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Anielle Franco: “Importunação sexual é crime, e eu fui vítima”

Ministra da Igualdade Racial se pronuncia pela primeira vez após as acusações contra ex-ministro dos Direitos Humanos


Laiz Queiroz Por Laiz Queiroz em 04/10/2024 - 18:11

Imagem da ministra Anielle Franco falando sobre importunação sexual.
© Rovena Rosa/Agência Brasil

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, revelou em entrevista à Revista Veja, publicada nesta sexta-feira (4), que foi vítima de importunação sexual por parte do ex-ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Este caso, que veio à tona pelo portal Metrópoles em 6 de setembro, culminou na exoneração de Almeida, que nega as acusações.

Anielle relatou o desconforto de expor um “conjunto de atos inadequados e violentos que ocorreram sem consentimento”. “É fundamental esclarecer que o que ocorreu foi um crime de importunação sexual. Fui vítima de importunação sexual”, afirmou. A ministra enfatizou a importância de não normalizar tais situações, independentemente de quem as pratique.

Ela mencionou que prestou todos os esclarecimentos aos órgãos de investigação, mas evitou entrar em detalhes sobre as experiências vividas. “Traumas não são entretenimento”, disse Anielle, destacando que as “atitudes inconvenientes” começaram durante a transição de governo em dezembro de 2022 e aumentaram com o tempo.

Reflexões sobre a experiência de assédio

Anielle expressou arrependimento por não ter reagido imediatamente aos atos de assédio, admitindo que se sentiu paralisada. “Fiquei paralisada. Me culpei pela falta de reação imediata e essas dúvidas me assombraram”, declarou. A ministra refletiu sobre sua trajetória de acolhimento a outras mulheres em situações de violência, ressaltando que muitas vezes não estamos preparadas para enfrentar essas experiências, mesmo quando afetam a nós mesmas.

Ela também falou sobre o medo do descrédito e dos julgamentos que enfrentou. “Não queria que minha vida fosse exposta e marcada pela violência novamente. Sou muito mais do que isso e me orgulho da minha trajetória. Apenas desejava que aquilo parasse de acontecer”, afirmou Anielle, que ainda criticou a “pressão da mídia” após a denúncia, deixando-a ainda mais vulnerável. “Nenhuma vítima tem a obrigação de se expor ou falar quando os outros querem. As vítimas devem ter o direito de se pronunciar quando se sentirem confortáveis”, completou.

Compromisso com a luta contra a violência de gênero

Anielle Franco defendeu a atual gestão no combate à violência de gênero e racial no Brasil. “O governo criou um programa de prevenção e enfrentamento do assédio e da discriminação, visando fortalecer as políticas de defesa dos direitos das mulheres. Temos um grupo de trabalho dedicado exclusivamente a esse problema na administração pública”, disse. Ela expressou esperança de que sua história inspire outras mulheres a lutar contra situações semelhantes. “Acredito que podemos mudar essa realidade. Juntas, podemos construir uma sociedade onde assédios e violência não façam parte do nosso cotidiano”, concluiu.

Outras denúncias e a resposta de Silvio Almeida

Além de Anielle Franco, outras mulheres formalizaram denúncias de assédio sexual contra Silvio Almeida por meio da ONG Me Too. O ex-ministro negou todas as acusações, afirmando em nota: “Repudio com veemência as mentiras que estão sendo disseminadas contra mim. Repudio tais acusações em respeito à minha esposa e à minha filha, enquanto luto pelos direitos humanos e pela cidadania no Brasil”.

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