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Educação: 7 em cada 10 educadores acreditam que é necessário trabalhar a diversidade sexual e de gênero nas escolas

Pesquisa da Associação Nova Escola, em parceria com a TODXS, revela que os profissionais da Educação consideram a pauta relevante


Avatar Por Redação Tribuna do Planalto em 04/07/2023 - 15:11

Uma nova pesquisa desenvolvida pela Associação Nova Escola – organização de impacto social sem fins lucrativos que tem como missão fortalecer educadores da Rede Pública Brasileira, em parceria com a TODXS – ONG de empoderamento da comunidade LGBTI+, revela a percepção de educadores sobre a Educação da Diversidade Sexual e de Gênero nas escolas. O levantamento conta com 4035 profissionais (professores, gestores, diretores, entre outros) em todo o Brasil.

O estudo mostra que 7 em cada 10 professores acreditam que existe a necessidade de trabalhar com os alunos questões sobre diversidade sexual e de gênero. Além disso, 6 em cada 10 profissionais da Educação acreditam que o ambiente escolar seja um lugar favorável para trabalhar e desenvolver a questão da diversidade sexual e de gênero. Para os educadores que se declaram LGBTI+, o número sobe para 8 em cada 10.

Em um país com altos índices de violência contra a população LGBTI+ (duas pessoas LGBTI+ morreram a cada três dias no Brasil em 2022, segundo o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+), a pesquisa mostra que as escolas não estão isentas dessa violência: metade dos profissionais LGBTI+ relatam terem presenciado episódios de LGBTIfobia no ambiente escolar, sendo que, em 90% dos casos, os casos foram cometidos pelos próprios alunos.

“Os últimos estudos da Nova Escola têm comprovado que o ambiente escolar é um reflexo da sociedade. Uma vez que a saúde mental e socioemocional das crianças e jovens é negligenciada, vemos episódios de violências. Uma vez que o racismo não é trabalhado, são inúmeros os casos de discriminação racial envolvendo alunos e até professores. Com as questões de diversidade sexual e de gênero ocorre o mesmo. Portanto, é necessário trabalhar esses temas para que a escola seja o lugar em que meninos e meninas aprendem a conviver com as diferenças e a deixar de lado preconceitos e estereótipos que encontram nas demais esferas sociais.”, comenta Ana Ligia Scachetti, pedagoga e CEO da Nova Escola.

Ana Ligia Scachetti, pedagoga e CEO da Nova Escola

Medo e falta de incentivo

Apesar de reconhecerem a importância do tema, apenas metade dos professores afirmam que se sentem à vontade para propor temas sobre diversidade sexual e de gênero em dinâmicas e atividades desenvolvidas em sala de aula. Esse receio, conforme a pesquisa, se relaciona com o fato de que 50% dos respondentes afirmam ter medo da interferência da família dos alunos em questões sobre diversidade sexual e de gênero.

O estudo também mostra falta de preparo das escolas para lidar com o tema com os alunos. Apenas 3 em cada 10 professores respondentes da pesquisa indicam que os alunos têm, no geral, espaço de acolhimento quando são vítimas de bullying por sua orientação sexual e somente 2 em cada 10 professores afirmam que a escola incentiva o uso de materiais pedagógicos de discussão a respeito da temática.

“Quando falamos do acolhimento de pessoas LGBTI+, bem como na formação de professores sobre este tema, a escola precisa se reinventar, produzindo conhecimento e abrindo espaço nos currículos para a discussão de temas urgentes que barrem qualquer outro tipo de preconceito. O desenvolvimento deste tipo de competência está previsto na Base Nacional Comum Curricular e passa pela revisão da cultura da escola e da maneira como as relações se dão dentro e fora da sala de aula”, comenta Ana Ligia.

Para auxiliar educadores a aplicarem o tema da Diversidade Sexual e de Gênero nas salas de aula de forma simples, didática e respeitosa, a Nova Escola disponibiliza de forma gratuita conteúdo online sobre como Diversidade e Sexualidade, incluindo uma cartilha que traz indicações práticas e explica, por exemplo, as diferenças entre “orientação sexual” e “identidade de gênero”.

Miopia

Para a gerente de pesquisa da TODXS, Akira Borba Colen França, uma pesquisa como esta cumpre o papel de promover o debate sobre questões que costumam ser negligenciadas pelo poder público, pela comunidade e pelo empresariado. “Escancarar a LGBTIfobia, com muitos dados, como os que a TODXS vem colhendo, cabe a nós, porque há uma miopia do poder público para entender que ações estruturais são necessárias, e entre essas ações estruturais está uma formação cidadã anti-LGBTIfóbica. As mudanças passam pela Educação”, diz Akira.

Metodologia e perfil

O levantamento trata-se de uma pesquisa espontânea, com 4035 professores de todo o Brasil via formulário online, realizada do dia 12 de abril ao dia 4 de maio de 2023. A maioria (45,1%) dos respondentes são do Sudeste. 70,9% são professores, 11,4% coordenadores e 4,1% estão em cargo de direção.

A maioria é da rede pública de ensino: 43,8% atuam na Rede Pública Municipal, 33,1% na Rede Pública Estadual, 3,8 na Rede Pública Federal e 21,9% na Rede Privada. Grande parte deles atende crianças: 21,5% trabalham no Ensino Infantil, 34,5% no Fundamental I, 40,9% no Fundamental II, 33% no Ensino Médio. Apenas 9,7% estão no EJA e 13,2% no Ensino Superior.

Em relação à identidade de gênero, 69,9% dos respondentes são mulheres cisgênero, 27,7% são homens cisgênero, 1% não-binário, 0,7% são homens transgênero e 0,7% mulher trânsgero. Sobre a sexualidade, 81,1% são heterossexuais, 8,2% se afirmam homossexuais, 5,9% se identificam como bissexuais, 2,1% pansexuais e 1% assexual.

No cruzamento de informações sobre sexualidade e faixa etária, o percentual de profissionais da Educação que se identificam como LGBTQIAPN+ é maior entre os mais jovens e menor entre os mais velhos: 49,7% dos entrevistados de até 30 anos de idade se identificam neste grupo. Entre os profissionais LGBTQIAPN+, a defesa por inclusão da Educação de diversidade alcança percentual maior que a média geral, seja por iniciativa própria da gestão escolar ou por demanda dos próprios estudantes.

Sobre a Nova Escola

A Nova Escola é uma organização de impacto social, sem fins lucrativos, que tem como missão fortalecer educadores para transformar a Educação pública brasileira e possibilitar que os alunos desenvolvam o máximo de seu potencial. Referência absoluta no desenvolvimento de conteúdo para professores desde 1986, quando atuava no segmento de revista impressa, em 2015, com o apoio da Fundação Lemann, transformou-se em uma plataforma digital, com mais de 3,1 milhões de acessos mensais. Produz Reportagens, Cursos autoinstrucionais, Formações, Planos de Aula e Materiais Educacionais, gratuitos, para apoiar professores, coordenadores pedagógicos e diretores que atuam na Educação Básica das escolas públicas brasileiras. Saiba mais em www.novaescola.org.br.

Sobre a TODXS

A TODXS é uma organização social sem fins lucrativos criada em março de 2016, que tem como objetivo coletar e processar dados sobre a população LGBTI+ e desenvolver iniciativas de alto impacto social. Com foco na promoção e inclusão de pessoas LGBTI+ na sociedade, a TODXS possui iniciativas de formação de lideranças, pesquisa, conscientização e segurança.

 

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