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Nova Câmara | Mais governista e mais conservadora


Avatar Por Redação em 17/05/2021 - 00:00

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Por Andréia Bahia

Resultado de uma eleição que renovou 65% dos vereadores – sendo que a média de renovação do parlamento nas capitais em 2020 foi de 56% – a Câmara Municipal de Goiânia inaugurou essa legislatura com 22 novos nomes, o que, até então, não representou avanços em relação às suas funções constitucionais, que são legislar e fiscalizar. A atual legislatura tem um perfil mais governista, fisiológico e conservador.

Em relação à postura frente ao Executivo, pode-se afirmar que houve um retrocesso se comparada à legislatura anterior. Logo que assumiu o mandato, em 2018, o ex-prefeito Iris Rezende (MDB) conseguiu reunir 17 dos 35 vereadores na primeira reunião e, durante os quatro anos, ele lidou com um grupo de vereadores independentes que funcionava como fiel da balança nas votações.

Hoje, o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) conta com o apoio de praticamente todos os vereadores da Casa – uma base de 34 dos 35. Apenas Mauro Rubem (PT) adota um posicionamento sistemático de oposição ao prefeito. Esse governismo abarca inclusive os seis vereadores do MDB – Clécio Alves, Dr Gian, Anselmo Pereira, Henrique Alves, Kleybe Morais e Izídio Alves – que decidiram permanecer na base do prefeito mesmo depois de o partido deixar a administração municipal por divergências com Cruz. Os parlamentares têm sido atendidos com cargos de primeiro e segundo escalão na equipe do Paço.

A construção dessa ampla base de apoio se deu a partir da negociação de cargos para a Prefeitura de Goiânia. Mérito do prefeito Rogério Cruz, que soube articular o fisiologismo dos vereadores para garantir seu apoio no parlamento municipal, que certamente terá sua independência em relação ao Executivo ainda mais comprometida nesta legislatura.

A mais recente demonstração dessa sujeição dos vereadores ao Paço Muni­cipal se deu na prestação de contas do prefeito à Câmara, em 13 de abril, quando praticamente todos os vereadores subiram à tribuna, não para questionar as contas que estavam sendo apresentadas, mas para elogiar Rogério Cruz. Lembrando que, na primeira sessão plenária do ano, o vereador Anselmo Pereira (MDB) apresentou um projeto de decreto legislativo, concedendo à primeira-dama Thelma Cruz o título de cidadã goianiense.

Defesa da família

A renovação da Câmara acentuou o caráter conservador da casa. O vereador mais bem votado, Isaias Ribeiro (Republicanos), é pastor da igreja Universal do Reino de Deus e tem como bandeiras “a defesa da família e da fé”. Ele é correligionário do vereador Sargento Novandir (Repu­blicanos), que foi reeleito com a segunda maior votação, e também é porta-voz da chamada direita conservadora, defendendo bandeiras que incluem a “família e o cidadão de bem”.

Na linha mais conservadora se encontram também os vereadores evangélicos, como Ronilson Reis (Po­demos), da Igreja Asse­m­bleia de Deus-Ministério Vila Nova; Leandro Senna (Republi­canos), da igreja Videira, que retorna ao parlamento depois de 14 anos, quando encerrou o mandato de deputado Estadual; e o vereador Pastor Wilson, um dos dois representantes do Partido da Mulher (PMB) na Casa. Apesar de não informar sua crença religiosa, o vereador Thialu Guiotti (Avante) é teólogo e, em sua biografia no site da Câmara, diz que pretende trabalhar em defesa da família e pela geração de emprego e renda, dentro do campo mais conservador da Câmara.

A vereador Aava Santiago (PSDB) também é evangélica da Igreja Assembleia de Deus, mas afirma ser da linha progressista e não conservadora. Nesse campo podemos destacar a presença do vereador Mauro Rubem (PT), representante do movimento sindical e voz destoante na Casa.

Novatos reforçam linha conservadora da Casa

Os novatos reforçam a linha conservadora de Léia Klébia (PSC), vereadora reeleita com apoio da comunidade evangélica que representa, e do vereador Dr Gian (MDB), teólogo e pastor coordenador da Igreja Fonte da Vida, defensor dos valores da família e princípios cristãos.

Outro expoente conservador dessa legislatura é a vereadora Gabriela Rodart (DC), que se descreve como sendo cristã, de direita, e defensora do conservadorismo e da monarquia parlamentarista. Ela ficou conhecida por não usar máscara, ser contra a obrigatoriedade do acessório e contra a vacina “chinesa”; apresentou proposta para tornar salões de beleza e distribuidoras serviços essenciais e por receber R$ 3,6 mil de auxílio emergencial em 2020.

A Câmara conta também com os vereadores de perfil mais liberal, a exemplo de Henrique Alves (MDB), visto como o representante do setor imobiliário. Geverson Abel (Avante) é autor da emenda que incluiu as academias como serviços fundamentais; o vereador Marlon Teixeira (Cidadania) é membro da Frente Parlamentar em Prol do Desenvolvimento Econômico e Desburocrati­zação da Câmara.

Projetos atendem a interesses religiosos e econômicos

Em alguns projetos em tramitação e aprovados na Câmara também é possível verificar esse aspecto mais conservador da Casa: assim que retomaram os trabalhos, os vereadores aprovaram por unanimidade o projeto de iniciativa do vereador Dr Gian, que tornava essencial a atividade religiosa em tempos de crise. Posteriormente, foi aprovado na Casa um projeto com o mesmo teor, mas de autoria do Executivo.

Ainda em relação às medidas restritivas de combate à pandemia, a vereadora Gabriela Rodart propôs a inclusão de lan houses, cyber cafés e similares como atividades essenciais; Willian Veloso propôs a inclusão de ferragistas e lava-jatos nesse mesmo rol; e Isaías Ribeiro defendeu a liberação de funcionamento das feiras livres durante a pandemia.

A Câmara também realizou uma audiência pú­blica, promovida pela vereadora Gabriela Rodart, na qual médicos defenderam o uso de hidroxicloroquina e tratamento precoce para a Covid-19, medicamento e protocolo sem comprovação científica de eficácia.

Entre os projetos mais polêmicos aprovados pelos vereadores e que marcam esse cunho mais conservador da Câmara, está o que retira a homenagem feita ao jornalista e ambientalista Washin­gton Novaes de parque no Vera Cruz II, em Goiânia. Os vereadores aprovaram a mudança e a homenagem foi concedida ao sargento David Luiz Rodrigues, um dos primeiros moradores da região.

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