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Primavera das flores ou das queimadas?


Elson Oliveira Por Elson Oliveira em 22/09/2024 - 06:30

A chegada da primavera, marcada pelo florescer e renovação da natureza, contrasta com a destruição causada pelas queimadas e ações humanas.
A chegada da primavera, marcada pelo florescer e renovação da natureza, contrasta com a destruição causada pelas queimadas e ações humanas. Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

Agora, dia 23, começa a tão esperada Estação da Primavera, a Primavera das Flores. É um novo ciclo de vida: início das chuvas, rejuvenescimento das árvores com nova folhagem, o surgimento do verde e da beleza das flores. Diante de toda essa renovação da natureza, até o ser humano fica mais alegre, mais acessível, mais receptivo e com maior disposição para o enfrentamento da vida. Tudo isto é muito bonito, gratificante e esplendoroso.

Ao chegar a primavera e com ela o espetáculo do desabrochar das flores, todos se convencem do quanto a natureza é bela. E tudo isso vem de Deus. E tudo isso é um presente de Deus, para que o homem encontre graça e sabedoria em sua busca constante da felicidade e da razão de viver.

Mas infelizmente, no atual momento da história tais assertivas não encontram ressonância com a verdade. Pelo contrário, o quadro que se apresenta é estarrecedor: chuvas escassas, em muitos lugares inexistentes; árvores destroçadas, transformadas em carvão; e o verde das plantas e das matas cada vez mais distante e ausente. Sem falar nas flores, impedidas de exibir a sua beleza natural, para o encantamento de todos nós.

O que de fato está acontecendo? O homem se tornou inimigo da natureza ou a natureza se revoltou contra as ações irresponsáveis e constantes do homem? De quem é a culpa? O certo é que vivemos a crise das queimadas, que tem origem tanto na iniciativa humana quanto na irresponsabilidade e ganância do próprio homem, assolando os campos, as matas e todos os empreendimentos construídos ao longo do tempo. São incêndios de altas proporções que desencadeiam o pânico e espalham fumaça por todo o país, destruindo árvores, plantações, estradas, pontes, aglomerados urbanos e, o mais decepcionante, a esperança das pessoas bem intencionadas.

Dói na alma a exibição apresentada pelos telejornais e pela mídia em geral. Todos permanecemos perplexos e impotentes diante do inferno em forma de fogo e do sofrimento das famílias vitimadas pelas catástrofes incessantes.

Assim, se não temos o rejuvenescimento das árvores com nova folhagem, o surgimento do verde e a beleza das flores, então não vamos ter primavera. É uma pena!…

Mas quem sabe tudo isso sirva para o homem repensar os seus atos, rever os seus posicionamentos, optar pelo comedimento de sua ganância desenfreada, pedir desculpas à natureza e corrigir o que de errado tem feito ao longo do tempo!… Quem sabe!…

Afinal, por que e para que destruir a natureza? A incoerência mostra que o mesmo homem que ateia fogo na vegetação, no fundo, no fundo é um apreciador das flores e do rejuvenescimento da vida. Verdade também que tem gente que passa por um jardim florido e não consegue sentir o perfume das flores nem mesmo enxergar as roseiras que adornam a orla do seu caminho, porque não tem tempo, nem olhos, nem vontade de ver. São pessoas insensíveis, com outros objetivos existenciais, um deles o lucro, a prosperidade econômica a qualquer custo. E o resto, que se dane!…

Do mesmo modo, tem gente ainda que passa pela vida, mas não vê a vida passar, porque não tem tempo, nem sensibilidade, nem disposição para tanto. Os afazeres do dia a dia são tantos que absorvem todo o seu precioso tempo, toda a sua atenção, todos os seus interesses particulares, impedindo que consiga enxergar as belezas da vida e o lado feliz da existência, assim como a própria vida.

O ensinamento bíblico mostra que não adianta ao homem ganhar o mundo e perder a sua alma, o que significa dizer que há outros valores muito mais interessantes do que a simples prosperidade econômica.

Diz o poeta que, mesmo não havendo frutos, é apreciável a beleza das flores; mesmo não havendo flores, é gratificante a sombra das folhas; mesmo não havendo folhas, é satisfatória a intenção da semente.

Vamos imaginar que nem tudo está perdido. A torcida é para que o ser humano reveja os seus atos e respeite mais a natureza. E aí podemos pensar na chegada da PRIMAVERA, ano que vem!…

Elson Oliveira

Elson Gonçalves de Oliveira foi professor de Língua Portuguesa, é advogado militante e escritor, com vários livros publicados.

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