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Descoberta arqueológica revela cemitério de 200 anos durante restauração de igreja em Jaraguá

Durante a restauração da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Jaraguá, foram encontrados cerca de 150 sepultamentos, datados de mais de 200 anos.


Laiz Queiroz Por Laiz Queiroz em 20/12/2024 - 16:57

Fotos: Secult Goiás

Durante a restauração da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Jaraguá, Goiás, uma importante descoberta arqueológica foi feita: um cemitério com mais de 200 anos. A escavação revelou aproximadamente 150 sepultamentos, possivelmente de africanos escravizados e negros libertos. A obra de restauração, que começou em abril de 2024, está sendo realizada pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), com investimento de R$ 3,5 milhões. A conclusão do projeto está prevista para 2025.

A descoberta das ossadas ocorreu enquanto os arqueólogos realizavam escavações para a instalação de um novo sistema de drenagem na igreja. Em novembro de 2024, 35 ossadas foram exumadas do calçamento externo, e centenas de outros túmulos foram identificados. “Este achado é fundamental para a história de Jaraguá e Goiás, pois nos conecta com um período significativo da nossa formação cultural”, destaca Yara Nunes, secretária de Estado da Cultura.

Dentro da igreja, a remoção do piso de madeira revelou 56 campas funerárias numeradas. Estima-se que cerca de 150 sepultamentos estejam localizados nas laterais, no fundo e no pátio frontal da igreja. “Em alguns locais, encontramos sobreposição de esqueletos, o que indica que as covas foram utilizadas continuamente ao longo do tempo”, explica Wagner Magalhães, arqueólogo responsável pela escavação.

O maior desafio da equipe agora é estudar os esqueletos, que estão em frágil estado de preservação devido à umidade do solo. Algumas ossadas não puderam ser retiradas, mas as que foram serão analisadas em laboratório para determinar o sexo e a faixa etária das pessoas sepultadas. A partir desses dados, será feito um levantamento histórico com base em registros de batismo e morte.

“É um trabalho histórico e emocionante, pois mexe com a memória de um período que estava escondido”, afirma a arqueóloga Elaine Alencastro. Após o processo de curadoria, a Secult, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), planeja oferecer ações de educação patrimonial para que os visitantes possam conhecer mais sobre a história do local e dos sepultamentos encontrados.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída em 1776 pela irmandade de negros de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, tem grande importância histórica. Naquela época, era comum a construção de igrejas dedicadas à população negra, e os sepultamentos encontrados estão ligados a escravizados e negros libertos que tinham devoção à Nossa Senhora do Rosário. “A construção dessa igreja e a presença da população africana foram fundamentais para o desenvolvimento de Jaraguá, refletindo a importância dos negros na formação da cidade”, conclui Wagner Magalhães.

Esta descoberta não apenas traz à tona um capítulo escondido da história de Goiás, mas também fortalece a preservação do patrimônio cultural, permitindo que as novas gerações conheçam melhor suas raízes e a contribuição histórica da população negra no estado.

 

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