A aplicação da inteligência artificial na medicina não é mais um projeto para o futuro, já faz parte do agora, da rotina de grandes hospitais e clínicas, com impacto direto na qualidade do atendimento. Segundo o médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles, as soluções baseadas em inteligência artificial têm contribuído significativamente para o aprimoramento dos diagnósticos clínicos, redução de erros médicos e otimização do fluxo de trabalho hospitalar. “Tais ferramentas não têm como objetivo substituir o profissional médico, mas sim aumentar sua eficiência, contribuir para a redução de custos operacionais e proporcionar um cuidado mais seguro e assertivo ao paciente”, afirma.
Um exemplo notável é o Microsoft AI Diagnostic Orchestrator (MAI-DxO), que alcançou 85,5 % de precisão ao resolver 304 casos clínicos complexos do New England Journal of Medicine—muito acima dos 20 % dos médicos em testes controlados. “O sistema emprega uma arquitetura que simula uma cadeia de debates entre diferentes modelos de inteligência artificial, favorecendo a geração de hipóteses diagnósticas mais consistentes. Essa abordagem, além de aumentar a acurácia, tem potencial para reduzir os custos relacionados ao diagnóstico em aproximadamente 20%”, explica o médico.
Na área de imagem médica, tecnologias como a plataforma Aidoc aiOS já auxiliam radiologistas em hospitais dos EUA. Com sensibilidade de 84,8 % e especificidade de 99,1 % na detecção de tromboembolismo pulmonar em tomografias não dedicadas, essas ferramentas aceleram o diagnóstico sem abrir mão da precisão. “Essa dinâmica contribui para a diminuição da demanda reprimida por laudos, reduzindo o risco de diagnósticos tardios. Trata-se de um avanço concreto na qualidade do atendimento prestado ao paciente”, observa o Dr. Robles.
A educação médica também passa por transformação. Ferramentas como ChatGPT e OpenEvidence criam simulações clínicas, quizzes e feedback automatizado para estudantes e médicos. “A American Medical Association (AMA) reportou um aumento no uso de ferramentas de inteligência artificial entre médicos, passando de 38% para 66% em apenas um ano. Esse crescimento evidencia o valor dessas tecnologias como instrumentos de apoio à educação médica continuada e à prática clínica baseada em evidências”, pontua o médico.
Além disso, a IA já é usada na automação hospitalar, com impacto em triagem, agendamento e leitura de prontuários. “A automatização de processos administrativos permite a realocação do tempo do profissional médico para atividades essenciais da prática clínica, como a escuta qualificada, o exame físico e o cuidado direto ao paciente”, diz José Robles.
Apesar dos avanços, o especialista faz um alerta: “É fundamental que o uso de inteligência artificial na prática médica seja pautado por princípios de explicabilidade, mitigação de vieses algorítmicos, proteção à privacidade dos dados e preservação do protagonismo do médico nas decisões clínicas. A tecnologia deve estar a serviço da medicina, e não o contrário.”
Para os próximos anos, a expectativa é de expansão dessas soluções em diagnóstico por imagem, medicina personalizada, descoberta de medicamentos e telemedicina. “Quando utilizada com responsabilidade e rigor ético, a inteligência artificial possui o potencial de tornar o sistema de saúde mais eficiente, humanizado e seguro para todos os envolvidos no cuidado em saúde”, conclui José Israel.