Os primeiros dois meses de Sandro Mabel (UB) à frente da Prefeitura de Goiânia já escancararam seu estilo de gestão: com um quê de espetáculo e populismo, ele busca entregar resultados com um senso de urgência quase frenético. Cobra de sua equipe durante a madrugada e, às 4h da manhã, já tem agendas abertas para a imprensa. Esse ímpeto, no entanto, pode ser tanto sua maior virtude quanto sua maior fraqueza.
Durante a campanha, Mabel martelou o discurso direto: “Goiânia tem pressa” foi o seu principal slogan. E a cidade, de fato, tem. A população, desgastada após a gestão de Rogério Cruz (SD), enxerga na pressa do novo prefeito um alívio. Cruz nunca conquistou legitimidade aos olhos dos goianienses. Elevado ao cargo após a trágica morte de Maguito Vilela, sua administração foi marcada pela desconfiança. Sua fragilidade política ficou evidente no último pleito, quando terminou à frente apenas de Pantaleão (UB), cuja, com todo o respeito, sua candidatura era meramente simbólica.
Mabel soube capitalizar essa rejeição. Seu discurso de “terra arrasada” serviu de trampolim para se apresentar como o grande salvador da cidade. E, de fato, há sinais de que sua administração quer entregar mudanças concretas – mais do que promessas, o goianiense quer o básico funcionando: buracos fechados, ruas iluminadas, lixo recolhido e um atendimento digno na rede pública de saúde.
Recentemente, ao atravessar a Avenida Independência, no centro da cidade, me assustei com o breu que tomava conta da via. A sensação de insegurança era palpável. É esse tipo de problema que a população quer ver resolvido, e Mabel parece disposto a enfrentá-lo. O mesmo vale para a coleta de lixo e o caos no atendimento médico. A cidade precisa de soluções imediatas, e o prefeito se mostra ciente disso.
No entanto, a pressa pode ser inimiga da governabilidade. Ao bater boca com comerciantes e técnicos da saúde pública, Mabel transmite a impressão de que governa a cidade como se comandasse uma grande empresa. A diferença é que Goiânia não tem dono: é um bem público, e sua gestão exige diálogo e temperança.
E é aqui que o slogan da campanha começa a se virar contra ele. “Goiânia tem pressa”, mas a cidade também precisa de estabilidade. Se Mabel insistir na imposição de sua vontade sem diálogo, corre o risco de ser visto como alguém que grita com os mais fracos, mas cede aos poderosos. Servidores públicos já demonstram insatisfação e ameaçam reagir caso novos episódios de “abuso de autoridade” se repitam.
A equação é simples: se souber equilibrar sua pressa com respeito institucional, Mabel pode inaugurar um novo capítulo na administração municipal. Caso contrário, sua própria urgência pode se tornar o gatilho para seu desgaste precoce. “Goiânia tem pressa”, todos sabem, mas até quando Mabel conseguirá manter esse ritmo sem colapsar sua gestão?