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“Tenho convicção de que MDB e PSDB não vão estar juntos no palanque de Simone Tebet em Goiás”


Avatar Por Redação Tribuna do Planalto em 30/05/2022 - 10:41

Daniel Vilela, Presidente do MDB - Goiás.

Mesmo que o PSDB venha a apoiar a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) à Presidência da República, o presidente do MDB em Goiás, Daniel Vilela, afirma que os dois partidos não vão dividir o mesmo palanque, assim como também que o MDB não deve estar no de Jair Bolsonaro (PL), caso o governador Ronaldo Caiado (UB) apoie a reeleição do presidente. Nesta entrevista ao Tribuna do Planalto, o pré-candidato a vice-governador diz que a aliança eleitoral com o governador facilitou a ampliação das bancadas de parlamentares do partido – na Assembleia Legislativa de dois para sete deputados, e, na Câmara dos Deputados, de zero para dois – ao tempo em que não tirou do MDB o protagonismo no estado. 

TRIBUNA DO PLANALTO – De 1982 para cá, essa é a primeira eleição em que o MDB não disputa o governo de Goiás. A que o senhor atribui esse fato? 

DANIEL VILELA – Acho que isso é um fato normal de uma nova conjuntura política partidária. Com essa multiplicação de partidos que aconteceu ao longo dos últimos anos, das duas últimas décadas, ficou cada vez mais difícil a manutenção de grandes partidos. O Congresso Nacional é a maior representação do que eu estou dizendo, a maior materialização disso. Seria natural que, em algum momento, isso acontecesse, mas não significa que o partido venha regredindo. Pelo contrário, o partido se mantém com o maior número de filiados do estado, teve uma perda muito pequena do ano passado para cá, agora, na janela partidária. O partido conseguiu chegar a sete deputados estaduais, uma bancada expressiva, a segunda maior junto com o União Brasil; conseguimos dois deputados federais e temos a expectativa de eleição de três deputados federais e sete estaduais. É um partido que tem tudo, principalmente com esse novo regramento que proíbe as coligações proporcionais, para voltar a ser um partido muito grande também no Congresso Nacional. Acho que é uma legislação que vai, já nesta eleição de 2022, extinguir em torno de 70% dos atuais partidos. 

O partido vem enfrentando crises nos últimos anos: em 2018, a expulsão de prefeitos contrários ac candidatura própria; ano passado, a saída da Prefeitura de Goiânia e a judicialização da eleição do diretório e, agora, mais recente, a perda de Gustavo Mendanha. Como o senhor explica esse momento do partido?  

Isso é resultado de um grande partido. Todos os partidos grandes têm suas naturais divergências internas, suas divisões, e esses processos são naturais. Não vejo isso como algo anormal. O MDB é um partido que tem vida, é um partido orgânico. Os partidos que não têm isso são aqueles partidos que têm apenas documentos em pastas debaixo do braço do presidente. 

O MDB sempre foi criticado por não conseguir renovar suas lideranças. De 1982 para cá, Iris Rezende foi candidato ao governo cinco vezes e Maguito Vilela, três. Sua candidatura em 2018 e a ascensão de Gustavo Mendanha como liderança política deram início a essa renovação? Há um processo de renovação? Quais são os novos líderes? 

Acredito que sim, mas não concordo com essa tese de que faltava renovação no partido. Muitos líderes tiveram oportunidades, mas líderes como Iris e Maguito se consolidaram ao longo do tempo, outros não se consolidaram. Isso é da política. Alguns conseguem ascender e se manter; outros ascendem, mas não se consolidam; outros não chegam a ascender dentro do partido e dentro da política estadual e nacional. Tivemos candidaturas a prefeito de Goiânia de Luiz Bittencourt, tivemos ascensões, por exemplo, de Barbosa Neto, Sandro Mabel foi candidato a prefeito pelo PMDB, e muita gente teve oportunidade. Mas é o que eu disse, nem sempre todos vão conseguir sucesso, se consolidar e se firmar como grandes lideranças. 

Como avalia a saída de Gustavo Mendanha do partido e qual o impacto disso no processo de renovação do MDB?  

No MDB não teve nenhum impacto. Acho que o impacto maior é para ele, que deixou um partido consolidado, robusto, com capilaridade em todo o estado; partido que deu todas as oportunidades a ele. Tudo que ele teve como mandato foi através do MDB, foi através das lideranças do MDB que oportunizaram isso para ele. É claro que há um sentimento no MDB de que houve ingratidão por parte dele. 

Em Goiás, o MDB elegeu, na última eleição, 29 prefeitos, 14 a menos que em 2016, e metade do que o antigo DEM elegeu. Considerando que o partido é o maior em números de filiações, a que se deveu essa queda?  

Isso, sim, é uma conjuntura. Nós disputamos as eleições municipais como partido de oposição e estamos disputando, ao longo dos últimos anos, as eleições municipais como oposição. Acho que o partido foi até muito vigoroso nesses mais de 20 anos que conseguiu nos manter com toda essa força, elegendo um número significativo de prefeitos. O próprio partido do governador, em 2020, não teve um desempenho excepcional. É natural que tenha elegido o maior número de prefeitos. Mas a perspectiva nossa é muito positiva com o fim das coligações proporcionais. Não haverá tantas opções partidárias que pretendam se candidatar a prefeito e, naturalmente, os partidos que sobreviverem, os partidos maiores, vão ter um número maior de candidatos a prefeito. A conjuntura levou a esses resultados ao longo das últimas eleições municipais. 

Como está a relação do MDB com a Prefeitura de Goiânia?  

Não há nenhuma relação partidária.  

Não houve um movimento de aproximação, visando consolidar a aliança do Republicanos com o governador Ronaldo Caiado?  

O que há é uma possível aliança do prefeito e do partido dele com o governador Ronaldo Caiado nesse projeto do qual o MDB estará nas convenções indicando a candidatura a vice. Mas não há, do ponto de vista da gestão administrativa municipal, aliança entre o MDB e a atual gestão. 

Essa aliança de Caiado com o Republicanos passa por alguma negociação a ser feita pelo senhor? 

 Não. Quem conduz essas negociações e constrói essa aliança é o titular, que é o governador Ronaldo Caiado. Naturalmente, o pré-candidato a vice tem a obrigação de ajudar, de colaborar, mas as decisões são tomadas, logicamente, pelo líder. Acho que essa aliança se dá muito em razão do bom parceiro que o governador e que o governo de Goiás tem sido dos prefeitos, não só de Goiânia, mas do estado inteiro. Tanto é verdade que mais de 200 já manifestaram apoio ao governador. Ao longo dos últimos 20 anos, nas gestões passadas, os prefeitos tinham que implorar para receber recursos que eram próprios dos municípios. Eram enganados, constantemente, com promessas de programas de infraestrutura e outros. Por isso, neste momento, quando o governador é cumpridor desses compromissos e não desvia os recursos que são constitucionalmente dos municípios, se estabelece uma parceria muito positiva e muito benéfica para o município e, consequentemente, para a gestão dos prefeitos. Acho que isso é que baliza esse número tão significativo de apoio de prefeitos. 

Como o senhor avalia a gestão do Republicanos à frente da prefeitura de Goiânia?  

Acredito que tenha seus erros, como toda gestão tem, e a torço para que possam ser corrigidos e que dê certa essa gestão, afinal, moro em Goiânia e desejo que a cidade continue sendo uma referência em qualidade de vida. 

O MDB elegeu dois deputados estaduais e, agora, passou a ter a segunda maior bancada na Assembleia, com sete parlamentares. Isso se deu em razão da aliança com o União Brasil?  

Sem dúvida nenhuma. É inegável que a aliança que nós, antecipadamente, anunciamos facilitou para que a gente pudesse construir uma chapa de deputados robusta, com candidatos extremamente competitivos. Não tenho dúvida de que teve um efeito positivo para o partido e na construção dessas bancadas. 

Observando a votação dos deputados que migraram para o MDB, nenhuma foi muito expressiva na última eleição. Quem seriam os puxadores de votos do MDB na eleição deste ano?  

É difícil antecipar, porque ninguém sabe o que sai das urnas. Todas as eleições têm sido recheadas de surpresas. O que nós adotamos como critério foi filiar deputados que tenham uma sinergia, uma afinidade com o partido, com os projetos do partido, com as lideranças, com os prefeitos do partido. Nesse sentido que tivemos a filiação desses deputados. 

Existe alguma estratégia para que o partido volte a ter ou mantenha seu protagonismo em Goiás? 

 Claro, o partido tem as suas estratégias de curto, médio e longo prazos. Há um planejamento nesse sentido. E as decisões que são tomadas agora levam em consideração toda essa estratégia.  

O fato de o MDB sair como vice na chapa de outro partido pode ter algum impacto negativo nesse planejamento?  

De jeito nenhum. Com certeza foi uma decisão muito bem pensada e estrategicamente construída entre os líderes do partido. 

“Simone é o que há de melhor na boa política” 

Apesar da fraca performance para a Presidência da República em 2018, o MDB possui uma estrutura partidária robusta, domina o maior número de municípios no país. Agora, o partido tem a candidatura de Simone Tebet para presidente. Qual sua expectativa em relação a essa candidatura própria?  

O partido sempre busca apresentar sua melhor alternativa, a que tem mais empatia com o momento político do país. Não tenho dúvida de que, em 2018, o melhor candidato que havia naquela eleição era o candidato do MDB, o ex-ministro Henrique Meirelles. Acredito que, com a pré-candidatura da senadora Simone Tebet, estamos, mais uma vez, oferecendo aos brasileiros uma candidatura com capacidade intelectual, de visão de país, com serenidade, com equilíbrio e com inteligência. Agora, ganhar eleição ou perder, nem sempre o melhor ganha, infelizmente. Inclusive o Brasil vem, politicamente, seguindo um caminho muito passional, de escolhas baseadas em uma polarização que, a meu ver, não é o que deveria balizar as decisões eleitorais e o voto do eleitor. Mas nossa consciência está tranquila tanto em 2018 quanto agora com a pré-candidatura da senadora Simone Tebet, porque estamos apresentando o que há de melhor na boa política brasileira. 

Simone Tebet é uma crítica do governo Jair Bolsonaro, e Caiado tende a ser um aliado do presidente. Qual sua posição em relação ao governo Bolsonaro?  

Como eu disse, acredito que o MDB tem a melhor candidatura, a melhor candidata, aquela que reúne as melhores condições para o futuro do país. Estarei sempre defendendo, acreditando, torcendo para que os brasileiros possam compreender isso e escolher a senadora Simone Tebet como a nossa próxima presidente do Brasil. 

Caso Ronaldo Caiado esteja no palanque de Jair Bolsonaro em Goiás, o MDB vai estar no palanque de Simone Tebet?  

Claro, nossa candidata é ela. O governador tem o partido dele, e é natural que ele tome as decisões nesse sentido, de acordo com o perfil dele, com o que ele defende e também do que o partido dele compreende. É perfeitamente possível que estejamos em palanques opostos. O nosso já está decidido, é o da senadora Simone Tebet. 

Caso a senadora não saia candidata, o MDB pode estar no palanque de Bolsonaro em Goiás?  

Não existe essa possibilidade. Nós já temos a consolidação da candidatura da senadora Simone Tebet. 

Se o PSDB vier a apoiar a candidatura do MDB à Presidência – cogita-se que o senador Tasso Jereissati venha a ser seu vice – MDB e PSDB podem estar no mesmo palanque em Goiás?  

Acredito que não. Acredito, não; tenho convicção de que não. Inclusive, o ex-governador Marconi Perillo já deu declarações de que não deverá apoiar a senadora Simone Tebet. 

Qual sua opinião sobre as mudanças nas regras eleitorais que passam a vigorar nesta eleição?  

O que isso pode alterar nos planos eleitorais do MDB? Eu sou um defensor, tanto que votei a favor dessa legislação ainda como deputado federal, e acredito que as mudanças sejam altamente benéficas para a política brasileira. Não há como se sustentar mais um país com mais de 30 partidos. Essa lei vem para corrigir essa aberração, deixando os partidos que, efetivamente, têm representação política e eleitoral no Brasil. É um momento extremamente positivo. 

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