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Um a cada quatro trabalhadores já é da Geração Z e empresas precisam se adaptar

Com uma visão sobre o trabalho diferente dos mais velhos, quem nasceu entre os anos de 1995 e 2010 chega ao mercado de trabalho buscando por propósito real e flexibilidades


Avatar Por Redação Tribuna do Planalto em 01/05/2025 - 12:47

Engenheira Stéfani Silva: "geração Z não abre mão do descanso"

Dados de uma pesquisa da consultoria McKinsey apontam que, já neste ano de 2025, os jovens nascidos entre 1995 e 2010, a geração Z, representam 25% da força de trabalho global e nos próximos cinco anos eles serão 30% dos trabalhadores ativos no planeta. Isso significa que empresas que ainda não têm ações e estratégias para atrair e manter esses jovens talentos em seus quadros precisam levar em consideração como se adaptar a essa nova geração, que tem um olhar diferente em relação ao trabalho e seus objetivos.

E quem são os Zs? Um estudo do Grupo Consumoteca (que investiga o comportamento através das lentes da cultura na América Latina) e da Caju (empresa de tecnologia que oferece benefícios e soluções de RHs) pontua que eles priorizam a vida pessoal em detrimento do trabalho, tanto é que 62% deles não ambicionam ser gestores, função que exige mais tempo e energia. Entre os que desejam construir carreira, imediatismo é a palavra que mais os define: falta paciência para o processo natural de desenvolvimento, tanto é que, dados do Ministério do Trabalho, apontam que os jovens entre 24 e 28 anos são os que mais pulam de emprego em emprego.

“E eles não tem muito problema quanto a mudanças, se não deu certo, não gostaram do trabalho, viram as costas e vão embora. São desapegados”, diz Jadson Medeiros, psicólogo com MBA em Desenvolvimento Humano, Psicologia Positiva e Bem-estar nas organizações.

Para os Zs, aponta o estudo, o trabalho tem de ter um propósito, afinal 81% dos jovens brasileiros acreditam carregar a responsabilidade de contribuir positivamente à comunidade em que vivem. Por outro lado, eles não sabem bem o que querem fazer: somente 12% têm segurança acerca da profissão escolhida. Por isso mesmo, o trabalho é a segunda posição entre os motivos que mais geram ansiedade entre eles.

Jadson Medeiros, especialista em desenvolvimento humano

Se por um lado, o jeito de pensar da Geração Z traz desafios de adaptação ao mercado de trabalho, por outro eles têm muito a contribuir com as empresas, considera Jadson. “Esses jovens trabalhadores, quando há uma convergência de interesses, eles têm uma capacidade enorme de se conectarem com o propósito da empresa onde estão, então eles têm um engajamento muito forte com o trabalho. Eles também são multitarefas e fazem com facilidade muitas atividades simultaneamente. E uma outra característica muito importante que eles têm é abertura muito maior para mudança, até porque eles são de uma época, que é a atual, em que as mudanças são muito rápidas, o mundo é muito dinâmico hoje. Diferentes das gerações mais antigas como a X (nascidos entre 1965 e 1980), que têm uma resistência muito grande a qualquer mudança, que realmente na época deles eram bem mais lentas”, esclarece.

Na Yutá Inc., empresa onde Jadson é gerente de recursos humanos, 35% de seus colaboradores têm até 30 anos. Ele lembra que os Zs estarão sim cada vez mais presentes no mercado de trabalho e as empresas precisam urgentemente se adaptar a esses jovens trabalhadores. “É uma questão de acolhimento, as organizações precisam levar em conta é moldar a sua estrutura para receber da melhor forma essa nova geração”, avalia o especialista em gestão de pessoas.

Para exemplificar o que pode ser feito pelas empresas para esse acolhimento à geração Z, Jadson cita ações desenvolvidas pela própria empresa onde atua. “Hoje nós buscamos, é primeiro conectar esse colaborador ao propósito da Yutá, então antes da gente falar de qualquer outra coisa, a gente fala do nosso propósito, da nossa cultura, para que se haja uma conexão com os valores da empresa com o seu propósito. Isso acontece já no processo seletivo e faz parte de uma cultura interna impulsionada pelos nossos próprios diretores que são bastante jovens”, revela.

O gerente de RH da Yutá também explica que a empresa trabalha muito com o autodesenvolvimento, uma vez que os jovens estão em fase de consolidação de seus próprios objetivos de carreira. ”A gente tem, por exemplo, a prática da Cumbuca, que é uma espécie de Clube do Livro que é uma forma de estimular esse autodesenvolvimento pessoal e profissional. Temos plano de desenvolvimento individual, temos plano de carreira. Ou seja, buscamos engajar esse jovem no propósito da empresa, mas também no propósito de seu próprio desenvolvimento”, esclarece.

Com a palavra, os Zs
“Esse envolvimento no Projeto Cumbuca me ajudou a enxergar a me conectar mais com a empresa e ter ainda mais clareza do meu papel”, conta a assistente de marketing, Renata Elvira de Andrade Carvalho, hoje com 27 anos.

Renata Carvalho: “clareza do meu papel”

Ela conta que o início de sua jornada profissional foi cheio de incertezas. Depois de se formar no ensino médio, fez a formação técnica em radiologia. “Não foi bem uma escolha, eu nem conhecia bem área, mas tive a oportunidade de fazer o curso gratuito”, lembra

Na pandemia, o fechamento das clínicas acabou levando-a a perder o emprego e ela seguiu em busca de uma nova inserção no mercado de trabalho. Foi quando entrou para a Yutá Inc, em 2021. Começou como recepcionista, depois passou a ser SDR (sigla em inglês para a função de filtrar leads, uma operação do marketing digital), depois passou pela gestão comercial e hoje está como assistente de marketing.

Hoje, realizada com o que faz, planeja buscar aprimoramento na área. “O trabalho é mais dinâmico, tenho contato com pessoas, há muitos eventos, a gente não fica enclausurada em uma sala”, compara. Mas o fato de entender melhor o seu papel na organização fez toda a diferença.

“Isso me fez gostar mais do trabalho. Eu me encontrei, quero me aprimorar, não é algo passageiro”, planeja ela, ao falar sobre o pensamento de sua geração: “Trabalhar em alguma coisa que a gente não gosta é péssimo. Por isso, quando a gente não se identifica com a função, não vemos sentido em continuar”, arremata.

Visão diferente
Com 30 anos de idade, a engenheira civil da Sim Incorporadora, em Goiânia, Stéfani Cristina Alves Silva, nasceu no limite temporal que divide a geração Y (nativos entre os anos 1980 e meados da década de 1990) e a dela, a Z, por isso ela fala com certa propriedade o que é conviver no trabalho com gerações diferentes. Na empresa onde trabalha, na sede administrativa, 50% dos colaboradores são da geração Z e a outra metade de gerações mais antigas, entre os nativos da Y e X (nascidos entre 1965 e 1980. Nos canteiros de obras da incorporadora, esse percentual é diferente, e apenas 30% dos trabalhos são formados por jovens.

Stéfani reconhece que os jovens de sua geração têm uma visão sobre o trabalho bem diferente de quem hoje é mais experiente, e isso, segundo ela, reflete em posicionamentos distintos. “Eu percebo que quem é mais experiente, de outras gerações mais antigas, aguentam mais a pressão do trabalho. Tem mais abertura para fazer hora extra e até adiar as férias para cumprir um cronograma da obra. Já a geração Z não é assim. Eles querem ter o tempo de trabalhar, mas não abrem mão do tempo de descanso. Querem ter um regime de contratação conforme realmente foi contratado. Não quer fazer muita hora extra”, relata.

Mas ao passo que percebe um maior grau de resiliência por parte dos nativos da Geração X e Y, ela vê nos mais jovens um ponto bastante positivo, que abertura bem maior para mudanças. “Quem é mais experiente, as gerações anteriores, é menos propenso a mudança. Quando vamos, por exemplo, implantar uma plataforma digital, digitalizar um procedimento que antes era no papel, os mais velhos têm mais dificuldade, têm mais resistência. Já os mais novos pegam bem mais rápido, até porque eles são ávidos por mudanças, eles até buscam isso”, avalia a jovem que entrou na Sim Incorporadora ainda como estagiária e hoje está prestes a ser promovida como RD (representante da diretoria) no Setor de Qualidade.

Mas apesar dos conflitos naturais por causa de uma visão de mundo diferente, Stéfani acredita que esse encontro de gerações traz benefícios para as empresas e para os profissionais, unindo o que se tem bom entre os mais jovens e os mais experientes, mas salienta que as empresas precisam se adaptar. “É uma nova realidade e o jovem não quer trabalhar só para pagar as suas contas e se manter. Ele quer conciliar a parte de trabalho, ter também um estilo de vida mais equilibrado, mais saudável. E, assim, a vida dele não é só o trabalho. Antigamente o trabalho era 70% da vida das pessoas, hoje isso é diferente. Então, acho que as empresas têm que ser mais flexíveis em relação a isso. Tem que propor um regime de contratação que possibilita, por exemplo, o day-off, que é a folga no dia de aniversário. Tem que oferecer aquele momento de descontração dentro do trabalho. Deixar o ambiente mais leve”, pontua a jovem engenheira.

Outro fator fundamental para que os nativos da Geração Z se engajem mais no trabalho é a visualização de perspectivas futuras que resultem num crescimento profissional mais rápido do que se tinha antigamente. Stéfani, por exemplo, relata que sua jornada profissional foi um pouco diferente da de seus colegas de geração. Começou na empresa em 2017, foi seu primeiro estágio e lá ficou. Passou pelos cargos de assistente de engenharia, depois virou coordenadora e agora vai subir de cargo novamente. “Eu fui menos imediatista que muitos dos meus colegas de faculdade e muitos inclusive deixaram a área. Mas, por outro lado, tive as oportunidades de crescimento, o que atrai a minha geração. Logo após formada, tive a oportunidade de acompanhar uma obra do começo até a fase de pós-entrega, o que era importante para mim. Depois passei a ser coordenadora do sistema de qualidade. Outro ponto é que a empresa sempre foi flexível no dia a dia”, relata.

No canteiro de obras
História parecida tem o atual encarregado de obra Jardel Sousa, de 28 anos, na Sim Incorporadora. Ele chegou no canteiro de obras bem novo, com 18 anos, na posição de servente. “Eu vim do interior do Maranhão e entrei na empresa com 18 anos e gostei do trabalho, mas o que mais me motivou a seguir nessa área da construção civil foi as possibilidades de crescimento que a empresa me ofereceu”, relata Jardel, que há dois anos ocupa o cargo de encarregado de obra, função que dentro da hierarquia do canteiros de obras só fica abaixo do engenheiro e do mestre de obras.

Joel Sousa veio do interior do Maranhão

Apesar de estar num emprego convencional, com carteira assinada, com rotina de horários e tudo mais, Jardel reconhece que muitos jovens da sua idade estão optando por outros trabalhos, que garantem um retorno financeiro mais imediato, menor necessidade de formação e flexibilidade. “Não tenho tantos colegas de trabalho jovens nas obras. Agora, eles estão entrando mais nessa de trabalhar com iFood, Uber, e são trabalho que dão uma renda mais rápida e fácil. No meu caso, eu vi na empresa onde trabalho hoje uma perspectiva melhor do que esse trabalhos alternativos”, destaca.

 

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