Antigamente – nem tão antigamente assim – o máximo de ridículo que os candidatos se permitiam era algo do tipo:
– comer pastel na feira, sem nunca ter ido na feira antes;
– montar cavalo e entregar-se todo desengonçado;
– dançar na quermesse como se fosse o último tango em Paris;
– beijar menino catarrento como se fosse a coisa mais normal da sua vida.
Por aí. Hoje isso virou folclore, coisa dos velhos tempos. Político hoje:
– corre atrás do adversário com carteira de trabalho, mesmo com ficha corrida na polícia;
– põe óculos preto e sorri com orgulho do próprio espetáculo lacrador;
– xinga, grita e cospe no inimigo em pose de herói de sua bolha: seu comunista!, seu fascista!;
– mete a cabeçada no adversário e nem pisca para as câmeras.
Percebam que, noves fora a cara lavada, como diziam os antigos, a única coisa que mudou foi o nível do ridículo.
O ridículo continua comandando a festa. Com outro significado. Não o do Everaldo Marques, que mete um “Você é ridíííííículo” toda vez que vê algo extraordinário. O do dicionário, simples.
É o ridículo em redes sociais, o novo picadeiro sem fronteiras. O ridículo sem limites de audiência e sem fronteira para as mais absurdas – ou estratégicas – performances irracionais.
Porque, convenhamos, funcionam.
Trocamos o ridículo espirituoso pelo ridículo espírito de porco.
Deixamos de ter um público de ridicularizados consumidor de simples baixarias, para ter uma plateia ávida pelos mais profundos e apoteóticos mergulhos dos políticos e das políticas no palco dos infernos de suas ambições.
É na urna que os bufões riem. Viva a urna!