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Morre Cristina Buarque, irmã de Chico Buarque e voz das velhas guardas do samba


Avatar Por Redação Tribuna do Planalto em 20/04/2025 - 14:06

Morreu neste domingo (20), aos 74 anos, a cantora e compositora Cristina Buarque, vítima de complicações causadas por um câncer. A informação foi confirmada por seu filho, Zeca Ferreira, em publicação nas redes sociais. Cristina era filha do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda e irmã dos artistas Chico Buarque, Miúcha e Ana de Hollanda. Estava radicada na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, onde viveu seus últimos anos.

Avessa aos holofotes, Cristina Buarque construiu uma carreira marcada pela devoção à memória do samba e pela valorização de compositores das velhas guardas das escolas. “Bom mesmo é o coro”, dizia, em frase lembrada na homenagem feita pelos filhos Ana, Zeca, Paulo, Antônio e Piiizinha. “Viveria mesmo feliz a vida escondidinha no meio das vozes não fosse esse faro tão apurado, o amor por revirar as sombras da música brasileira em busca de pequenas pérolas não tocadas pelo sucesso.”

A estreia fonográfica ocorreu em 1968, quando gravou a faixa “Sem Fantasia” com o irmão Chico Buarque no LP Chico Buarque – Volume 3. Seis anos depois, lançou seu primeiro álbum solo, Cristina (1974), onde interpretou “Quantas lágrimas”, de Manacéia, além de obras de Dona Ivone Lara, Nelson Cavaquinho e Cartola.

Ao longo da década de 1970, destacou-se pelo trabalho de resgate e registro de sambas inéditos e esquecidos, como os de Candeia, gravados em fita cassete. Em Vejo Amanhecer (1980) e Cristina (1981), aprofundou a parceria com a Velha Guarda da Portela, Clementina de Jesus e Mauro Duarte. Também participou de tributos a Geraldo Pereira e Paulo da Portela, além de contribuir em coros e duetos com nomes centrais da história do samba.

Em 1998, Cristina foi uma das intérpretes do projeto Chico Buarque de Mangueira, no qual dividiu faixas com Carlinhos Vergueiro e outros nomes ligados à tradição do samba carioca. No início dos anos 2000, esteve na caixa Acerto de Contas, de Paulo Vanzolini, e no disco coletivo Um Ser de Luz, em homenagem a Clara Nunes.

Apesar de ter lançado poucos álbuns próprios, seu legado é celebrado por músicos e estudiosos como referência na preservação do samba como expressão cultural autêntica. Cristina era presença constante em rodas no Bar Bip Bip, em Copacabana, ponto de resistência do samba carioca. Foi lá que formou laços com artistas como Teresa Cristina e Pedro Miranda.

“Cristina teve uma importância gigante para a música brasileira. Não se rendeu aos caprichos do mercado para manter viva a obra dos compositores. Formou toda uma geração da Lapa do início dos anos 2000”, afirmou o músico Tiago Prata, o Pratinha.

A cantora Alice Canto lembrou, emocionada, da generosidade e discrição de Cristina. “Nunca se autoproclamou sambista. Era uma admiradora de fora, apaixonada pelas histórias e personagens dos sambas que cantava.” Cristina Buarque deixa filhos, netos e um vasto acervo de gravações.

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