O senador Vanderlan Cardoso (PSD) lançou um aceno público inédito e calculado: defendeu a composição de uma chapa presidencial entre o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), e o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), para as eleições de 2026. “Ter Caiado e Ratinho, ou Ratinho e Caiado, juntos, será um grande ganho para o Brasil”, afirmou em entrevista à coluna Tribuna Política, publicada neste domingo (4), no jornal Tribuna do Planalto.
A declaração extrapola a retórica diplomática e se insere diretamente no jogo nacional. No PSD, Ratinho já é citado como presidenciável e conta com a simpatia da cúpula do partido. Do lado do União Brasil, Caiado foi o primeiro a lançar oficialmente sua pré-candidatura. A fala de Vanderlan, que transita entre os dois mundos, pode ser lida como um gesto em favor da união das siglas, ou, ao menos, como um recado claro de que há disposição para diálogo no campo da centro-direita.
A construção dessa ponte acontece no momento em que Vanderlan se distancia, de forma definitiva, do governo Lula (PT) e intensifica sua vinculação com o grupo de Caiado e, especialmente, com o vice-governador Daniel Vilela (MDB). “Nosso alinhamento natural é com Daniel. Já o apoiei e fui apoiado por ele. O caminho, agora, naturalmente é seguirmos juntos mais uma vez”, cravou o senador. Daniel deverá assumir o governo de Goiás em abril de 2026 e será candidato à reeleição com apoio do atual governador, e, ao que tudo indica, também com o de Vanderlan. O senador, inclusive, rejeita, de uma vez por todas, qualquer aliança com o PT para o ano que vem.
A fala do senador vem dias após uma troca de farpas indiretas com o também senador Jorge Kajuru (PSB), que havia insinuado irregularidades nas entregas feitas pela Codevasf em cidades goianas. Vanderlan devolveu com tom técnico: disse que as ações são fruto de emendas parlamentares legítimas e que prefere “entregar resultados” a fazer ataques. Em privado, aliados dizem que Kajuru tentou desqualificá-lo após vê-lo crescer como referência no municipalismo.
Além de reforçar sua base local, Vanderlan articula com discrição no eixo Brasília–Curitiba. É um dos interlocutores entre o PSD de Gilberto Kassab e o União Brasil de Caiado, num momento em que as federações partidárias (como a que une PP e União Brasil) já começam a redesenhar o mapa eleitoral do país. A leitura entre líderes políticos é que, sem Bolsonaro no páreo, a centro-direita precisa de uma alternativa de gestão e equilíbrio. Uma chapa com Caiado e Ratinho, seja qual for a ordem dos nomes, atenderia a esse perfil, de acordo com uma fonte próxima a Vanderlan.
É que os dois governadores compartilham bandeiras como combate ao crime organizado, responsabilidade fiscal, apoio ao agronegócio e aversão a pautas identitárias mais progressistas. Ambos têm aprovação expressiva em seus estados e contam com máquinas estaduais robustas. Para Vanderlan, que já ensaiou voos majoritários e hoje se projeta como uma das principais vozes do PSD no Senado, o apoio à aliança é também um posicionamento calculado: mantém portas abertas em dois campos e deixa portas abertas, tanto em seu partido como com o União Brasil e o MDB. Em tempos de reconfiguração política, os nomes se mexem. E Vanderlan parece disposto a jogar mais do que apenas localmente.