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O ridículo eleitoral não é mais o mesmo. Viva o novo ridículo


Vassil Oliveira Por Vassil Oliveira em 15/08/2024 - 11:23

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Antigamente – nem tão antigamente assim – o máximo de ridículo que os candidatos se permitiam era algo do tipo:

– comer pastel na feira, sem nunca ter ido na feira antes;
– montar cavalo e entregar-se todo desengonçado;
– dançar na quermesse como se fosse o último tango em Paris;
– beijar menino catarrento como se fosse a coisa mais normal da sua vida.

Por aí. Hoje isso virou folclore, coisa dos velhos tempos. Político hoje:

– corre atrás do adversário com carteira de trabalho, mesmo com ficha corrida na polícia;
– põe óculos preto e sorri com orgulho do próprio espetáculo lacrador;
– xinga, grita e cospe no inimigo em pose de herói de sua bolha: seu comunista!, seu fascista!;
– mete a cabeçada no adversário e nem pisca para as câmeras.

Percebam que, noves fora a cara lavada, como diziam os antigos, a única coisa que mudou foi o nível do ridículo.

O ridículo continua comandando a festa. Com outro significado. Não o do Everaldo Marques, que mete um “Você é ridíííííículo” toda vez que vê algo extraordinário. O do dicionário, simples.

É o ridículo em redes sociais, o novo picadeiro sem fronteiras. O ridículo sem limites de audiência e sem fronteira para as mais absurdas – ou estratégicas – performances irracionais.

Porque, convenhamos, funcionam.

Trocamos o ridículo espirituoso pelo ridículo espírito de porco.

Deixamos de ter um público de ridicularizados consumidor de simples baixarias, para ter uma plateia ávida pelos mais profundos e apoteóticos mergulhos dos políticos e das políticas no palco dos infernos de suas ambições.

É na urna que os bufões riem. Viva a urna!

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).

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