A auditoria do DenaSUS nas maternidades públicas de Goiânia não reforçou apenas falhas estruturais que tem gerado crise na saúde da capital. Politicamente forçou a gestão do prefeito Sandro Mabel (UB) a trazer um nome que estava esquecido e à margem do bastidor político: ressuscitar politicamente Rogério Cruz (SD), mesmo que a contragosto. O ex-prefeito retornou ao jogo político como escudo da atual administração, que usa a narrativa de caos herdado para tentar contrapor atores importantes como a vereadora Aava Santiago (PSDB).
Na prática, a tática tem um nome conhecido: o discurso de terra arrasada. A ideia é cristalizar na opinião pública a percepção de que todos os problemas herdados são incontornáveis e, portanto, não podem ser cobrados do atual prefeito. A crítica a Aava, que pediu auditoria apenas para 2025, foi o gatilho perfeito para acionar essa engrenagem, seja na prestação de contas ou em entrevistas coletivas em que o prefeito e auxiliares falam sobre o assunto.
Durante a prestação de contas na última quinta-feira (29), Mabel defendeu sua gestão e acusou Aava de ser “conivente” por não ter pedido auditoria sobre os anos anteriores. Um dia antes a este colunista, o secretário Luiz Pellizzer anunciou que ele mesmo solicitaria a ampliação da auditoria para 2022, 2023 e 2024.
Nos bastidores, a interpretação é clara: a administração municipal decidiu que é hora de assumir de vez a narrativa do “caos herdado” e usá-la como amortecedor diante do avanço de cobranças sobre a área mais sensível do governo: a saúde e a crise nas maternidades.
Mabel, ao convocar publicamente a Câmara a investigar o passado, joga para a plateia, mas também pressiona os vereadores. Aava, por sua vez, respondeu com precisão: “Sabe por que isso não vai acontecer, prefeito? Porque os vereadores da base do Rogério que ganharam a eleição estão na sua base e os que perderam estão na sua gestão. Então, não tem como eles pedirem essa investigação.”
Por ora, a figura de Rogério Cruz, politicamente enterrada após a debandada da base e o isolamento no final de seu mandato, volta a circular como peça útil para justificar as falhas do presente. Mabel ainda governa sob o eco do antecessor, mas em algum momento terá que responder sozinho.
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CAIADO DIRIGE, PREFEITOS EMPURRAM
Nos bastidores, prefeitos da Região Metropolitana veem na política de subsídio ao transporte coletivo uma vitrine eleitoral de Ronaldo Caiado. Para alguns, a manutenção da tarifa congelada serve tanto para impulsionar Daniel Vilela em 2026 quanto para alimentar o discurso nacional do governador. Mas a conta pesa. Trindade já admite não conseguir pagar sua parte e propôs um repasse simbólico. Entre os prefeitos, cresce o coro: ou reajusta a passagem, ou o Estado amplia sua fatia.
De volta ao jogo
Quem também promete voltar ao jogo político é o ex-deputado federal Vilmar Rocha. Presidente de honra do PSD goiano, ele fala abertamente em candidatura ao Senado para 2026, repetindo os planos em 2014, quando bateu na trave, perdendo a única cadeira disponível para o governador Ronaldo Caiado (UB), e em 2022, quando disputou na base caiadista.
Momentos
“Em 2022 a minha candidatura foi mais para honrar os planos iniciais do partido após o Henrique Meirelles e o Lissauer Vieira desistirem. Acredito que agora, em outro momento, há chances de uma candidatura competitiva ser bem trabalhada. É o que eu irei buscar. Em 2014, por exemplo, tive mais de um milhão de votos e bati na trave”, avalia à coluna.
Ativos políticos
“Candidatura majoritária depende das circunstâncias e dos nomes postos. Não sei daqui até março do ano que vem o que vai acontecer. Eu gostaria de ser candidato a senador, já fui e sou um nome estadual. Tenho ativos políticos importantes: nome limpo, capacidade intelectual, experiência política e administrativa. Estou preparado, mas não sei o que vai acontecer daqui para março”, destaca.
Variáveis
“Pela legislação atual, cada partido, fazendo coligação ou não, pode lançar dois nomes. Juridicamente isso é possível. Politicamente, eu vou aguardar a evolução do quadro político em nível nacional e estadual. Eu coloco meu nome à disposição com todas as minhas qualificações e vou esperar a definição do quadro. Tudo está indefinido”
E Vanderlan?
“Ele [Vanderlan] já é senador e também é candidato. Vamos aguardar para ver qual a composição que será organizada. Se será mesmo com o MDB. Eventualmente, podemos fazer até outro tipo de composição. Na minha avaliação, isso será definido até março ou abril do ano que vem.”
Foco no trabalho
O senador Vanderlan Cardoso (PSD) destaca que está focado em seu mandato e nas entregas que fará até o ano que vem. Reforça, contudo, o desejo de se viabilizar como nome competitivo dentro da base do governador Ronaldo Caiado (UB) e do vice-governador Daniel Vilela (MDB), mas a definição eleitoral será tomada apenas nas convenções de 2026.
Foco em Brasília
À coluna, a vereadora Aava Santiago reforça que a tendência é repetir 2022 e lançar uma candidatura a deputada federal. “Está no nosso horizonte. A gente já rodou pesquisas internas e as chances são reais”, salientou.
Confortável
Em meio a um processo de fusão ou federalização com o Podemos, Aava afirma que não há ainda motivos para deixar o PSDB e a tendência é de permanecer na nova configuração partidária. “Estou confortável onde estou. Não tenho planos de sair. Exceto se houver uma mudança brusca nos rumos. A minha expectativa é de permanecer”.
Não será candidato
Se Kajuru até semana passada destacava à coluna que condicionava sua reeleição à aprovação da PEC que põe fim ao mecanismo, agora tem dito abertamente que não será candidato a nada, independente do que acontecer. Nem ao Senado, nem a deputado federal, tampouco a estadual. A conferir.
Sem reconhecimento
O senador destaca que o eleitor goiano não reconheceu os feitos que entregou em seu mandato. Kajuru tem dito que, se disputasse hoje as eleições, não seria reeleito e conheceria a derrota nas urnas.
A esquerda e o Senado
A frente suprapartidária Direitos Já! articula em Goiás a formação de uma frente ampla para lançar candidatura única ao Senado em 2026. A ideia é reunir partidos democráticos, da direita à esquerda, para frear o avanço do bolsonarismo no Congresso. O cientista político Antônio Lavareda deve apresentar dados do Ipespe em reunião com lideranças locais. Nomes como Marconi, Meirelles e Edward estão no radar.