Tem jogador que chega no vestiário com cara de quem já viu muita coisa. Não precisa bater no peito nem gritar no túnel de acesso. Basta olhar nos olhos do time e ajeitar a braçadeira. Numa analogia futebolística, o governador Ronaldo Caiado (UB) é desses. Já andou por todos os lados do gramado político — do interiorzão goiano ao Congresso, da oposição no Senado Federal à reeleição folgada no Palácio das Esmeraldas. Agora, aos 75 anos, quer escalar o maior dos campeonatos: a sucessão presidencial.
Dia 4 de abril é o apito inicial da sua pré-candidatura. Salvador é o palco do espetáculo. Não é a partida de um novato, mas de um veterano que acredita ainda ter lenha pra queimar — ou fôlego pra correr os 90 minutos, mais os acréscimos que Brasília sempre exige. A missão? Ser o nome da direita que não se ajoelha ao bolsonarismo, mas também não vira as costas para a torcida que ainda veste a 10 do capitão. Até agora, isso aqui parece ter sido uma grande crônica esportiva, mas não é.
Sua tarefa não é simples. Bolsonaro, réu ou não, ainda canta o hino com o estádio. Tem base, tem barulho e tem bancada. E Caiado sabe que o jogo não se ganha no grito, mas também não se vence sem a arquibancada. Por isso, quando perguntado pelo portal Metrópoles, se Bolsonaro estaria fora do jogo de 2026, ele desconversa. “Lula é presidente”, respondeu, como quem diz: já vimos gente voltar de onde ninguém apostava.
Caiado tenta ocupar um vácuo — o do conservador institucional, do gestor de fala firme, do político que segura o rojão e que apresenta bons índices na segurança pública goiana com a máxima: “ou o bandido muda de profissão, ou muda de Goiás”. Contudo, fora da geografia goiana, seu nome ainda não pulsa. Falta capilaridade, falta presença. E, convenhamos, falta aquela jogada de efeito que arranca aplauso até do adversário. A política nacional não tem paciência com quem só toca de lado.
Dentro de casa, a coisa também não é simples. O União Brasil é um elenco caro, mas desentrosado. Tem jogador que não sabe se vai jogar com o PP, com o governo Lula ou com o próprio Caiado. A federação em costura com os progressistas do Centrão pode dar palanque — ou dar cisma. Política é como futebol: às vezes a vaidade do vestiário derruba mais gente do que a marcação adversária.
Mas Ronaldo Caiado tem trunfos. Tem história, tem discurso e tem casca. E acredita que, com uma boa pré-temporada, dá pra chegar vivo à reta final. O problema é que tem muita gente treinando também. Tarcísio, Eduardo, Leite, Michelle, Ratinho… Cada um com seu técnico, seus projetos, suas jogadas ensaiadas.
A dúvida é se Caiado, que atuou em várias posições nesse campo futebolístico da política, conseguirá ser o camisa 10 que une os setores da direita num só esquema tático. E se vai, de fato, entrar em campo — ou ficar na beira do gramado, vendo o jogo correr. A torcida, por ora, observa. O relógio já gira. Dia 4 já está ali.
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