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Gestores apostam em programas de recuperação para resgatar alto índice de analfabetos


Avatar Por Redação em 26/12/2021 - 00:00

|Giselle Faria, superintendente de Ensino Fundamental da Seduc: “Alfabetizar uma criança que não teve acompanhamento efetivo não é fácil” |Marcelo Ferreira, superintendente de Ensino de Goiânia: “Os alunos das séries iniciais foram os que mais sofreram com tudo isso” |Marcelo Costa, secretário de Educação de Senador Canedo: “O problema da alfabetização já existia, mas ficou evidente”

Fabiola Rodrigues 

Pesquisa realizada pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF) diagnosticou que 90,8% dos alunos do Ensino Fundamental, em Goiás, não sabem ler. A pandemia agravou o combate ao analfabetismo de forma drástica. Gestores educacionais apostam em diversos programas de recuperação para resgatar o tempo perdido. A previsão para reparar essas lacunas no aprendizado é de cinco anos para começar a ter resultados. 

O levantamento da pesquisa organizado pelo programa de Alfabetização AlfaMais Goiás contou com a participação de 36.874 crianças das redes estadual e municipais, correspondendo a 49% do total de estudantes entre 7 e 8 anos de idade. A avaliação realizada mostrou que essas crianças não conseguem decifrar palavras simples. A avaliação consiste na aferição da capacidade dos alunos de lerem com velocidade e precisão um número de palavras em um pequeno texto narrativo em um tempo limitado. 

Segundo o superintendente de Ensino da Secretaria Municipal de Educação (SME) de Goiânia, Marcelo Ferreira, o problema da alfabetização na idade certa já existia, mas a pandemia agravou a situação, uma vez que o ensino remoto não conseguiu gerar a efetividade necessária para garantir aprendizado nessa fase do saber. “Nossa rede foi afetada principalmente nessa fase. Os alunos das séries iniciais foram os que mais sofreram com os efeitos da pandemia”, diz. 

Marcelo Ferreira, superintendente de Ensino de Goiânia: “Os alunos das séries iniciais foram os que mais sofreram com tudo isso”

O superintendente conta que, daqui para frente, o objetivo é focar para recuperar a defasagem causada nos alunos. Os diversos programas de recuperação criados pela SME já tiveram início com o retorno das atividades presenciais em agosto, como o programa Educação em Foco. E outros lançados recentemente, como o Aprender Sempre, instituído pelo município, e o AlfaMais, criado pela secretaria estadual, também visam recuperar essa aprendizagem. 

“Tem uma série de ações que constam nesses programas e compreendemos que com eles vamos recuperando, porque não é com um ano que vamos resolver o problema da defasagem. Isso é um processo que vai durar anos para recompor todas as perdas vinculadas à aprendizagem”, enfatiza. Marcelo explica que não tem um prazo estipulado para recuperar o nivelamento escolar, porque cada aluno dita um ritmo. A estimativa é que leve de quatro a cinco anos essa recuperação, segundo ele. 

A SME encerra as atividades deste ano com sentimento de gratidão. “Apesar de ter sido um ano muito difícil, porque tivemos vários enfrentamentos, especialmente, com o desafio da retomada das atividades presenciais. Porém, houve uma sintonia que fez com que todo ambiente escolar ficasse mais unido, tivemos muito diálogo, retomamos os vínculos. Foi um ano de superação e os próximos serão de recuperação”, observa. 

A superintendente do Ensino Fundamental da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Giselle Faria, explica que os estudantes não foram alfabetizados na pandemia. “Alfabetizar uma criança não é fácil. É complicado, necessita de diálogo. Os alunos não tiveram acompanhamento efetivo”, diz. A superintendente ressalta que, normalmente, no segundo ano, os alunos já conseguem ler palavras, frases, mas que tal realidade não é a de agora. A rede estadual está apostando, para reduzir o índice de analfabetos, no programa AfaMais, lançado este mês pela Seduc. Ele tem várias frentes para ajudar o aluno a se desenvolver. 

Segundo Giselle, o AlfaMais é robusto e atenderá as necessidades dos estudantes que foram prejudicados. A aposta é de que, por meio do projeto, alunos e professores sejam capacitados a se desenvolverem de forma a alcançar o conhecimento perdido. A superintendente avalia que a escola, por completo, deve olhar para esse processo de alfabetização, já que ele é muito articulado também entre o estado e o município, para recuperar o tempo que os alunos não puderam estudar de fato. “Nos três anos iniciais tivemos retrocesso e vamos ter que estabelecer metas para recuperar, mas isso será feito de acordo com as futuras avaliações. É complicado darmos um prazo para recuperar o aluno. Seremos uma rede colaborativa”, pontua. 

Giselle Faria, superintendente de Ensino Fundamental da Seduc: “Alfabetizar uma criança que não teve acompanhamento efetivo não é fácil”

A superintendente de Ensino da SME de Aparecida de Goiânia, Idelma Oliveira, diz que, com base nos dados da pesquisa, ficou visível os desafios que enfrentarão para resgatar cada etapa do aprendizado. Para ela, contudo, já é possível verificar a relevância de uma estratégia de ensino para a rede, devido à parceria com o programa AlfaMais. “As ações do estado vem atuando próximo às unidades escolares, investindo em materiais pedagógicos para os alunos e dando suporte aos professores. Além da assessoria pedagógica, estamos planejando a reestruturação do departamento pedagógico para melhor atender as especificidades da rede”, diz. 

Idelma conta que está previsto para o próximo ano, no município, formação para todos os servidores da Educação que estão envolvidos no cotidiano escolar para que participem ativamente desse processo de melhoria em prol do ensino aprendizado dos alunos de Aparecida de Goiânia. 

“Fico preocupado com a avaliação, porque a impressão que dá é de que a pandemia é culpa de alguém” 

O secretário de Educação de Senador Canedo, Marcelo Costa, se diz preocupado com a pesquisa realizada pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF). Para ele, uma avaliação dá notícia de um fato, mas é muito pouco para diagnosticar de verdade as deficiências no aprendizado, para poder planejar metas e tirar conclusões. “O problema da alfabetização já existia, mas ficou evidente. Fica claro que realmente temos dificuldades, mas fico muito preocupado com o uso da avaliação, porque dá a impressão de que a pandemia é culpa de alguém”, pontua. 

Marcelo Costa, secretário de Educação de Senador Canedo: “O problema da alfabetização já existia, mas ficou evidente”

O secretário frisa que os alunos têm dificuldades diferentes geradas no período de pandemia, que, se não observadas, podem gerar deficiências ao longo prazo no que se refere ao aprendizado. Mas para isso, Marcelo afirma que terão que ser feitas várias avaliações diagnósticas e cada uma com intencionalidade diferente para ajudar a tratar os casos de forma pontual referente ao déficit de aprendizagem. 

O secretário diz que o município de Senador Canedo, para contribuir no processo de recuperação do ensino, vai lançar mão de contra turno, realizando várias avaliações diagnósticas para garantir que a escola realize atendimentos especializados a cada aluno. “De forma crítica, para fazer tudo isso, temos falado em dois anos. Vamos começar a ter resultados positivos, mas é um processo que leva muito mais tempo”, esclarece. 

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