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Pautas ideológicas e agronegócio alinham bancada goiana a Bolsonaro, diz cientista político


Avatar Por Redação em 31/05/2021 - 00:00

Flávia Morais é líder da bancada goiana, mas oposição ao presidente|Elias Vaz está entre os três goianos que são declaradamente da oposição|Rubens Otoni é do PT, partido que mais perdeu com eleição de Bolsonaro

Por Thiago Queiroz

Classificada como a quarta mais governista no país, em levantamento feito pelo site Congresso em Foco, a bancada goiana na Câmara dos Deputados tem como ligação de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) as pautas ideológicas como religião, conservadorismo, militarismo e mecanismos que facilitaram o armamento da população, diz o sociólogo e cientista político Lehninger Mota.

O levantamento do site analisou 735 votações, de março de 2019 a março de 2020, e constatou que, em 82% dos casos, as votações foram consoantes com o que queria o governo. “Outro ponto forte de Bolsonaro, que atrai muito o apoio da bancada goiana, é a atenção que o presidente dispensa ao agronegócio, que é um dos motores econômicos do nosso estado”, diz Lehninger.

Ele cita que, dos 17  deputados federais, somente três têm divergências robustas ao presidente e suas pautas. São Flávia Morais (PDT), Elias Vaz (PSB) e Rubens Otoni (PT). “O que eles têm em comum é o fato de seus partidos figurarem no campo progressista e fazerem dura oposição ao governo de Bolsonaro.”

O cientista explica que esse apoio dado por meio de votos aos projetos deve ser interpretado como sendo mais para o governo do que para a própria figura do presidente, já que, segundo ele, é uma figura muito controversa, que atrai amor ou ódio.

“Existem também as emendas parlamentares, que são um incentivo importante para votar a favor de projetos presidenciais, mas o fato mais relevante para termos a quarta bancada mais fiel ao presidente são as pautas ideológicas e o agronegócio, defendidas por Bolsonaro e que agrada muito à maioria dos parlamentares goianos.

Sem sintonia

Por outro lado, em pesquisa feita pelo instituto Poder Data, entre os dias 24 e 26 de maio, a aprovação popular ao governo do presidente é de apenas 31% nos estados da região Centro-Oeste, ante 64% de desaprovação.

Lehninger diz que o fator causador do baixo índice é o violento aumento de preços dos produtos da cesta básica. “Temos uma pecuária muito forte aqui, no entanto, o preço final de um quilo de carne atualmente é tão alto que os níveis de consumo dos 211 milhões de brasileiros caíram aos mesmos do ano de 1996, quando a população do país era de 164 milhões de habitantes. Essa perda no poder de compra reflete rapidamente na forma como a sociedade enxerga seus representantes”, explica ele.

Esse distanciamento da aprovação popular ao go­verno com a fidelidade dos parlamentares é vista por Lehninger como mais um sintoma da crise sanitária. “Dificultou muito o diálogo de parlamentares com as suas bases.”

Ele prevê que com a aproximação das eleições do próximo ano os parlamentares vão recalcular os impactos de continuarem dando anuência a um projeto administrativo tão rejeitado pela população. “Muitos vão começar a discutir outros projetos presidenciais, por não necessitarem tanto mais dos recursos que hoje estão levando aos seus redutos eleitorais, que lhes favorecem, atualmente, mais que uma oposição severa a Bolsonaro.”

Sobre o fato de o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM) ter a simpatia da maioria dos deputados federais e ser apoiador do presidente, Lehninger explica que assuntos estaduais pouco influenciam na política do Con­gresso. “Lá, os deputados tendem, puramente, a seguir uma lógica mais nacional, onde os partidos orientam suas bancadas a votar em bloco. Intervenções dos governos locais são pontuais, geralmente em questões financeiras que favorecem estados e municípios”, observa Lehnginer.

O cientista ressalta ainda não ver interferência do governador nessas votações a favor dos temas defendidos pelo governo federal. “O exemplo mais claro disso é a líder da bancada goiana, deputada Flávia Morais, que faz oposição ao governo federal e, em Goiás, está na base do governador”, finaliza Lehninger.

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