Aristeu era fazendeiro. Homem de algumas posses, que trabalhou duro ao longo do tempo para fazer o seu pé-de-meia. E fez. Enfim, gozava as benesses de uma vida até certo ponto abastada. Gostava de sentar-se na sua cadeira de balanço, colocada na sombra, no alpendre da casa da fazenda. De lá contemplava diariamente o seu patrimônio constituído. Bastava. Não carecia de mais nenhuma atividade. “Trabalhar pra quê!” – dizia, convicto.
O tempo passava e a ociosidade era a mais fiel companheira de Aristeu. Levava vida de aposentado. Deixou de fazer exercícios físicos e mentais. Nem visitar e inspecionar os serviços e os pontos estratégicos da fazenda queria mais. Achava difícil montar a cavalo. O balanço de sua cadeira era mais cômodo e confortável. Tudo na fazenda passou a ser feito através de terceiros.
Aristeu não era velho, porém adotou o comportamento de um idoso. Mas não estava preparado para viver no ócio. Sua natureza era incompatível com esse estilo de vida. E, por causa disso, foi aos poucos adentrando o terreno mais que perigoso da depressão. Antes, ostentava uma saúde física de dar inveja. Nunca fora preciso frequentar consultório médico. Contudo, perdeu o hábito da atividade constante. Tinha também mente saudável, mas que entrou no comodismo e atrofiou. A preguiça atingia até os seus pensamentos.
A um determinado momento de sua existência, não encontrava mais nenhum sentido na vida. Tudo era insosso e nada mais lhe inspirava motivação alguma. Pensou em suicídio, todavia achou a ideia escabrosa. E desistiu. A família fazia o que podia, sem sucesso, no entanto. As suas finanças entraram em um processo de declínio tal que parecia não ter mais volta.
Um dia, apareceu lá na fazenda um vendedor de defensivos agrícolas, amigo de muitos anos do fazendeiro. O homem, que o conhecera em plena forma física e mental, achou muito estranha a doença de Aristeu. Mas não lhe foi difícil o diagnóstico, já que no passado recente fora vítima de mal semelhante e obteve cura.
E passou-lhe às mãos uma caixinha do tamanho de uma caixa de fósforo, lacrada, que denominou de “Caixinha mágica”, dizendo que o remédio da cura estava lá dentro. Mas impôs a condição de que ele visitasse a fazenda todos os dias, de canto a canto, segurando a tal caixinha, que só poderia ser aberta daí a um mês impreterivelmente, para, enfim, tomar o remédio milagroso que se encontrava dentro dela.
E o vendedor foi embora, advertindo-o de que jamais deixasse de cumprir o que ali se achava prescrito. Tão logo vencesse o prazo, deveria abrir a caixinha e tomar o medicamento.
Alguns dias após o escoamento do prazo estabelecido pelo amigo do fazendeiro, ei-lo de volta. Queria saber o que tinha acontecido. E Aristeu, visivelmente hostil, não conseguindo esconder a sua contrariedade, desabafou:
— Você me enganou!…
— Como? – indagou o vendedor.
— Dentro da tal caixinha mágica não tinha nada de remédio!… Estava vazia.
— Mas você seguiu direito as minhas recomendações, de visitar os quatro cantos da fazenda todos os dias?
— Sim, direitinho.
— Visitou a propriedade toda, todos os dias?
— Sim, visitei tudo, todos os dias.
— E o que aconteceu, afinal?
— Aconteceu nada. Só enganação. Mas foi até bom. Logo de cara descobri que as cercas das divisas estavam em estado precário: mandei reformá-las e estou acompanhando os serviços; descobri também que o retiro se encontrava todo desmantelado, e eu achando que o peão zelava direito.
— Só isso? Que mais?
— Redescobri o lago florido lá da vereda. Tinha até me esquecido dele. Que coisa mais linda!… Mais bela ainda é a revoada dos pássaros, de manhãzinha. Ah! Voltei até a andar a cavalo!
— Então você está curado!
— Sim, estou curado, mas pela tal caixinha mágica, pois lá dentro não havia nada!… O que foi feito do remédio da caixinha?… Era só enganação?…
— Não havia remédio nenhum na caixinha. A tal Caixinha mágica serviu apenas como desculpa e motivação pra você reencontrar a vida e redescobrir o potencial humano e divino que há dentro de você. E você foi curado. Que Deus o proteja!…