Por Fabiola Rodrigues
Atualmente, Goiás tem 60 escolas militares espalhadas pelo estado, que atendem 65 mil estudantes da rede estadual de educação. Essas escolas representam 5% do total de escolas estaduais, que são 1.048 unidades, nos 246 municípios goianos. Outros 50 municípios solicitaram à Secretaria Estadual de Educação (Seduc) a instalação da escola militar, incluindo a capital. Mas, segundo a secretaria de Educação, Fátima Gavioli, só será implantada unidade escolar militar em municípios que tiverem pelo menos uma escola estadual regular para que os pais possam optar entre os dois modelos de ensino.
A primeira escola militar surgiu em Goiânia, no ano de 1998, dentro da Academia de Polícia Militar para atender os filhos de militares. O Colégio Hugo de Carvalho Ramos foi cedido para a implantação dessa primeira unidade.
A transformação de uma escola regular para militar se dá por meio de uma solicitação à Seduc, explica o assessor Pedagógico do Comando de Ensino da Polícia Militar, tenente Marcus Vinícius, e a mudança precisa ser aprovada em votação na Assembleia Legislativa. É firmado, então, um termo de cooperação técnico-pedagógica entre a Secretaria de Segurança Pública e a Seduc para implantação do modelo militar de ensino.
Segundo Vinícius, o Comando de Ensino é responsável pela capacitação dos servidores, que não são militares. “O que mais obstrui o projeto desse modelo escolar é a falta de servidores militares. Estamos passando por um processo de convocação de novos servidores”, informa ele. Nessas unidades, o corpo docente é civil e a gestão militar.

demanda social é muito forte neste momento”
Na opinião do tenente, a presença da escola militar em um bairro ou cidade gera a sensação de segurança para a comunidade. “Quando se instala uma escola militar, a priori se instala também um batalhão de polícia, porque tem servidores militares naquela região. A segurança aumenta, sobretudo para os professores, tendo em vista que estamos vivendo um tempo de violência e as escolas, infelizmente, não estão fora desse cenário”, pontua.
De acordo com o tenente, é perceptível uma preferência pela escola militar atualmente. “Essa demanda social é muito forte neste momento que estamos passando. Se for feita uma consulta popular, vai ter muito mais pessoas querendo uma escola militar na sua cidade ou perto da sua casa como uma opção a mais. Isso é perceptível”, diz. Ele aponta como fatores para essa preferência da população o que chama de crise de identidade dos jovens e a falta de respeito com pais e professores. “Sabemos que muitos pais querem colocar seus filhos na escola militar, mas vivemos uma crise de autoridade. O aluno desrespeitando o professor, isso é uma crise fortíssima, aí os pais pensam que enviando o filho para escola militar ele vai melhorar. E não é simples assim, o colégio militar não é um reformatório, lá é um ambiente de educação, onde se desenvolve a escolaridade”, observa Marcus Vinícius.
O tenente ressalta, no entanto, que só se obtém sucesso escolar com o acompanhamento da família e que as escolas militares têm diretriz pedagógica específica para ajudar os professores a acionarem os pais na escola. “Temos uma coordenação disciplinar ligada à pedagógica que, quando identificamos algum mau tipo de comportamento, desvio de conduta ou algum aluno que está deixando de fazer as atividades, deixando a desejar, chamamos os pais para que eles possam nos ajudar”, esclarece o tenente.
A principal marca desse modelo escolar é a disciplina. “Trabalhamos de forma a promover um ambiente salutar, onde tanto o professor como o aluno possam desenvolver seus trabalhos dentro do processo de ensino aprendizagem. Ou seja, isso tudo a partir de temas relacionados à cidadania”, esclarece Marcus Vinícius.
Disciplina
As disciplinas das escolas militares seguem a base curricular do estado, que, por sua vez, acompanha a diretriz da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A escola militar tem apenas uma disciplina diferente das escolas regulares que se chama Civil e Cidadania, que, no Ensino Fundamental, é ministrada em duas aulas semanais e, no Ensino Médio, em uma aula semanal. Há também a tradição dos desfiles militares e para participar os alunos aprendem a fazer apresentações.
Outra diferença, segundo o tenente Marcus Vinícius, é a preparação para o mercado de trabalho. “É algo muito importante no campo pedagógico da escola, a preparação e qualificação do estudante para o mercado de trabalho. E também trabalhamos com a Ordem ao Líder, que é uma disciplina, que nós ministramos os movimentos militares”, relata.
O estado de Goiás oferece, atualmente, três formatos de escolaridade: a regular, a militar e a de tempo integral. “A nossa opção de regime escolar é criticada, por algumas pessoas, mas nosso regimento é pautado na disciplina do militarismo. Entendemos que o uso padrão de uniforme, corte de cabelo, essas padronizações favorecem o ambiente de igualdade entre os colegas. Isso é positivo”, diz o tenente.
Marcus Vinícius reforça que a questão da disciplina é construída nos mínimos detalhes desde a ação de arrumar a cama, até a lavar louça. Ele relata que no ambiente escolar conseguem desenvolver o aluno para gerar essas habilidades e desenvolver espírito de liderança.
Como concorrer a vaga em escola militar
Atualmente para o estudante ingressar na escola militar ele precisa fazer a inscrição, no período vigente. O edital sempre é liberado no mês de setembro e tem as informações dos períodos de inscrições, sorteios dos estudantes e data da matrícula.
“A grande maioria dos alunos que entra no colégio militar tem vontade de estudar. Temos os incentivos de reconhecimento, de condecoração. É um ambiente favorável para o professor que quer exercer seu sacerdócio, tanto quanto para o aluno, que está ali para aprender e se desenvolver”, conclui o tenente.
“Gestão civil é melhor que a militar”

especialista em Gestão Educacional: “Quando se pensa educação pública, tem que se pensar em todas as escolas”
Apesar da grande aprovação do colégio militar, principalmente por parte dos pais, alguns especialistas são críticos ao modelo. É o caso do especialista em Gestão Educacional Welber Calixto. Na opinião dele, o modelo de ensino adotado pela escola militar aborda uma metodologia que não enxerga todos os problemas da sociedade. Segundo ele, as escolas militares agem de forma pontual, o que não pode ser considerado sinônimo de sucesso no âmbito escolar.
“Quando se pensa na educação pública, tem que se pensar em rede, em todas as escolas e não em uma escola ou outra como se dá no processo de transformar escolas públicas em escolas militares. Tem que se pensar em formato de ensino igualitário, o mesmo método aplicado tem que ser em todas as escolas, nenhum colégio é uma ilha”, diz o especialista.
Quanto à exigência das escolas militares em relação ao comportamento do aluno, disciplina e dedicação, Calixto afirma que são comportamentos que deveriam ser comuns dentro de todo o processo de escolarização. “Todas as escolas precisam e tentam impor disciplinaridade. A escola militar impõe um comportamento rígido demais, porém, não a torna diferente”, diz.
O especialista defende que a escola militar deve ser utilizada dentro de um outro cenário de ensino, e não como uma das metodologias de opção de ensino. Ele acredita que o colégio militar deveria ser um espaço para correção do mau comportamento do aluno, e não uma escola. “Militarização, se acontecesse, tinha de ser para os alunos em conflito com a lei, com evasão escolar, e não para aqueles que querem estudar.”
Ele considera que a gestão civil é melhor que a militar para gerir uma escola. “Para alcançarmos bons resultados escolares, basta ter um corpo docente comprometido, que receba investimento dos governos”, conclui Calixto.