Por Thiago Queiroz
ido como o todo-poderoso da administração do prefeito Rogério Cruz (Republicanos), o secretário de Governo da Prefeitura de Goiânia, Arthur Bernardes, foi o primeiro nome indicado pela cúpula nacional do partido para a gestão do atual prefeito assim que ela foi definitivamente iniciada. Foi ele o responsável por conduzir as escolhas a fim de substituir a equipe montada pelo MDB de Maguito Vilela. Desde então, Bernardes é o responsável pelas principais decisões da administração municipal e por implantar um modelo de gestão próprio e alinhado com as políticas do Republicanos.
Foi o secretário também quem esteve à frente das articulações para que Cruz tivesse apoio dos vereadores, inclusive seis do MDB, e pudesse romper de vez com o grupo que ajudou a eleger a chapa vitoriosa da qual ele fez parte como candidato a vice-prefeito. Graças ao trabalho de Bernardes, a paz passou a reinar na relação da prefeitura com a Câmara, com o prefeito tendo apoio de 33 dos 35 vereadores.
A boa relação com o Legislativo começou a estremecer diante das queixas de vereadores por pedidos não atendidos pelo secretário. Nas secretarias do Paço há também reclamações por parte de colegas de Bernardes de que na administração só avançam os projetos que têm a simpatia do secretário de Governo.
Os desentendimentos, inclusive, foram publicados pela Tribuna Política, que revelou a realização de uma reunião convocada por Bernardes em nome do prefeito para advertir todos os que compõem o primeiro escalão. O motivo: alguns deles estarem atendendo a solicitações feitas, na maioria por vereadores, diretamente a eles e sem que o prefeito ou a Secretaria de Governo soubessem ou participassem das tratativas. A reunião foi realizada a portas fechadas, e os celulares de todos que entravam na sala eram retidos.
Vereadores ouvidos pelo Tribuna do Planalto reclamam da relação com o secretário de Governo. Um deles chegou a afirmar que, para a Câmara, é como se ele não existisse e o cargo estivesse vago. Segundo eles, são tratados com “chá de cadeira” nas audiências presenciais que solicitam, e nas mensagens que enviam para o WhatsApp só recebem “vácuo”, nunca respostas.
Da base do prefeito, uma vereadora diz que seu relacionamento com Bernardes é estritamente protocolar. “Me senti desrespeitada, diminuída como vereadora quando busquei atendimento. Desde então, só o encontro em eventos, e só o cumprimento porque não tenho que conversar naquela hora, fica só nisso mesmo”, diz ela, ao entregar os colegas: “Se não publicamente, nos bastidores todos reclamam dele.”
Outro vereador condena Bernardes por ele ser de outro estado e não ter vínculo com o município nem com a política local. “Ele veio somente para fortalecer a estrutura do Republicanos e o projeto que eles têm no país. Ele é o cara que está preocupado só com os interesses do partido”.
Esse mesmo vereador critica ainda o prefeito, por, segundo ele, ter terceirizado a gestão. “Tudo na prefeitura parou. Tudo tem que passar, e passa, por ele. O prefeito se tornou uma espécie de, como dizem na política, rainha da Inglaterra. Ele faz apenas a parte social e vai aos eventos.”
Mas foi na Câmara que se tornaram públicos os problemas envolvendo Bernardes, num desfecho que poderá culminar em atritos também com membros da equipe administrativa insatisfeitos com ele, e com grupos políticos responsáveis por sustentar os projetos e decisões tomadas pelo Paço. “Todos sabem da influência que ele tem aqui [prefeitura], porque veio lá de cima, mas essa briga com os vereadores vai servir para outros políticos e secretários ‘soltarem os cachorros’”, diz um servidor.
A briga a que ele se refere começou com acusações feitas pelo vereador Kleybe Morais (MDB), na tribuna da Câmara, de que Bernardes teria feito ameaças a sua família e de o perseguir e punir com a cassação de seu mandato caso saísse da base de apoio ao prefeito. “Vários vereadores estão sendo coagidos, ameaçados e amedrontados”, denunciou o vereador. Na quinta-feira, o vereador Santana Gomes (PRTB) apresentou requerimento durante a sessão pedindo a demissão do secretário, diante da denúncia de ameaças ao colega. O requerimento não foi aprovado.
Outro auxiliar direto do prefeito diz que as reclamações partem, principalmente, por parte de vereadores novatos, que têm pressa excessiva no atendimento a suas demandas. “É normal para quem ocupa um cargo como o do secretário Arthur enfrentar problemas como esses”, observa, ao ressaltar que, pela estatura do cargo, é normal ele ser uma figura mais isolada, não tão acessível.
Já um secretário defende o colega e garante que Bernardes só não dá atenção para “pedidos pontuais”, mas que é um secretário proativo e que domina as técnicas da administração pública. “Ele teve muita experiência em Brasília”. Um terceiro, mais experiente com articulação com vereadores e grupos políticos, avalia que Bernardes trabalha nos moldes de Brasília, com uma visão mais técnica. “É focado em projetos, em governança, não no provincianismo de vereadores que só pensam no seu próprio bairro.”
Um outro vereador sentencia que o secretário está perdendo a força dentro da gestão por não conseguir cumprir as promessas feitas com alguns na Câmara. “Acho que a base vai desmanchar, porque não foi uma base solidificada na ação política, para um projeto político. Vereadores puderam nomear superintendentes, diretores, mas sabemos que isso não resolve. Sempre vão querer mais e o secretário não vai conseguir atender. É uma pedra de gelo que está se derretendo.”
Perfil
Arthur Bernardes de Miranda, 38 anos, é bacharel em Direito, atuante na área tributária e especialista em políticas públicas. Já atuou na Secretaria de Ensino Médio e Tecnológico do Ministério da Educação. No governo do Distrito Federal, foi administrador regional da Ceilândia, secretário de Economia, Desenvolvimento Sustentável e Turismo e secretário de Justiça e Cidadania. Também atuou como diretor da Companhia de Planejamento do DF; conselheiro de Planejamento Territorial e Urbano do DF; presidente do Conselho de Gestão do Programa de Apoio ao Empreendimento Produtivo do DF; presidente do Conselho de Financiamento à Atividade Produtiva do DF; secretário-executivo do Conselho Gestor de Parcerias Público Privadas do DF; e consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Na Câmara Legislativa do DF, foi chefe da Divisão de Orçamento, Finanças e Contabilidade.