taxa, Goiânia não consegue cuidar do lixo? Não tenho essa segurança, porque faltam números confiáveis para dizer que a ausência de taxa de lixo inviabiliza a coleta e a destinação do lixo. Sei que Goiânia recicla menos de 5% do lixo. Com campanhas educativas e incentivo à população, poderíamos reciclar muito mais. Se a pessoa paga a coleta, ela se descompromete com a separação — o raciocínio passa a ser: “já estou pagando, não quero nem saber”. Isso é insustentável. O meio ambiente não suporta mais essa sociedade que gera lixo indefinitivamente O resíduo orgânico pode ser todo destinado à compostagem, o plástico, o metal e o vidro podem ser reciclados. É muito pouca coisa que não pode ser reutilizada e precisamos caminhar para uma economia circular, onde tudo seja reaproveitado. Uma taxa de lixo inteligente deveria estimular essa lógica, estimular a população a fazer a destinação correta do lixo.
Na prestação de contas, o prefeito Sandro Mabel afirmou que a gestão passada deixou uma dívida de R$ 3,6 bilhões. O presidente da Comissão Mista, Cabo Senna, falou em discrepância nos dados. O prefeito foi convincente ou ainda há dúvidas sobre o cenário apresentado?
Ele foi prestar contas da gestão anterior, mas definitivamente não ficou nada claro. O TCM fala em uma dívida muito diferente, algo em torno de R$ 700 milhões, muito menor do que os R$ 3,6 bilhões ou até R$ 4 bilhões que o prefeito mencionou. Acredito que ele está incluindo dívidas da Comurg nessa conta, como apontou o Cabo Senna. Tudo está muito mal explicado. Falar de uma dívida astronômica para assustar a população e gerar essa situação de “terra arrasada”, isso não interessa ao povo. Esses números precisam ser esclarecidos, e acredito que a Câmara vai solicitar o detalhamento mais preciso dessa dívida. Minha impressão é que a dívida é bem menor do que foi apresentado.
Qual a sua opinião sobre a reestruturação da Comurg?
Acho que é uma medida interessante, reestruturar a Comurg, acho que a Comurg tem saída, sim. Conversei bastante com o ex-presidente da Agência de Regulação, Paulo César Pereira, que elaborou um manual para medir e contratar os serviços da Comurg — algo muito racional e inteligente, pois faz a medida do serviço e a contratação dessa forma. O que percebemos é que , hoje, há muitos funcionários contratados pela Comurg e lotados em diversas estruturas da prefeitura, há supersalários, a Comurg presta serviços pelos quais não é remunerada, serviços outros que não a limpeza urbana e manutenção, funções que nem são de sua responsabilidade. É difícil avaliar a saúde financeira da empresa com tantos fatores assim, desvio de pessoal, supersalários e execução de serviços sem a contrapartida. A Comurg é uma empresa importante e espero que o prefeito consiga resolver essas questões — e, claro, também se fala muito sobre a empresa ser usada para abrigar aliados políticos, o que é mais um absurdo.

Qual sua opinião sobre a retirada dos ambulantes das ruas?
Essa é uma situação muito mais complexa do que parece. A tese do Sandro Mabel está certa — aquele número de ambulantes na rua, atrapalhando o trânsito das pessoas, pedestres e os comerciantes, está errado. Mas, quando você olha de perto para aquele grupo de pessoas, vê realidades muito diferentes ali. Tem dono de loja que, por conta da pressão dos outros ambulantes (e tem sonegação atrás) coloca vendedor na calçada; tem o grupo que vende comida para os trabalhadores das lojas; tem gente que tem outros pontos de venda e estão ali; e tem quem esteja ali como única opção. Esses últimos, segundo a prefeitura, são a minoria — entre 80 e 100 pessoas dos 3 mil —, estes merecem um tratamento diferenciado por parte da prefeitura, buscando uma alternativa. O problema é que nada disso se resolve sem diálogo. A prefeitura fala em aluguel social em galerias, mas o pessoal não quer ir. A feira da madrugada é outro ponto. Há uma confusão de interesses. É preciso sentar, entender os perfis e dar soluções específicas para cada grupo. Em princípio, sou contra os ambulantes nas ruas, mas entendo que há pessoas ali que têm família e têm aquilo como única fonte de renda, estão dispostas a trabalhar de forma regular, recolher os impostos. Essas pessoas precisam ser ouvidas e acomodadas de uma forma que elas possam ter o ganha-pão delas
Quais são as prioridades do seu mandato?
A primeira, e não poderia deixar de ser, é aprofundar muito na educação. Goiânia já teve uma educação infantil reconhecida no Brasil inteira como uma das melhores e também um ensino fundamental considerado referência. Hoje, como presidente da Comissão de Educação, começamos a fazer uma série de visitas a escolas por amostragem e vimos que a situação das unidades de educação, tanto infantil, como do ensino fundamental, deixa muito a desejar. São precárias na infraestrutura também, mas em relação ao pessoal temos uma situação do quadro técnicos, aquele pessoal que dá suporte às atividades administrativas, mas também suporte à escola, de apoio às crianças com necessidades especiais, pessoal da merenda e de serviços gerais. A remuneração deles é absolutamente incompatível com a função e sem nenhum plano de carreira que permita uma perspectiva salarial. Se fosse eleger uma questão para atacar na educação, seria o plano de carreira do pessoal administrativo. É um crime o que está se falando. Vi contracheques de pessoas ganhando menos que um salário mínimo. Não tem como oferecer uma escola de qualidade, com crianças bem cuidadas, se esses profissionais não têm condições mínimas de sobreviver com aquilo que eles ganham. Precisamos urgentemente de um plano de carreira para esse grupo. Outra questão é a superlotação das salas e o fim da EJA. Meu mandato tem a marca da educação muito forte, e temos trabalhado também para aproximar as universidades das escolas, para tentar suprir lacunas. Além disso, o meio ambiente é uma preocupação central do meu mandato, como você viu na questão do lixo. E também o empreendedorismo — precisamos cuidar melhor dos pequenos empreendedores de Goiânia e a Câmara pode fazer um trabalho importante nesse sentido.
Qual a avaliação do senhor sobre a derrota da Adriana Accorsi?
Acho que todos fomos surpreendidos com o crescimento, no fim da campanha, do candidato do PL. Não estava no radar. Sempre achei que Adriana estaria no segundo turno, até pelo desempenho do presidente Lula em Goiânia. Pessoal fala que Goiânia é de direita e conservadora, pode até ser, mas Lula teve bem mais de 30% dos votos na última eleição. Talvez tenha faltado dialogar com esse público de forma adequada, e houve essa surpresa, uma avalanche de última hora que acabou tirando a Adriana do segundo turno. Não consigo fazer um diagnóstico mais profundo, mas ela esteve na frente o tempo todo.
Adriana Accorsi será candidata única à presidência estadual do PT?
Não posso afirmar com certeza. Ouvi dizer que o deputado estadual Rubens também é candidato.
Quais são os projetos do PT para 2026?
O que dá para dizer com segurança é que o objetivo é aumentar o número de parlamentares, tanto na Assembleia quanto na Câmara dos Deputados. A questão de ter candidatura majoritária vai depender do cenário nacional — de quem estará com o presidente Lula, e qual palanque o partido vai construir. Nosso foco principal é reeleger o presidente Lula. Depois, ampliar a bancada federal e, em seguida, a estadual. Candidaturas ao governo ou ao Senado vão depender das alianças que forem costuradas nacional e localmente.
Lula é candidato, então?
Ah, eu não tenho dúvida. Espero que sim, e vou trabalhar muito para que ele seja eleito no primeiro turno.
Se fosse eleger uma questão para atacar na educação, seria o plano de carreira do pessoal administrativo. É um crime o que está se falando. Vi contracheques de pessoas ganhando menos que um salário mínimo, sem condições mínimas de sobrevivência”, afirma Edward.