Após os shows de grandes nomes da música nacional, como Wesley Safadão, que se apresenta nesta sexta-feira (23) na Pecuária de Goiânia, a Prefeitura de Goiânia escalou mais uma leva de artistas para cantar nos chamados “shows after”. A reportagem teve acesso aos pedidos de pagamento dos cachês de cinco atrações contratadas para o evento, e a soma dos valores ultrapassa R$ 1,2 milhão. Com isso, a festa já custa mais de R$ 8,5 milhões em recursos públicos da administração.
Entre os contratados até agora, o cachê mais alto é o da banda Chicabana, da Bahia, no valor de R$ 400 mil. Em seguida, aparecem o cantor Eric Land, com R$ 300 mil; a dupla George Henrique & Rodrigo, com R$ 245 mil; João Bosco e Gabriel, com R$ 160 mil; e Breno Pereira, com R$ 100 mil. Outros artistas já tinham sido contratados para esta grade de programação e não há informação se outros serão inseridos.
A contratação foi justificada pela Secretaria Municipal de Cultura (Secult) como parte da proposta de democratização do acesso à cultura, fomento à economia criativa e valorização da música regional. “A realização dos shows será em espaço público, com acesso livre e sem cobrança de ingresso, garantindo a participação ampla da sociedade em uma programação artística de qualidade”, diz um dos despachos assinados pelo secretário Uugton Batista da Silva.
A inclusão desses artistas se soma ao elenco principal do evento, que inclui nomes conhecidos do sertanejo e do forró, como Amado Batista, Simone Mendes, Wesley Safadão e Nattanzinho Lima, entre vários. Com a soma dos novos cachês, o custo com artistas contratados pela Prefeitura para a Pecuária 2025 ultrapassa os R$ 8 milhões, de acordo com documentos que fazem parte de processos restritos, aos quais a reportagem teve acesso.
A Tribuna do Planalto informou que os investimentos para este evento não passaram pelo crivo do Comitê de Controle de Gastos. A expectativa é que os gastos ainda sejam aprovados pelo colegiado que tem a obrigação legal de validar despesas não previstas, novos contratos e ações bancadas com recursos de impostos que não possuem vinculação legal.
Crédito suplementar
Apesar dos valores expressivos, a gestão do prefeito Sandro Mabel (UB) não divulga o investimento total no evento. A Tribuna do Planalto apurou que a Secult solicitou pelo menos três créditos suplementares para bancar os cachês: um no valor de R$ 5,8 milhões, por meio do despacho 85/2025; outro no valor de R$ 2,1 milhões, por meio do despacho 89/2025 e mais um de R$ 1,2 milhão, registrado no despacho 94/2025, ambos destinados exclusivamente à contratação de shows.
Com valores anteriores registrados em outros documentos e os gastos com infraestrutura de palco, som e iluminação, publicidade e outras contratações, a estimativa é de que o investimento público na Pecuária supere R$ 10 milhões.
O jornal tem insistido com a Secretaria de Comunicação e com as pastas de Cultura e Finanças para esclarecer os valores destinados ao evento bem como as fontes dos recursos que vão bancar a produção. A expectativa é que a Prefeitura de Goiânia produza um documento para reportar os custos após o encerramento da Pecuária.
Informações de bastidores dão conta de que técnicos têm levantados números com setores de turismo para embasar a resposta à opinião pública. A estratégia da administração é justificar os investimentos a eventual retorno indireto à cidade e ao Tesouro Municipal com incremento na arrecadação de ISS pela movimentação gerada pela exposição agropecuária.
Continuidade
Em 2023, a administração do ex-prefeito Rogério Cruz (Solidariedade) também foi alvo de críticas por priorizar um circuito cultural de shows para celebrar os 90 anos da capital. Na época, o cachê mais caro foi o do cantor Leonardo, por R$ 550 mil. Dezenas de shows foram feitos em bairros mais afastados.
Na nova administração, Sandro Mabel já fez um evento no Jardim Curitiba para celebrar os 100 dias de gestão. Agora, a diferença é que as apresentações ocorrem em espaço privado durante o evento agropecuário, sob a justificativa de que a festa é pública mediante emissão de ingresso pela internet ou retirada na bilheteria.
No entanto, o lote colocado à disposição da população já está esgotado para os eventos desta semana e, quem quiser ir, resta a possibilidade de comprar para um dos três camarotes credenciais que partem de R$ 550 e passa de R$ 800 dependendo do lugar.
No perfil oficial da festa em uma rede social, diversas pessoas negociam a venda de ingressos retirados gratuitamente. Também há relatos de que cambistas estejam comercializando as entradas nos portões de acesso ao parque agropecuário.
Resposta
Em nota, a organização da Pecuária de Goiânia informou que todos os ingressos gratuitos para os shows foram esgotados, respeitando o limite de 60 mil pessoas imposto pelas normas de segurança. O parque permanece aberto para visitação durante o dia, com entrada liberada até as 16h nos dias de show. Após esse horário, o acesso é controlado exclusivamente por meio de bilhetes válidos, físicos ou eletrônicos.
Diante de denúncias de venda ilegal de ingressos por cambistas, a organização repudiou a prática e afirmou estar colaborando com as autoridades para coibir esse tipo de ação. Segundo a nota, equipes de segurança privada atuam em conjunto com a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana no entorno do evento, enquanto as redes sociais oficiais são monitoradas para identificar e denunciar práticas irregulares. A orientação ao público é clara: não compre ingressos de terceiros, pois eles podem ser falsificados e não garantem entrada.
A Secretaria Municipal da Fazenda foi procurada para prestar esclarecimentos, mas não respondeu à reportagem. A Secretaria de Cultura afirmou que “fará uma nota oficial para imprensa sobre os investimentos na Pecuária de Goiânia quando o evento e todos os processos de pagamentos forem finalizados”.