Em divergência com parlamentares ligados às minorias políticas, vereadores da base do prefeito Sandro Mabel (UB) minimizaram a ação da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que impediu uma atividade de acolhimento a pessoas em situação de rua neste sábado (17), na Praça Joaquim Lúcio, em Campinas. Para os aliados do Paço, a solidariedade deve seguir o protocolo oficial da Secretaria de Assistência Social. A oposição, no entanto, reagiu.
Rose Cruvinel e Lucas Kitão, do mesmo partido do prefeito, defenderam a medida como estratégia da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, Assistência Social e Direitos Humanos (SEMASDH) para enfrentar a agenda social. Parlamentares governistas de outros partidos também evitaram tecer críticas à administração.
Rose, que é médica, sugeriu que os parlamentares incomodados com a ação acolham pessoalmente esta população. “Eu pergunto aos senhores vereadores quem quer levar um grupo de morador de rua para morar na porta do seu condomínio do seu bairro, que aí eu vou levar um carrinho para dar banho lá na porta da sua casa”, discursou.
Segundo a vereadora, as entidades de assistência deverão enviar os donativos para a pasta para que, então, a secretaria faça a destinação conforme a política municipal implementada na administração do prefeito Sandro Mabel (UB).
“O que foi feito ali já é uma determinação desse projeto (…) essas entidades que entregam comida e roupa, que faz esse trabalho social, quem quiser ajudar vai procurar a secretária e levar porque tudo que a comunidade quiser doar ou beneficiar os moradores de rua será entregue através da secretaria de assistência social”, afirmou.
Já o vereador Lucas Kitão (UB) criticou discurso do vereador Fabrício Rosa (PT) que cobrou responsabilidade da administração com esta população. Ele também mencionou que sugeriu à secretária Eerizânia de Freitas que se reúna com a Arquidiocese de Goiânia para discutir a concentração das ações pela pasta.
“Eu quero repudiar todas as palavras do colega quando ele atribui ao atual prefeito um o problema estrutural na assistência social de Goiânia”, condenou Kitão. “Ao invés de vir aqui vomitar esse tanto de coisa, por que não propõe uma saída”, indagou.
O vereador Pedro Azulão Jr. disse que o prefeito visa devolver a Praça Joaquim Lúcio para os moradores de Campinas. “Qualquer morador de rua tem a Casa da Acolhida, tem a nossa secretaria que tira eles cedo e à tarde eles voltam”, disse. “Larga dessa demagogia, o prefeito Sandro Mabel é um homem honesto que está trabalhando”, defendeu.
Rose, em nova intervenção, sugeriu que Fabrício Ropsa não conhece o programa lançado em abril, após o retorno do prefeito da Itália. “É muito fácil fazer o discurso em favor dos descamisados. Pega um e leva pra casa, só isso”, falou.
Desigualdade social
O vereador Fabrício Rosa, que também é ouvidor de Combate a Crimes Raciais e de Intolerância da Câmara Municipal de Goiânia, protocolou denúncia no Ministério Público de Goiás (MP-GO), na Defensoria Pública do Estado (DPE-GO), no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e na própria GCM, para que investigue a dinâmica da ação deste sábado (17).
Em publicação feita no Instagram, o sociólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Dijaci de Oliveira, classificou como “ambígua” a postura do município diante da população em situação de rua.
Fabrício começou seu discurso nesta terça-feira (20) abordando a desigualdade social como fator que “expulsa” as pessoas de oportunidades de vida. Ele relacionou à desigualdade com a concentração de riqueza e mencionou o prefeito Sandro Mabel como um “prefeito empresário multimilionário que não acredita na entrega de políticas públicas por meio do serviço público”. Ele disse que a GCM obedece ao poder do prefeito.
“Essa gestão hipócrita impede a solidariedade, a generosidade, o cuidado. Na medida que impediu uma associação de oferecer banho, nós não estamos falando de direitos mais sofisticados, estamos falando de banho”, pontuou Rosa. “Essa cidade impede que as pessoas tomem banho. Os milionários da nossa cidade têm horror, nojo, medo e desconhecem as verdadeiras políticas para a população em situação de rua”.
Problema histórico
A vereadora Kátia Maria (PT) disse que o que houve não é um caso isolado e ocorre antes da administração atual. “Dias antes, a Polícia Militar fez a mesma ação na Praça Botafogo. A diferença é que não tinham entidade e os moradores não conseguiram registrar”, afirmou. Segundo ela, o Centro Pop atende minoria da população e que as condições estruturais dos equipamentos de assistência não garantem dignidade.
“Não se pode vetar ajuda humanitária, porque não se nega comida, não se nega banho, não se nega agasalho, não se nega dignidade às pessoas que precisam. Essas pessoas estão na rua porque a prefeitura não está fazendo a sua tarefa, porque se estivesse fazendo a sua tarefa, eles estavam em lugares dignos, seja da saúde mental, seja da moradia, seja do trabalho”, defendeu Katia.
O vereador Denício Trindade (UB) afirmou que faz parte da paróquia responsável pela ação social e pediu que a prefeitura garanta a continuidade da iniciativa de assistência.
A reportagem solicitou entrevista ou posicionamento da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, Assistência Social e Direitos Humanos (SEMASDH) às 11h12, por e-mail, e aguarda retorno.