Escolha dos vices em Goiânia revela falta de experiência política e perfis difusos
As principais chapas na disputa pela Prefeitura de Goiânia definiram seus candidatos a vice-prefeito, em um movimento que revela mais a busca por complementação de perfis do que pela experiência política e administrativa. Entre trajetórias respeitadas, mas quase sem passagens por cargos eletivos, as indicações mostram chapas que apostam em nomes novos na vida partidária, com exceção do médico Paulo Daher (PP), que possui um mandato discreto como vereador no currículo.
Daher, que compõe a chapa liderada pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD), é o único dos vices com alguma experiência em um cargo eletivo, tendo sido vereador na capital entre 2017 e 2020. Sua passagem pela Câmara Municipal, no entanto, foi sem grandes destaques, levantando questionamentos sobre o quanto essa experiência efetivamente agrega ao seu papel como vice-prefeito.
Em um cenário onde a experiência é escassa, Daher ainda surge como uma figura familiar aos eleitores, embora sem um legado político marcante. A escolha ainda rende desgastes a Vanderlan, já que o partido de Daher vive um imbróglio interno e uma fissura entre apoio ao senador ou ao ex-deputado federal Sandro Mabel (UB).
Entre as escolhas, a deputada federal Adriana Accorsi (PT) optou por uma aliança com o PSB, que indicou o professor Jerônimo Rodrigues, ex-reitor do Instituto Federal de Goiás (IFG). O escolhido é reconhecido por suas contribuições à vida acadêmica, especialmente na gestão educacional, o que pode trazer um olhar técnico e focado na educação para o eventual mandato de Accorsi.
Apesar da falta de vivência política partidária, o professor representa um perfil de gestor com experiência em liderar instituições complexas, o que pode compensar a ausência de trajetória política tradicional.
Por outro lado, o ex-deputado federal Sandro Mabel, que retornou à vida pública após mais de uma década fora, adotou um discurso focado na busca de um vice com ampla experiência em gestão e política, capaz de substituí-lo se necessário. Porém, na prática, acabou com uma escolha surpreendente de última hora: a tenente-coronel Cláudia, oficial da Polícia Militar com 30 anos de serviços prestados, mas sem histórico na vida pública. A indicação da militar, primeira experiência de Cláudia na política, contrasta com a pregação inicial de Mabel e reflete a dificuldade de atrair nomes que unissem a experiência política e o perfil técnico desejado.
Já o prefeito Rogério Cruz, que herdou o cargo após a morte de Maguito Vilela (MDB) em 2021, viveu um intenso processo de busca por um vice que desse respaldo ao seu projeto de reeleição. Sua decisão, contudo, foi marcada pela falta de opções e acabou recaindo sobre o advogado Darô Fernandes, do Mobiliza. Com pouca expressão na política, Fernandes pretendia disputar uma vaga na Câmara Municipal, mas aceitou a missão em razão da falta de outros interessados no posto. A escolha reforça a percepção de fragilidade e improvisação na composição da chapa de Cruz, evidenciando o fantasma da falta de apoio político que permeia sua gestão desde o início.
No caso do jovem jornalista Matheus Ribeiro (PSDB), a escolha da advogada Bartira Miranda como vice reflete uma aposta em um perfil técnico e de defesa social. Ex-diretora do curso de Direito da UFG, Bartira é reconhecida por sua militância em causas sociais, mas não possui experiência na política partidária. Sua indicação demonstra um compromisso com pautas sociais, mas também expõe a inexperiência na vida pública, o que pode ser um desafio em uma gestão que exige articulação política e conhecimento dos bastidores do poder.
A chapa liderada por Fred Rodrigues (PL) é a única que conseguiu compor com um vice que, apesar de nunca ter exercido um mandato, tem algum histórico de engajamento partidário. O empresário Leonardo Rizzo, indicado pelo Novo, já ensaiou campanhas próprias, incluindo uma candidatura ao Senado em 2022 e uma pré-campanha à Prefeitura em 2016 pela Rede Sustentabilidade. Com uma trajetória no setor privado e engajamento em áreas como o meio ambiente e cultura, Rizzo contribuiu significativamente para o plano de governo de Rodrigues, adicionando uma visão empreendedora à campanha. Contudo, sua falta de experiência em cargos eletivos mantém a característica comum entre os vices desta eleição: a ausência de prática direta no jogo político.