Já fiz de tudo no Jornalismo. Jornalismo com inicial maiúscula e acento no orgulho. Cumpri a jornada, e, em verdade, mais de uma, duas, dez vezes, no que lhe cabe na sina do seu eterno retorno. Afirmo sem erro (e um tento de melancolia, posso dizer): nem tudo é prazeroso repetir. Foi. Fui.
A quietude, o silêncio, os movimentos suaves ante os bruscos solavancos, isso que busco. Nem a vaidade me anima mais a tirar os pés da almofada para cobrir um evento à noite. A necessidade, sim, ainda.
Já fui de gostar muito de comícios e palanques. Ouvir os discursos palavra por palavra, para captar o mínimo deslize, as entrelinhas, a notícia pura e, sempre a expectativa, uma informação nova ou nuance reveladora, isso me comprazia.
O fim dos showmícios me destruiu emocionalmente. Sob a falsa alegação de economia de custos de campanha, me arrancaram mais essa gostosa diversão na política. Provável que foi a partir daí que o País começou a dar errado e o brilho das campanhas, a perder a graça. Certeza.
A rua me vê cada vez menos. Minha casa é meu lugar preferido no mundo. Sei que não estou sozinho neste sentimento. E que poucos podem escolher o que fazer nesta vida. Mas tô falando de cansaço, não é de desistência. É de persistência, apesar do apocalipse estar logo ali, vindo.
Exausto, enfastiado, enfadado, continuo na lida. Em busca de diversão nas urnas. Ainda bem que, junto com a tragédia das extremas direitas, tem o ridículo. Nada paga ver um candidato simular pouso de paraquedas pra dizer que não é paraquedista, e outro, requebrar à frente de sua equipe numa caminhada.
Alegria não me falta. Quem sabe, um novo propósito. Vencer na vida não careço mais. Porém reconheço: nada me anima mais do que comer pipoca diante de um picadeiro repleto desses divinos e divinas metamorfoses ambulantes. O ridículo é um palhaço invencível e está na moda. Deus salve os ridículos.