O bolsonarismo é o ponto fora da curva que levou Fred Rodrigues (PL) ao segundo turno, em Goiânia. Assim como a chegada de Sandro Mabel (União Brasil) está ancorada na ótima avaliação ao governador Ronaldo Caiado – (cerca de 80%) e na boa estrutura do MDB de Iris Rezende que ganhou várias eleições na cidade e, quando funciona, é maior que a do governo (quando desperta, reforço). Mérito dos dois: entre várias razões, colocaram-se no lugar certo na hora certa.
O futuro de Fred e Mabel na disputa continuará, em parte, assentado na cruzada que Bolsonaro e Caiado vem travando. Inevitável. Um caso de desamor e ódio mútuo crescente, com cenas eventuais de muito amor falso como um post no Instagram para ex ver. Mas pensar que só isso definirá o embate, isso, sim é desmerecer os dois candidatos. Fred e Mabel, apesar de Bolsonaro e Caiado, terão de mostrar serviço como candidatos e capacidade para governar.
Esta última parte da frase anterior contém ironia. Não em relação aos dois nomes na disputa. Passar confiança como possível bom gestor é uma das demandas postas desde o início desta campanha. Eis o xis da equação da vitória. O eleitor está dizendo há meses que quer alguém que saiba cuidar da cidade, que tenha por virtude a gestão pública. Mas o resultado do primeiro turno não apontou isso: foi mais uma guerra política de última hora do que uma escolha consciente entre o melhor e mais preparado.
Nessa guerra política é que entram Caiado e Bolsonaro como padrinhos políticos. E que entrou, por outras vias, o presidente Lula e o PT. O saldo da eleição na passagem de um turno para outro está mais para uma (im)pulsão de última hora. Vanderlan Cardoso sentiu o peso da decisão política do voto na pele, indo de primeiro colocado a quinto. E eis o conceito de Vanderlan na praça: um bom gestor, porém, um político que mais cisca pra fora do que pra dentro de seus projetos.
Não vai aqui uma visão fechada do que houve e do que podemos ver neste segundo turno. Estou pensando alto. Tecendo livre pensar em roda de pensar livre. Aprendendo. Agora, olhando de longe os acontecimentos. Não brigo com resultados. Esta eleição trouxe novidades que impactaram muito, mas que nem atingiram ainda o potencial que têm. Como o uso das redes e o movimento das ruas. E nem vimos a IA na prática. Por outro lado, a boa prática das alianças e do rolo compressor – de líderes fortes, máquinas de governo e outros – está viva e manda lembranças.
Mas nada chega ao ponto máximo de tudo, com ou sem mudanças: o povo. O eleitor que diz querer uma coisa – bom gestor, boas propostas, bons candidatos – é exatamente o mesmo que ignora tudo por razões que a razão nunca explica direito. Porque alguém é de direita, esquerda, é apoiado ou não pelo governador, no fim das contas é isso que define o voto. O verdadeiro interesse coletivo, aquilo que, sem as birras políticas e posições ideológicas (há controvérsias) seguiriam caminho bem diferente, de repente é deixado de lado em nome de uma escolha que é fruto de pura irracionalidade, e não do desejo primordial, natural, ou sei lá como definir corretamente.
Teremos certamente um segundo turno emocionante em Goiânia. Em Aparecida, também veremos Bolsonaro x Caiado, com Professor Alcides (PL) e Leandro Vilela (MDB) no jogo. E em Anápolis, onde Caiado perdeu feio para Bolsonaro e Lula, teremos igualmente um embate curioso, porque o candidato lulista, Antônio Gomide (PT), saiu de favorito disparado para sobrevivente de uma arrancada fulminante do bolsonarista Márcio Corrêa (PL) no final do primeiro turno. E será que teremos mais: Caiado e Lula defendendo o mesmo nome contra o nome escolhido por Bolsonaro?
Mais do que o marketing político, é a política que estará no campo minado da guerra eleitoral. Marketing nenhum faz milagre. Nem dá conta sozinho de vencer uma eleição. Já a política, sim, é capaz de mudar o curso da história. Goiânia, Aparecida e Goiânia vão protagonizar uma batalha épica em que as novas ferramentas e técnicas e artimanhas e tecnologias terão peso importante. Mas o que vai dar a última palavra mesmo é a boa e velha política. A do quem for mais forte, cospe aqui.
Estarei na arquibancada acompanhando tudo. Talvez, até use um boné do Pablo Marçal pra despertar os haters de todos os lados. Os caras são bons de submundo, vídeos pauleira, cadeirada e soco no estômago. Estarei a postos. Torcendo contra, a favor do espetáculo. Isso. Exatamente. Quem sou eu pra encarar tudo com a seriedade decida se nem o mais interessado na escolha de quem vai governá-lo pelos próximos quatro anos (pense nos últimos quatro, em Goiânia), que é o eleitor, se leva a sério na hora de votar? Uma maravilha. Imperdível.