Atual vice-prefeito de Aparecida de Goiânia, o ex-deputado João Campos deve migrar para outro partido da base do governador Ronaldo Caiado com a fusão do Podemos com o PSDB, que por 15 anos foi o partido dele. Sobre os primeiros meses da gestão de Leandro Vilela, Campos pontua que retomar o equilíbrio fiscal foi o principal desafio e que a solução encontrada para criar vagas nos Cmeis não é definitiva e que a prefeitura estuda contratar vagas no terceiro setor. Para ele, a proposta do governo federal para a segurança pública é uma “enganação”.
TRIBUNA DO PLANALTO
Administrar uma cidade como Aparecida de Goiânia é um desafio em razão do crescimento acelerado que o município vem registrando nos últimos anos. Quais os avanços que a gestão conseguiu neste período e quais as principais demandas da administração?
João Campos
A situação mais desafiadora que encontramos se refere ao equilíbrio fiscal: uma prefeitura com dívidas que nos surpreenderam. Sabíamos que íamos encontrar dificuldades, mas não da dimensão daquilo que encontramos. Quase meio bilhão em dívidas, incluindo a folha de servidores do mês de dezembro e a rescisão dos vínculos trabalhistas que se encerraram dia 30 de dezembro. Esse foi o primeiro e o maior desafio que encontramos, mas sabíamos que, independentemente do tamanho dessa dificuldade, a primeira coisa que devíamos fazer, e Leandro (Vilela) fez isso com muita firmeza e muita consciência, era um enxugamento da máquina, contenção de gastos, revisão de contratos para buscar o equilíbrio das contas o mais cedo possível. Isso foi feito com muita firmeza, com o apoio da Câmara de vereadores. Paralelamente à questão do desequilíbrio das contas e das dívidas, encontramos uma situação na saúde desfavorável, porque Goiânia tinha entrado em colapso na gestão do Rogério Cruz e isso sobrecarregou muito a saúde de Aparecida, que ainda está sobrecarregada. Já foram adotadas as medidas que cabiam para minimizar essa situação, mas ainda há uma sobrecarga. Isso tem nos preocupado muito, porque encontrar pessoas aguardando vagas, cirurgia, vaga de UTI e a administração com dificuldade de atender toda a demanda é algo que nos inquieta como pessoa humana. Outro setor desafiador eram as vagas no Cmeis com um déficit muito expressivo. Conseguimos avançar, mas não resolvemos tudo e acho que, no próximo ano, vamos conseguir estabilizar essa questão das vagas nos Cmeis. Fora essas três situações, a zeladoria da cidade, que estava abandonada, suja, muito buraco, mato, lâmpadas queimadas. Tivemos que entrar para valer, inclusive com contratação de equipes, porque no período chuvoso, por mais que trabalhe, é enxugar gelo, mas não pode deixar de fazer. A cidade é muito grande, 600 mil habitantes, imaginemos que as equipes ataquem a região do Garavelo e façam toda uma roçagem. Quando terminam ali e vão para a Região Leste da cidade, dali a 15, 20 dias o mato já voltou, porque a chuva favorece isso. Com o fim do período chuvoso, esse serviço está tendo mais resultado, tanto a roçagem como o tapa buraco. Em relação à iluminação pública, Leandro conseguiu finalizar uma PPP para substituição de todo o sistema de iluminação de Aparecida até 21 de dezembro deste ano e já temos mais de 10 mil lâmpadas substituídas por LED. Daqui para frente, temos um compromisso de campanha que é universalizar a infraestrutura de Aparecida, falta pouco, mas é preciso cumprir esse compromisso e nós vamos cumprir, que é não deixar uma só rua sem asfalto, até porque isso também vai nos ajudar em relação às próximas etapas de manutenção da qualidade da mobilidade da cidade. Vamos atacar isso com muita força e já existe a colaboração do governo do estado, firmando uma transferência de recursos que vai ajudar nessa questão da infraestrutura. Há um compromisso nosso com o governador Ronaldo Caiado e com o vice-governador Daniel Vilela para universalizar o serviço de água tratada e de esgoto, o que falta pouco. Água falta 10% e esgoto um pouquinho mais. Mas o governador e o vice-governador chamaram a Saneago e acredito que serão ganhos notáveis para a população de Aparecida.
Essa situação da saúde, que fica sobrecarregada em razão do atendimento de pacientes de outros municípios, pode ser evitada?
Na medida em que, principalmente Goiânia, sair dessa situação de colapso. Tivemos uma reunião há duas semanas com as equipes da Saúde de Goiânia e do estado e ficou acertado que a cada 15 dias faremos uma nova reunião para encontrarmos alternativas que possam minimizar esse quadro. Não dá para continuar como está.
Sobre a educação, a crise com os professores, que chegaram a deflagrar uma greve, foi pacificada?
Foi pacificada. A greve foi resultado de um momento em que a representação da categoria terminou não absorvendo o diálogo, tudo aquilo que foi proposto, mas a adesão foi muito baixa. Nós respeitamos isso e aquilo que tínhamos proposto, com diálogo com a categoria, foi transformado em projeto de lei que foi aprovado. A principal reivindicação era a questão do piso e isso foi consolidado. À medida que a principal reivindicação foi consolidada no projeto de lei, voltou-se à normalidade. Havia duas outras questões colocadas na agenda, mas havíamos dito que não dava para avançar de imediato, que eram as progressões, que estão judicializadas, e o concurso, que, no ano passado, por recomendação do Ministério Público e depois do Tribunal de Contas dos Municípios, foi sobrestado por ser ano eleitoral e também por algumas indagações acerca do procedimento. Pretendemos avançar nisso, mas foi dito no diálogo com a categoria que teria que ser em um segundo momento, porque o município teria que superar a questão judicial, mas também levar em conta a capacidade do tesouro.
Sobre as vagas nos Cmeis, a solução encontrada em Aparecida foi reduzir o período das crianças nas unidades para dobrar o número de vagas. Já foi avaliado se essa solução resolveu o problema das mães, principalmente das que trabalham período integral?
As mães continuam tendo dificuldade e nós pretendemos avançar em relação a isso no ano que vem. Uma das hipóteses mais prováveis seria buscar parceria com o terceiro setor para poder atender essa demanda e, na medida do possível, facilitar também a vida das mães. Isso nos sensibiliza muito, a mãe ser prejudicada em relação ao trabalho para complementar a renda, em função de não termos ainda a possibilidade de absorver essas crianças.
A parceria entre o senhor e o prefeito permanece harmônica? Há informação de que não há muita sintonia entre suas visões administrativas e políticas.
Não, zero. A relação com Leandro, quer do ponto de vista da gestão, quer do ponto de vista político, é 100%. Nós nos damos muito bem, dialogamos diariamente, procuro colaborar com as missões que me delegam, de tal forma que isso não existe.
Como deputado federal o senhor já foi oposição ao governo e sabe a importância de um governo ter uma oposição atuante. Como avalia o fato de o prefeito não ter oposição ou apenas um vereador de oposição?
Eu acho que isso revela, neste início de governo, uma certa maturidade e equilíbrio por parte da Câmara de vereadores. Temos vereadores dos mais diversos partidos e, até o mês passado, todos estavam apoiando a administração do Leandro. Não aquele apoiamento de linha, como se fosse uma coisa cega, mas por entender que as medidas que Leandro estava tomando eram adequadas, que o momento era de muita dificuldade, que Leandro estava buscando diálogo em relação a todos os assuntos com a Câmara, sem discriminar nenhum vereador. E fazer oposição já no início do governo, fica parecendo que é uma ausência de maturidade, fazer oposição por oposição. À medida que a administração vai andando e as ações acontecendo, é natural que um ou outro vereador, por questão ideológica, uma discordância com alguma decisão tomada, comece a se posicionar. Vejo isso com naturalidade. Certamente no curso da caminhada, não teremos só um vereador fazendo oposição, outros poderão também fazer. E a oposição, desde que seja responsável, séria, consequente, termina sendo útil e contribuindo para a administração, porque é alguém que tem outra visão, está fazendo uma crítica e essa crítica deve ser objeto de reflexão. De toda forma, vejo que esse comportamento de quase unanimidade certamente não persistirá por muito tempo.
O Podemos já discute estratégias para as eleições de 2026?
Eu penso que sim, mas não faço parte da direção do partido, o presidente é o deputado federal Glaustin (da Fokus) e há uma direção estadual. Penso que Glaustin esteja liderando essas conversas com uma certa cautela em função dessa questão com o PSDB, que termina dificultando, porque, enquanto não consolidar ou deixar de consolidar essa fusão, os diálogos ficam um pouco prejudicados.
Qual sua opinião sobre essa fusão entre o Podermos e o PSDB?
Aqui em Goiás, se isso efetivamente acontecer, é claro que acontece no nível nacional, a consequência será o nosso grupo deixar o partido, porque o nosso grupo faz parte da base do governador Ronaldo Caiado de forma harmônica, tranquila, não há nenhum desencontro com o governador ou com o vice-governador que justificasse deixarmos a base e passarmos a ser um grupo de oposição em função dessa fusão. Pelo menos essa é a minha avaliação pessoal.
A tendência é que a aliança com o Caiado prevaleça até 2026 ou o partido pode buscar um caminho independente na eleição para presidente?
Acredito que sim.
Entre os nomes cotados até o momento, Caiado seria o que melhor representa a direita na eleição presidencial ou há outros bons representantes da direita?
Ronaldo tem uma história na direita, não é um político de direita por conveniência eleitoral momentânea. Ele historicamente foi de direita, é conservador, é um político preparado tanto do ponto de vista da atuação legislativa quando do ponto de vista da gestão do executivo. , .
É claro que outros nomes estão colocados, a exemplo do (Romeu) Zema, do Ratinho Júnior, existe a possibilidade da Michelle Bolsonaro, possibilidade do Tarcísio (de Freitas), mas o único nome efetivamente colocado até agora é do Ronaldo Caiado. O único que disse: ‘eu sou pré-candidato, vou deixar o governo na data x, já estou em pré-campanha’, e isso o ajudará muito. Os outros não dizem se serão ou não serão, não têm uma posição definida. Ele tem. Acho que isso ajuda muito.
O deputado Glaustin da Fokus afirmou à Tribuna do Planalto que o apoio a Daniel Vilela na eleição para o governo em 2026 não será transferido automaticamente. O senhor concorda?
Eu não dialoguei com Glaustin acerca disso, não sei o que ele levou em conta para fazer essa afirmação de tal forma que prefiro não emitir opinião acerca dessa manifestação dele.
O senhor foi presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara e é delegado de polícia. Como avalia o novo plano nacional de segurança pública apresentado pelo governo federal e as críticas que o governador Ronaldo Caiado faz ao projeto?
Eu acho que essa proposta apresentada pelo presidente Lula é uma mera enganação. Dizer que essa proposta de emenda constitucional encaminha para a integração de todas as forças policiais e que esse é o caminho é enganação, porque a política de integração já existe. Não começou hoje, já existe por lei. Nós aprovamos a lei do Sistema Único de Segurança, que trata exatamente da integração entre todas as forças policiais. Isso vem acontecendo no Brasil em função dessa lei e de práticas que vêm sendo desenvolvidas. Pegar esse conceito e levar para a Constituição vai mudar o quê? Nada, absolutamente nada. É uma enganação para dizer que não está tendo uma proposta na área de segurança pública. De outro lado, colocar no texto constitucional determinadas hipóteses em que o crime seria da competência das polícias estaduais e justiça estadual e passa a ser em função da sua complexidade ou de ser um crime interestadual, passa a ser de competência da Polícia Federal, isso também já está devidamente regulamentado. Mudar o nome da PRF; o que que isso acrescenta? Absolutamente nada. Nós precisamos de um Ministério da Justiça e Segurança Pública que seja efetivamente indutor de uma política nacional de segurança pública; e política nacional significa ações, programas e recursos. E por falar em recurso, vão dizer: vamos pegar o Fundo Nacional de Segurança, o Fundo Nacional Penitenciário e colocar no texto constitucional. Não é isso que resolve. Esses fundos já existem, estão previstos em leis há muito tempo, por que não resolve? Porque, embora eles existam há muito tempo, sempre o governo, e não apenas o do Lula, todos os governos os contingenciam. Para garantir o recurso é só não contingenciar, não precisa colocá-lo no texto constitucional. Pode estar no texto condicional e ao mesmo tempo contingenciar. Me parece que isso tudo é apenas muito verbo para dizer que há uma preocupação com a segurança pública do Brasil, mas não há nenhuma novidade, do meu ponto de vista. Além disso, concordo com o governador Ronaldo Caiado, há um viés de buscar suprimir a competência dos estados. E isso não é um caminho considerando que o Brasil é uma federação.
O crime organizado tem avançado no país e Ronaldo Caiado tem afirmado que falta competência do estado para combater o crime organizado. Qual a sua opinião em relação a este avanço do crime organizado e as soluções que até aqui foram colocadas?
Por mais que o crime organizado se avolume, o Brasil tem avançado muito no enfrentamento ao crime organizado e os resultados são significativos. Lamentavelmente, há um tempo atrás, o estado brasileiro, eu não me refiro ao governo federal só, me refiro aos estados, inclusive, que se omitiram em relação ao crime organizado e o deixaram avançar muito. Isso é tão verdade que só em 2013 o Brasil passou a ter uma lei específica de enfrentamento às organizações criminosas. Até então, sequer havia lei para enfrentamento ao crime organizado. Na última década ou nas últimas duas décadas, o Brasil avançou muito na legislação para o enfrentamento ao crime organizado e com resultados muito significativos. É verdade que precisa avançar muito mais. As polícias foram qualificadas, não só a Polícia Federal, as polícias estaduais se prepararam muito para isso, hoje temos polícias muito qualificadas, com uso de tecnologias adequadas, com investigação muito bem-sucedidas. Mas não tem sido suficiente. Quem sabe a gente precisa avançar mais nas estruturas de polícia com expertise nessa área. Não dá para abrir mão da criminalidade comum para focar só no crime organizado, mas quem sabe seja preciso ampliar os recursos e os esforços nessa área de enfrentamento ao crime organizado. Eu repito, na minha avaliação, por mais que o crime organizado esteja presente, tenha avançado, na última década, conseguimos avanços também muito expressivos no enfrentamento ao crime organizado do país.
Na opinião do senhor, um especialista em segurança pública, o que houve no dia 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes?
Baderna, vândalos que estavam insatisfeitos com o resultado da eleição e em função da indignação, da insatisfação, resolveram fazer aquela manifestação e alguns se excederam, cometendo danos ao patrimônio público, mas nada além disso. Golpe é uma piada. Não se pode falar em golpe sem apoio das forças armadas, com o governo posto, que já havia tomado posse e estava exercendo o governo em sua plenitude. O que aconteceu ali de fato foi baderna em alguns excessos que culminaram em danos ao patrimônio público.
O senhor é a favor da anistia?
A favor. A anistia é um instrumento que vem para pacificar situações, principalmente, de natureza política, como já aconteceu historicamente no Brasil. Evidentemente que ali tem muita gente que nem devia ser anistiada estar sendo indiciado, que sequer praticou crime e está presa. E há excesso em relação às penas estabelecidas e precisa rever isso. É preciso ter um critério em relação à anistia, mas conceitualmente eu sou a favor.
O senhor deve disputar a uma vaga para a Câmara dos Deputados?
Estou decidindo, mas é provável.
O fato de o senhor e o deputado Glaustin da Fokus disputarem o cargo para deputado federal não pode dividir os votos que têm em comum e nenhum ser eleito?
Depende da forma de construir a chapa do partido para a Câmara federal. Glaustin, como presidente do partido, contará com meu apoio para a construção de uma chapa que facilite a eleição da representação federal. Acho que independe dessa questão. O que importa é a construção da chapa. E isso tem que ser feito com muito critério, muita responsabilidade, senão pode-se ter dois ou três nomes com potencial e não eleger porque a chapa não foi bem elaborada, não foi bem construída.
O senhor está aberto a disputar outro cargo?
O que deve ser objeto de diálogo nosso no segundo semestre é exatamente a possibilidade de ser candidato ou não à Câmara federal. Eu e Leandro achamos que tínhamos que avançar em relação à gestão de Aparecida, sanear as finanças e depois trocar ideia sobre a pauta política partidária. E por isso estou dizendo que posso ser candidato e posso não ser, porque nós sobrestamos essa pauta. É uma pauta que reservamos para depois que sanearmos as finanças da prefeitura. Deve acontecer só em meados do segundo semestre.
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