A falta de entendimento entre os parlamentares da base do prefeito Sandro Mabel (UB) levou à suspensão da sessão desta terça-feira (3) na Câmara Municipal de Goiânia, adiando mais uma vez a votação do Projeto de Lei nº 205/2025, que prevê o remanejamento de R$ 10 milhões para a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra). Nos bastidores, vereadores negociam para aprovar a matéria, que é vista como teste do tamanho da base.
A proposta, de autoria do prefeito, enfrenta resistência da oposição e recomendação do Ministério Público de Goiás (MP-GO) para que não fosse apreciada. Vereadores divergem sobre o posicionamento do MP-GO e a usam para aumentar a influência no governo.
Conforme mostrado pela Tribuna do Planalto, a matéria tem como objetivo reforçar o relatório de investimentos da Prefeitura neste semestre, mas é questionada por sua falta de transparência. Nos bastidores, é defendida a melhora da situação fiscal para que a administração contraia empréstimo para realização de obras.
Os vereadores oposicionistas cobram esclarecimentos sobre a origem dos recursos e quais despesas serão anuladas para viabilizar o remanejamento, o que, segundo eles, ainda não foi devidamente explicado pelo Executivo.
Novo impasse
A proposta já havia sido retirada de pauta anteriormente após denúncia da vereadora Kátia Maria (PT), acolhida pela promotora Leila Maria de Oliveira, da 50ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público. O MP-GO recomendou que a Prefeitura apresentasse justificativa técnica detalhada sobre a necessidade do crédito adicional.
Durante a sessão, o vereador Luan Alves (MDB) apresentou um pedido de vistas para melhor análise do projeto, com promessa de devolução até a próxima terça-feira. O pedido foi apoiado por Kátia Maria (PT), Aava Santiago (PSDB) e Ronilson Reis (Solidariedade), mas gerou impasse entre os parlamentares. Sem consenso, a presidência da Casa optou por suspender a sessão e adiar a votação.
Base acuada
Aava criticou duramente o recuo da base governista diante das pressões do Paço Municipal. “Eu quero saber que tipo de amarra esses vereadores têm com o Paço. O prefeito está maltratando a própria base, colocando-a numa situação vexatória”, disparou. Ela também repudiou o uso do Ministério Público como bode expiatório. “Quem está cerceando o voto dos senhores é o prefeito Sandro Mabel, não a promotora Leila.”
Kátia Maria foi na mesma linha ao denunciar o que classificou como “manobra orçamentária” da Prefeitura. “Misturam despesas de custeio com investimentos, sem critério técnico ou clareza sobre os impactos sociais. Querem transferir recursos para a Comurg na surdina, sem discutir sua dependência orçamentária”, criticou.
O vereador Fabrício Rosa (PT) também demonstrou preocupação com a ausência de planejamento. “Não foi apresentado cronograma de ações, justificativa técnica ou elementos que justifiquem o crédito. Há confusão conceitual entre despesas correntes e de capital. Por isso, voto contra.”
Articulação difícil
Apesar das tentativas de convencimento nos bastidores por parte da base governista, com articulação de nomes como Igor Franco (MDB), Lucas Kitão (UB) e Bessa (DC), o clima ficou tenso. Pedro Azulão Jr (MDB), que já vinha fazendo críticas públicas a secretários, propôs a suspensão da sessão como alternativa diante do impasse. Depois de uma hora, Romário Policarpo reabriu e encerrou a sessão por falta quórum.
Com a suspensão da sessão, a matéria deverá ser pautada na sessão desta quinta-feira (12), enquanto a oposição promete continuar mobilizada e não descarta judicializar o caso.