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Candidato no passado, campanha sem futuro


Vassil Oliveira Por Vassil Oliveira em 19/09/2024 - 06:00

Campanhas focadas no passado falham ao esquecer que o eleitor vota com esperança no futuro.
Campanhas focadas no passado falham ao esquecer que o eleitor vota com esperança no futuro. Foto: Freepik

Ninguém vota por gratidão. Quem faz campanha há um tempinho conhece a máxima. Eleitor nenhum se vê devedor de um novo. Só um político já exerceu cargo, no Executivo principalmente, e foi ruim ou excelente – não fez mais do que a sua obrigação -, não importa. Isso é passado. Não é crédito para reeleição ou nova eleição. O candidato que lute. O candidato que lute por um novo voto de confiança, um novo mandato.

Campanhas foçadas no retrovisor, tentando ressuscitar um tempo que foi bom, desobedece um outro mandamento básico do manual eleitoral de sucesso: esquece que voto é futuro. É esperança. É melhorar a vida. Como fazer isso no passado? Por melhor que seja a boa época do mandato ou da gestão maravilhosa, ela nunca superará o que está por vir, porque o que já era, já era. O que será que será é que importa.

Desapegar-se de gestões boas é um dos principais problemas de bons prefeitos que não abrem mão do protagonismo do que fizeram. O que fizeram, bom coadjuvante na nova história, por ser alicerce seguro para novas paredes, vira então adversário, por querer ser parede onde não lhe cabe: o futuro. Nada se compara ao que está por vir. E é este o discurso, a verdade e a fé que o eleitor busca. Do contrário, seria perder vida, em vez de viver mais, o que teria de fazer para ter o que só lhe é oferecido na velha história.

O apego ao passado mostra outra coisa ainda: que aquele político não chegou ao presente, e até por isso não consegue divisar e oferecer um futuro aos eleitores. Aquele político continua lá, entre o último e o primeiro ato de seu mandato, de sua administração, de seu tempo, que não é mais senão outro tempo, anterior. Quem quer um político perdido no tempo. Quem vota em político que continua onde está, ou até anda para trás, em vez de avançar para além, para novos, modernos e motivadores horizontes?

Eleitor não muda. Racional até certo ponto, emocional até o lá fios do cabelo. Vender passado como promessa de futuro é mais difícil que vender terreno no céu. Terreno no céu não tem próxima eleição. Pegue todos os seus feitos e conte uma boa história. Junte todo o seu orgulho e compre uma passagem para amanhã. Hoje Inês é morta. Quem sabe amanhã a ressurreição não chegue por suas mãos? Quem sabe não seja você na máquina do tempo vindo nos liderar?

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).