A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad) interditou emergencialmente o aterro sanitário privado de Padre Bernardo, localizado no Entorno do Distrito Federal, após o desmoronamento de parte de uma pilha de resíduos sólidos urbanos na última quarta-feira (18). O colapso resultou no deslizamento de lixo até cursos d’água da região, com contaminação já confirmada no Córrego Santa Bárbara, que deságua no Rio do Sal.
A área afetada integra a zona de conservação da Área de Preservação Ambiental (APA) do Rio Descoberto e vinha operando sem licença ambiental desde 2019, apesar das autuações da Semad e das recomendações do Ministério Público Estadual e Federal. A empresa responsável, Ouro Verde Construções e Incorporações Ltda, obteve decisões judiciais favoráveis que permitiram a continuidade das atividades, mesmo diante de pareceres técnicos que apontavam irregularidades graves e risco de desabamento.
Durante vistoria no local, a secretária da Semad, Andréa Vulcanis, criticou duramente a interferência judicial nas ações técnicas do órgão. “Essa tragédia foi anunciada. O aterro operava em situação precária e havia alertas claros de instabilidade. As decisões que desconsideraram os pareceres ambientais agora revelam suas consequências”, afirmou. Ela destacou que a pilha de resíduos ainda apresenta instabilidade e pode desmoronar novamente.
A estrutura do aterro apresenta falhas como rachaduras, ausência de manutenção e uso de material inadequado para recobrimento. Técnicos identificaram a contaminação dos corpos hídricos vizinhos, embora o Rio Descoberto, responsável por parte do abastecimento de água do Distrito Federal, não tenha sido afetado até o momento.
Além do caso de Padre Bernardo, a Semad também alerta para os riscos envolvendo os aterros municipais de Goiânia e Aparecida de Goiânia, ambos funcionando sem licenciamento ambiental e com histórico de descumprimento de acordos firmados com o Ministério Público. A situação é agravada pelo modelo de operação em pilha piramidal, semelhante ao do aterro interditado.
A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) está atuando para reverter as decisões judiciais que ainda autorizam o funcionamento do aterro de Padre Bernardo. Já a Prefeitura do município informou ter solicitado providências legais à Semad para mitigar os danos ambientais. A empresa responsável pelo aterro não foi encontrada para comentar o caso.